Existe uma cena em “Elon Não Acredita na Morte” que incomoda o público na mesma medida que o surpreende. Elon, vivido pelo magnífico e hipnótico Rômulo Braga , arrota quando seu chefe lhe informa de sua demissão. Quanto o repórter diz a Braga que este é “o melhor e mais significativo arroto da história do cinema”, ele cai na gargalhada. Comovido com o elogio, Braga aceita o viés analítico: “é o arroto de todos nós”.

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Cena de Elon Não Acredita na Morte
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Cena de Elon Não Acredita na Morte

No filme de Ricardo Alves Jr , Rômulo vive Elon, um vigia noturno imerso em uma aflitiva busca pela mulher desaparecida. Madalena (Clara Choveaux) sumiu sem deixar vestígios e o protagonista vasculha todos os lugares em que crer ser possível ela ter se refugiado. “A ideia do filme veio em 2012, quando eu estava fazendo um curta-metragem e o rapaz, chamado Elon, me disse que não acreditava na morte”, relata Alves Jr. “Daí me propus a pensar uma história a partir daquela frase”. “Elon Não Acredita na Morte” enfrentou muitas dificuldades para ver a luz do dia.

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“O roteiro é simples e eu tive dificuldades de inscrevê-lo em editais”, revela o diretor. De fato, trata-se de um filme em que fundamentos como direção, atuação e fotografia sobrepujam o roteiro.  “É para fazer Hitchcock se revirar na tumba”, provoco e Alves Jr. que devolve com elegância: “Acho que esse filme conjuga bem todos os fundamentos do cinema. O roteiro não descrevia a totalidade do filme”, observa.  “Logo percebemos que os diálogos nos dariam a visão de outros personagens sobre Elon e isso é algo pensado já no roteiro”. O cineasta diz que seu longa permite interpretações distintas e esse é o tipo de dramaturgia que tem em grande estima.

Voltando ao arroto, que não estava no roteiro, “é quase um foda-se” e isso diz muito sobre o filme que é o primeiro longa-metragem de Alves Jr., mas confirma a ascensão de Braga que já brilhara em “Sangue Azul” (2014), “O Que se Move” (2013) e “A Hora e a Vez de Augusto Matraga” (2011). Elon foi um elo durante muito tempo entre Braga e Alves Jr. Foi ao dirigir Braga em uma peça baseada em Ingmar Bergman que o diretor pensou nele para Elon, mas deixou o ator namorando o personagem antes de definir tudo. “Depois que eu peguei o papel, a relação com o personagem se desconstruiu”, observa Braga.

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Cena de Elon Não Acredita na Morte

O ator diz que vê Elon, que a todo tempo afronta a percepção que o público vai formando dele, como “um ser humano que amava muito uma pessoa e não consegue lidar com a falta que ele sente dela”.  Braga reitera que gostou do desafio de compor o personagem. “Achei muito bonito do ponto de vista da construção cênica”. Ele entende que Elon dialoga com o público em dois níveis. Um, simbólico, que permite uma identificação ampla com seu drama; outro, realista, em que nos posicionamos como juízes do personagem.

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“Elon Não Acredita na Morte” ganha potência dramática e todo um novo contexto a partir de uma cena de sexo explícita e totalmente desamarrada. “Essa cena não existiria se os atores não acreditassem que ela fosse necessária para dimensionar os personagens”, observa o diretor. “Ela passa uma ideia de concretude muito forte”. É a partir dessa cena que o filme se abre de vez para o olhar do espectador.

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