Poucos eventos na história tiveram um impacto tão avassalador como a Revolução Francesa, cujos efeitos foram duradouramente sentidos nos quatro cantos do mundo.
Assim, não causa surpresa que historiadores e intelectuais dos mais diversos campos das humanidades tenham se dedicado a estudá-la, ou que o país onde ocorreu tenha criado, em uma de suas mais ilustres instituições, a Sorbonne, uma cátedra dedicada especificamente à Revolução.
Um desses catedráticos foi o historiador Michel Vovelle, que traz neste Combates pela Revolução Francesa, lançamento da Editora Unesp, escritos produzidos por ele quando dos preparativos para a celebração do bicentenário da Revolução, comemorado em 1989, e lançados como coletânea por ocasião da aposentadoria do catedrático.
Os artigos, comunicações e ensaios coligidos nesta edição foram selecionados pelo autor não apenas por seu valor científico, mas ocasionalmente também por seu caráter polêmico ou mesmo por seu “calor”, uma vez que, para o historiador, a Revolução Francesa é um evento “ardente”, não encerrado.
“Persuadido de que a historiografia da Revolução Francesa deve mudar para responder a novas interrogações, parte pessoalmente interessada nas empreitadas de minha pesquisa como nas daquelas que pude instigar, contribuí com meu ponto de vista, recusando todo dogmatismo, mas cioso em dizer onde se encontram, para mim, os caminhos do futuro, assim como em assinalar seus impasses, em denunciar os empreendimentos aventureiros em um contexto em que não eram poucos os que sonhavam em dar um fim, de uma vez por todas, à inoportuna lembrança da Revolução”, ressalta Vovelle.
A obra divide-se em cinco grandes eixos. No primeiro, o historiador revisita o panteão dos grandes nomes que escreveram essa história ainda em andamento, apresentando brevemente a vida e a obra dos intelectuais que passaram pela cátedra desde sua criação, às vésperas da celebração do primeiro centenário, como Alphonse Aulard e Georges Lefebvre.
No segundo, abrange algumas das áreas mais importantes da história revolucionária: cultura, mundo rural, relações com o restante da Europa, entre outras. Já o terceiro e o quarto trazem os debates a que Michel Vovelle se dedicou nos campos de sua preferência: mentalidades e imagens. O último eixo levanta questões políticas sobre as quais o historiador se viu obrigado a tomar partido.
Em momentos como o atual, em que avançam o dogmatismo e o obscurantismo, é mais do que nunca importante travar um combate pela história, e isso, como diz o autor, é também “travar um combate pela Revolução”.
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