Neste domingo (26) o mundo vai prestar mais atenção do que o habitual na grande noite do cinema, aquela em que é realizada a cerimônia de entrega do Oscar. A 89ª edição dos prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas acontece em um momento de grande agitação cultural nos Estados Unidos com um presidente impopular, que polariza a opinião pública e afronta a imprensa. Predominantemente liberal, Hollywood terá os holofotes sobre si para medir o tom do antagonismo que pretende estabelecer contra Donald Trump.
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Um ano depois de ser rechaçada e fortemente criticada por não indicar artistas negros aos prêmios principais, a academia oferece o Oscar mais diverso de sua história. Pela primeira vez um homem negro está indicado às estatuetas de direção, roteiro e produção. Barry Jenkins pode fazer história por “Moonlight: Sob a Luz do Luar” . É a primeira vez, também, que há intérpretes negros indicados em todas as categorias de atuação.
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Três filmes de artistas negros sobre o que é ser negro nos EUA (“Moonlight”, “Estrelas Além do Tempo” e “Um Limite Entre Nós”) concorrem a melhor filme e três documentários problematizando o preconceito racial (“Eu Não Sou Seu Negro”, “O.J: Made in America” e “A 13ª Emenda”) disputam a estatueta da categoria. Não obstante, “Lion: Uma Jornada para Casa” mostra a trajetória de um menino indiano adotado por um casal australiano. A academia se abriu para a diversidade e para o diálogo. Indicado a oito Oscars, a ficção científica “A Chegada” é um elogio do diálogo e em tempos tão tensionados e talvez seja a surpresa que a Academia devesse ao mundo.
Tom político
Jimmy Kimmel será o apresentador da cerimônia que promete ser a mais politizada desde 2003, quando George W. Bush conduzia os EUA para uma invasão militar no Iraque. Coincidentemente, naquele ano como nesse um musical era o “filme do ano”. “Chicago” concorreu a 13 estatuetas e levou seis. “La La Land: Cantando Estações” recebeu 14 nomeações em 2017 e deve ganhar entre nove e dez troféus.
O filme de Damien Chazelle parece mesmo um ponto fora da curva em um ano tão intenso. Os dramas “Manchester à Beira-Mar” e “Moonlight” parecem filmes mais afeitos a este momento. O musical, no entanto, apela ao ego de Hollywood, no mesmo compasso em que é um romance diferentão, meio hipster mesmo, e com todo o hype já construído é muito difícil que a Academia não consagre “La La Land” – ainda que “Moonlight” tenha ganhado projeção em meio aos últimos dias de votação.
Tendências e cobranças
Casey Affleck foi durante muito tempo o favorito ao Oscar de melhor ator. Na esteira de denúncias de assédio sexual que pesaram contra ele no passado, recuperadas no curso da temporada, viu crescer o favoritismo do prestigiado e querido Denzel Washington por “Um Limite Entre Nós”. Washington pode igualar os feitos de Daniel Day Lewis e Jack Nicholson com três Oscars. Ele já é o ator negro mais indicado da história da premiação.
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Pode não parecer, mas é uma sinuca a que a Academia se encontra. Se eventualmente premiar Affleck, que detém o melhor trabalho do ano, pode ser atacada por privilegiar um “abusador” em detrimento de um “ator negro”. Não seria uma manchete simpática depois de todo esforço da presidente da instituição, Cheryl Boone Isaacs, por uma agenda positiva.
Na outra categoria principal de atuação, a Academia pode seguir uma tendência histórica de premiar jovens estrelas hollywoodianas ao agraciar Emma Stone (“La La Land”), favorita que já ganhou Bafta, SAG, entre outros. No entanto, pode optar pelo talento da francesa Isabelle Huppert (“Elle”) e mandar uma importante mensagem em prol da globalização nestes tempos em que Trump prega o isolacionismo.
Outra categoria receptiva a este raciocínio é a de filme estrangeiro. Em que muita gente acredita que o favorito declarado, o alemão “Toni Erdemann” pode ser derrotado pelo iraniano “O Apartamento”, cujo diretor Asghar Farhadi está impossibilitado de comparecer à cerimônia em virtude do banimento de Trump. Ele avisou que não viria de todo jeito e viu crescer consideravelmente a força de seu filme entre gente influente em Los Angeles. Farhadi, vale lembrar, ganhou em 2012 com “A Separação”. Se vencer, junta-se a gente como Federico Fellini e Ingmar Bergman com mais de uma vitória na categoria.
Será um Oscar com muitos atrativos e potencialidades, a despeito da certeza quase que incorruptível de que “La La Land” se juntará à galeria dos grandes vencedores da história dos prêmios da Academia. O canal pago TNT transmite a partir das 21h.