Fonte recorrente de inspiração para criação de universos ficcionais, a cultura oriental é utilizada há muitos anos como um baú de tesouros para desenvolver histórias e personagens que orbitam em torno da magia, misticismo, espiritualidade, segredos, lendas e artes marciais – e é essa origem em comum para seus poderes que une Doutor Estranho e Punho de Ferro, ambos da Marvel, em uma mesma categoria de super-herói. Os dois personagens buscam desvendar os mistérios do universo através de uma longa jornada pelos mistérios da sabedoria asiática.
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Não são poucos os personagens de histórias em quadrinhos que, em alguma medida, beberam na “fonte mítica” que envolve algumas características da cultura oriental: além dos já citados Doutor Estranho e Punho de Ferro , outros como Ozymandias , da série “ Watchmen ”, Doutor Destino e Katana , de " Esquadrão Suicída " também compartilham essa parcela de suas histórias. Nenhum deles nasceu com poderes, mas se tornaram super-heróis a partir de eventos que os levaram em uma viagem sem volta para dentro desse universo que, na visão ocidental, é tão obscuro e desconhecido.
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Todos eles, em alguma medida, entram em contato com esse lado mágico do oriente como desfecho de suas vidas. Doutor Estranho descobre a filosofia do Ancião Antigo e domina seus poderes, Punho de Ferro para por um intenso treinamento de artes marciais e sabedoria para conquistar sua verdadeira força, Ozymandias tem revelações místicas ao ter contato com uma civilização oriental, Doutor Destino é possuído por um antigo faraó e Katana extrai sua motivação de uma espada possuída pela alma de seu marido falecido. Outro ponto comum de suas histórias é o passado trágico – seriam, então, mistérios do oriental um escape para uma espiritualidade esquecida pelo ocidente?
Reforçando um clichê?
O apelo desse tipo de história é indiscutível – e o sucesso desses personagens com o público comprova a ideia de que, sim, as pessoas gostam e estão dispostas a ver essa abordagem. O filme “Doutor Estranho” faturou mais de US$ 677 milhões em todo o mundo e foi indicado em uma categoria do Oscar, ou seja, o espaço para as narrativas que se aproveitam desse misticismo está aberto.
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Entretanto, nem todos são tão entusiastas dessas histórias: o jornal americano Los Angeles Times em um editorial criticou esse viés reducionista que a cultura pop se apropria para vender uma imagem “exótica” da Ásia . A autora do texto Noah Berlatsky apontou a falta de protagonistas orientais e que toda uma cultura é utilizada apenas como depósito de magias é um problema que assombra esses personagens – que apenas “usam e descartam” o local. Um exemplo para mostrar essa discrepância são os “ Power Rangers ” que, ao invés de se apoiarem no misticismo, focam em aspectos urbanos e tecnológicos do Japão.
Onde estão os personagens orientais?
Eles ainda são meio tímidos e somente os fãs mais fanáticos conhecem suas histórias, mas as editoras de quadrinhos estão começando a diversificar mais sua gama de super-heróis: os “ X-Men ” recentemente ganharam a adição de uma nova mutante, a afegã Sooraya, vinda diretamente do Oriente Médio. Quando o olhar amplia-se para China, Japão e Vietnã a variedade de heróis é ainda maior, porém quase todos são secundários ou não são reconhecidos, como, por exemplo, Lady Shiva , uma das assassinas mais temidas da DC Comics , mas que não passa de coadjuvante do Batman. Será que está na hora de investir menos em personagens como o Punho de Ferro e começar a descobrir a real face da cultura oriental ?