O primeiro longa-metragem de Ricardo Alves Jr . é um baque. “Elon Não Acredita na Morte” é um filme que provoca o espectador constantemente a partir da jornada incauta de seu protagonista. Elon (o fantástico Rômulo Braga) é um vigia noturno em busca de sua mulher desaparecida.
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À medida que o filme avança o público vai se instigando mais. Afinal, o que pensar dessa história de amor que se enuncia como um thriller? Madalena (Clara Choveaux) está morta? Fugiu de Rômulo? Ele é um marido abusador? Atencioso? “Elon Não Acredita na Morte” não acredita em respostas fáceis. O filme situa seu público por meio do olhar dos personagens que gravitam Elon nessa busca cada vez mais ruidosa e menos esperançosa.
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Alves Jr. realiza um filme de tato, de sensorialidade e justamente por isso as opções estéticas importam. E muito. A câmara no cangote de Rômulo, assumindo seu ponto de vista, mas também o assombrando, é providencial para esse registro. A fotografia de Matheus Rocha, que também assina a direção de câmera, é soberba. O uso da luz é a própria metaforização da jornada de Elon, que começa na penumbra e se debate para encontrar a luz, sua Madalena.
Conforme vamos acompanhando o personagem, mais desconfiamos dele, mas mais nos fascinamos por ele. Rômulo Braga assume um personagem e tanto e um personagem que só poderia ser defendido por alguém despido de preconceitos e cioso por desafios. Elon se apresenta como um enigma e é um enigma físico. Há pouca verbalização nele. Pouco espaço para inflexões intelectuais, mas muito para intuição. É com ela que Braga tateia Elon e a ela que o público precisa recorrer para decifrá-lo, ou pelo menos tentar.
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“Elon Não Acredita na Morte” é um filme que não se resolve, por assim dizer. Há camadas e camadas que permitem intermitências filosóficas, cinematográficas, mas também sobre o amor. E é justamente esse senso de incompletude, de abstração, que faz dessa estreia de Ricardo Alves Jr. algo tão forte, concreto, perene. Cinema de raiz.