O caso de corrupção envolvendo os irmãos Bastita , Joesley e Wesley , donos da empresa JBS e de tantas outras, foi amplamente noticiado e quando a delação premiada veio à tona o escândalo atingiu até o então presidente Michel Temer .
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Todo o caso informado pela mídia já nos dava uma noção do tamanho de tudo aquilo, mas após terminar a leitura do livro escrito pela jornalista Raquel Landim (Ed. Intrínseca) e ter tido sensações de embrulhar o estômago por diversas vezes, a percepção de que as camadas são muito mais profundas é inevitável.
Raquel levou dois anos para a produção do livro. Pesquisou, entrevistou pessoas de diversas escalas e a obra precisou de atualizações que perduraram mesmo após o fechamento da escrita: “A apuração das histórias, no entanto, continuou durante todo o processo porque esta é uma história ainda em construção. Na última semana antes do livro ir para a gráfica, o ex-presidente Michel Temer foi preso e tive que atualizar o epílogo”.
Ao meu ver a corrupção é o grande centro do problema do país, pois são milhões desviados para benefício próprio que poderiam atender às necessidades daqueles que realmente necessitam: o povo. As cifras pagas nas propinas relatadas nas delações dos irmãos Batista são valores que parecem irreais: São milhões para um, mesada para outros, outros milhões para facilitar compra de terra. É realmente assustador.
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E não é só assustador para quem lê, mas para a autora e experiente repórter também não foi fácil ler e apurar tudo sem sentir-se em choque: “Como repórter acompanhei esta e outras histórias de corrupção. Ainda assim ao me embrenhar na apuração fiquei impressionada com a mistura entre o público e o privado em que um empresário atua como articulador político apesar de todo o conflito de interesses”.
Raquel conseguiu manter uma escrita leve mesmo para um tema pesado. Construiu uma cronologia que se faz entender aos que já são familiarizados com o assunto e os que pretendem entender o caso da JBS. É muito interessante como uma família simplória do interior de Goiás conseguiu transformar seu patrimônio em um império e corromper tantas pessoas das esferas pública e privada.
Curioso também é o nome do livro, uma referência ao iate comprado por Joesley por uma bagatela de R$10 milhões que ele batizou de " Why Not ". E esse termo nos faz refletir sobre tantas atitudes demonstradas através da delação dos irmãos Batistas, que pareciam não ter limites para alcançar o que desejavam.
Confesso que essa leitura me fez ampliar, e muito, minha ideia sobre o que é a corrupção no Brasil e no quanto ela atinge camadas distintas. O “buraco” é muito, mas muito mais profundo do que podemos acreditar.
As operações, como a Lava Jato , ainda estão em andamento e o caso da JBS ainda tramita. Que a justiça prevaleça e aconteça em todos os casos.
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Sobre Raquel Landim
Raquel Landim é formada em jornalismo pela USP, com passagens pelos principais jornais do país. Participou da equipe fundadora do Valor Econômico e adquiriu o gosto pela cobertura de negócios na editoria de Economia de O Estado de S. Paulo . Desde 2013 é colunista da Folha de São Paulo , integrando o grupo de repórteres seniores da publicação.
Incentivada pelos pais a ler desde pequena, Raquel adquiriu gosto pelos livros reportagens e livros de negócios, e para os leitores da coluna deixa como dica de leitura “Barbarians at the Gate” (sobre o fundo de private equity KKR), “Too big to fail” (sobre a crise bancária de 2008) e “The everything store” (sobre a história da Amazon).
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