Peça fala das relações sociais e institucionais
Reprodução/Prisicila Prade 13.10.2022
Peça fala das relações sociais e institucionais

Escrita pela dramaturga inglesa Nina Raine, a tragicomédia “Consentimento” chega ao Brasil sob a direção de Camila Turim e Hugo Possolo trazendo no centro da história a violência contra a mulher, escancarando os conflitos sobre consentir quando o algoz é alguém próximo. 

Ed (Flávio Tolezani) e Kitty (Camila Turim) recebem os amigos Jake (Sidney Kuanza) e Raquel (Helô Castilho) para conhecer o recém-nascido Léo e a casa nova. Em suas conversas sobre trabalho revelam sua capacidade retórica assumindo as vozes de seus clientes. Do ambiente doméstico, a cena é transportada ao tribunal, onde Tim (Gui Calzavara), amigo do grupo, conhece Gayle (Lisi Andrade), uma mulher vítima de estupro. 

Tim é promotor e vai defender Gayle, enquanto Ed é o advogado de defesa do acusado. Essa dinâmica entre tribunal e cenas no apartamento serão alternadas enquanto o debate sobre moral e patriarcado vão acontecendo. 

A disposição do palco também é proposital para que exalte ou diminua o falante. Em momentos em que o personagem está expondo seus conflitos, ou inseguranças, ele se posiciona em um declínio que há no palco, e se coloca em uma posição inferior aos demais. E quando ele está em “vantagem” sobre o outro, ele sobe um patamar e se coloca em uma posição mais elevada. 

No contraponto das cenas os casais tentam aproximar Tim de Zara (Anna Cecília Junqueira), uma atriz, amiga de Kitty, que busca um parceiro para ter filhos, expondo também a fragilidade dos encontros e relações. 

Embora seja um texto escrito por uma estrangeira “Consentimento” revela muito do patriarcado brasileiro e da cultura machista que o Brasil ainda padece. O estupro é sempre visto com desconfiança pela sociedade, onde a vítima é confundida como facilitadora ou provocativa do crime. 

“É um dos textos contemporâneos mais brilhantes que já li, uma peça que consegue ser impactante, contundente, dolorosa, afiada e divertida. É como se pudéssemos vivenciar as contradições de uma geração que hoje chega aos 40 anos refletindo sobre o espírito do nosso tempo. É, também, pessoalmente uma peça em legítima defesa. Minha terceira produção sobre uma das últimas instâncias das violências que o corpo da mulher atravessa: o estupro”, comenta a diretora Camila Turim.

No Brasil o crime de estupro cometido por pessoas próximas, como parentes ou amigos da família, em inúmeros casos, é acobertado e sequer denunciado às autoridades. A peça causa uma certa angústia em muitos momentos porque nos coloca em um papel de observador da nossa sociedade. Muitas falas ali reproduzidas nós já ouvimos em algum contexto real de nossos dias. 

A peça fica em cartaz até 06 de novembro no Sesc Belenzinho, em São Paulo. 

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