Clarisse Abujamra fala com entusiasmo da cultura. Aos 69 anos e com o extenso currículo de contribuições à arte e cultura brasileiras é reconfortante descobrir nela o entusiasmo e ansiedade vislumbrados no bate-papo dela com a reportagem do iG às vésperas da estreia da nova, e curta, temporada de “Cenas de uma Execução” no Espaço Parlapatões em São Paulo.
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“O texto é assim, uma coisa de babar”, derrete-se Clarisse Abujamra ao falar de seu retorno à peça, que dirige, produz e protagoniza, além de assinar a adaptação da obra do britânico Howard Barker. A peça fica em cartaz entre 14 de janeiro e 5 de março, sempre aos sábados (21h) e domingos (20h). “Barker faz um embate entre a arte, o poder, a influência da crítica e o amor”, observa a atriz ao falar sobre a contemporaneidade do texto que se comunica, inclusive, com o feminismo tão em carne viva na atualidade.
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“Cenas de uma Execução”, baseado em fatos reais, conta a terrível batalha de Lepanto, em 1571 quando a Liga Santa venceu o Império Ortomano, batalha esta que representou o fim da expansão islâmica no mediterrâneo. A vida da grande pintora Artemísia Gentileschi é o eixo central da história. Na pena do polêmico autor inglês Howard Barker, ela se torna Galactia, a pintora que desafia seu tempo e provoca o poder a repensar sua autoridade.
A Veneza do século XVI se torna o cenário para uma tensão atemporal entre a ambição pessoal e a responsabilidade moral. Em cena o humor, a ironia, a sensualidade, a história de amor entre dois pintores, o embate de gerações e o amor à arte.
“Essa mulher que era chamada de caravaggiana foi violentada, hostilizada... tudo por causa da sua ousadia na pintura”, salienta Abujamra sobre Artemísia Gentileschi. “A Galactia, personagem que é a Artemísia, é louca, mas louca no sentido de ousada, de transgressora. Isso traz uma revolta e a igreja começa a interferir”. Isso porque chamada a fazer um quadro comemorativo, Galactia pinta os horrores de um massacre sangrento, o que afronta a narrativa da igreja. “O fascinante desse espetáculo é porque ele é todo em cima da execução do quadro e a plateia não vê o quadro uma vez sequer”, observa.
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Para Clarice Abujamra essa opção impõe ao público que atue na construção do sentido da peça. “Chama teu imaginário”, diz a atriz ao tecer mais um elogio à força do teatro inglês, “o teatro da palavra”.
Créditos
Texto - Howard Barker
Direção Geral – Clarisse Abujamra
Personagens e elenco
Galactia, uma pintora – Clarisse Abujamra
Carpeta, um pintor – Evas Carretero
Urgentino, o Doge de Veneza – Oswaldo Mendes
Suffici, o almirante – Mauricio de Moraes
Rivera, uma critica de arte – Malu Bierrenbach / Lara Córdula
Ostensibile, o Cardeal – Roberto Ascar
Prodo, um veterano – Fabio Acorsi
Supporta, filha de Galactia – Amazyles de Almeida
Dementia, filha de Galactia – Priscilla Castelo Branco
O Caderno de Esboços (locução) – Leopoldo Pacheco
Figurino - Leda Senise
Assistente de figurino – Marcos Veniciu
Trilha Sonora – André Abujamra
Assistente de Direção – Vivien Buckup
Projeto de Luz - Wagner Pinto
Curadoria Artística – Kika Goldstein e Federico Guerreros
Programação Visual - Ivan Abujamra e Antonio Fagundes Neto
Assistente de Produção – Priscilla Castelo Branco e Marina Gebara
Produção Executiva - Yara Leite e Adriana Amorim
Produção – Clarisse Abujamra Produções Artísticas