É a primeira vez que a categoria de melhor atriz coadjuvante tem três atrizes negras nomeadas. É justamente esta a categoria mais receptiva à vitória de atrizes negras. Foram quatro nos últimos nove anos. Jennifer Hudson em 2007, Mo`Nique em 2010, Lupita Nyong’o em 2014 e Octavia Spencer em 2012. Esta última, vitoriosa por “Histórias Cruzadas” volta à disputa este ano por “Estrelas Além do Tempo”. Filme e performance são muito parecidos com os que lhe valeram o triunfo, mas dessa vez há uma força da natureza que atende pelo nome de Viola Davis .
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A protagonista da série “How To Get Away With Murder” tem ganhado todos os prêmios possíveis e imagináveis por sua atuação em “Um Limite entre Nós” , de Denzel Washington. Ao receber a indicação ao Oscar em 2017, Viola Davis conquistou outro feito notável: tornou a primeira mulher negra ostentar três indicações ao prêmio da Academia. As outras foram por “Histórias Cruzadas” (2011) e “Dúvida” (2008). Paira sobre sua candidatura àquela incômoda contestação de que se trata de uma protagonista concorrendo como atriz coadjuvante . Ano passado, a vencedora Alicia Vikander (“A Garota Dinamarquesa”) passou pela mesma coisa.
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Caprichos de estúdios e da Academia à parte, Viola Davis parece mesmo indomável em 2017. Acumulando vitórias no Globo de Ouro e no Emmy por seu trabalho na TV e defendendo uma personagem que já lhe valeu o Tony no teatro, o Oscar parece indesviável em uma carreira que não parece conhecer limites de consagração. Em 2015, Viola tornou-se a primeira atriz negra premiada com o Emmy de atriz principal.
Não adianta fugir. No ano seguinte ao #oscarssowhite, a presença de três atrizes negras nesta categoria que parece ter resistido ao longo dos anos ao impulso branqueador verificado em outras categorias é sintomático. Naomie Harris , hipnotizante como a mãe drogada do protagonista de “Moonlight” talvez lembre outra performance vitoriosa aqui, a de Mo’Nique em “Preciosa”, mas Harris é a melhor entre as indicadas de 2017.
O Oscar navega entre lugares-comuns, hypes e qualidade. Eventualmente eles confluem e em 2017, nessa categoria, Viola Davis parece a candidata mais alinhada às expectativas de dentro e fora da indústria.
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Além da cor da pele
Nicole Kidman não recebia uma indicação desde 2011, quando fora indicada a melhor atriz por “Reencontrando a Felicidade”. Nomeada por “Lion: uma Jornada para Casa”, em que vive uma mulher cheia de amor, mas inevitavelmente afetada pelo amargor que acometem às mães impossibilitadas de resolver os problemas e traumas de seus filhos adultos. É uma atuação tão vigorosa e responsável pela base emocional de “Lion” e o expectador nem mesmo se dá conta disso. Mas Nicole Kidman não tem qualquer chance no Oscar que sucede o infame #oscarsowhite.
Tampouco tem Michelle Williams, soberba em “Manchester à Beira-Mar”. Em sua quarta indicação ao Oscar, a atriz era apontada como favorita lá em setembro, antes de Viola entrar na disputa por atriz coadjuvante. Fora o desempenho de Octavia Spencer, talvez a companheira de elenco Janelle Monáe merecesse mais a vaga, são trabalhos pulsantes, emocionais e que merecem a celebração da indústria independentemente da tentação persistente de valorar tudo pela cor da pele.