"Muito humor, criatividade e união familiar para driblar a crise financeira." Esse é mote de "Se Avexe Não", da Orla Filmes, que estreou na programação da TV Brasil (EBC), no último dia 6. A série mostrará, ao longo de 10 episódios semanais (sempre às quartas-feiras, às 21h), os membros da família Nobre se aventurando nas mais variadas atividades profissionais, a fim de resolver os impasses que os obriga a voltar a viver sob o mesmo teto, gerando divertidas discordâncias.
A obra é inteiramente gravada em Fortaleza e conta com 100% do elenco regional. Inclusive, o lançamento ocorreu em 27 de fevereiro, com uma "projeção popular" no tradicional Cinema São Luiz, na capital. Ciente disso, a coluna Marcelo Bandeira, do iG Gente, conversou com os roteiristas Luciana Vieira, Wislan Esmeraldo e Victor Costa Lopes para tentar "destrinchar" os bastidores do audiovisual. Confira os melhores momentos da entrevista!
1. Como é poder levar conhecimento e apresentar artistas cearenses para todo o Brasil?
É extremamente excitante. A forma como vemos a sociedade, obviamente, é influenciada pela tradição do lugar em que nascemos e moramos. Claro que não nos interessa construir o conceito de um Ceará exótico e dissociado desse mundo, mas é inegável que o contexto em que vivemos nos dá condições de originar uma arte específica, com uma pegada única.
Pertencemos à cidade do sol, onde as cores são vibrantes, o mar é verde, e o povo consegue misturar bem a diversão com o deboche. É impossível desassociar isso da nossa criação artística.
Ao mesmo tempo, contar com atores e atrizes locais para interpretar essa noção sobre a vida é garantir uma espécie de fidelidade e naturalidade ao que escrevemos como idealizadores.
Sem muito esforço, todos sabemos do que estamos falando. E produzir isso conjuntamente, numa espécie de simbiose entre a direção e o restante do grupo, é uma maneira de divulgar com profundidade e originalidade um modo de observar o que existe no universo.
2. De onde surgiu a vontade de transformar a instabilidade econômica pela qual a maioria da população passa em uma comédia brasileira?
Quando a gente encena o aperreio a partir do que faz graça, damos voz à própria capacidade criativa. No fundo, é uma homenagem à nossa forma de resistir, de expandir a visão particular acerca da existência, de elaborar as dores e, ainda, de imaginar umas ideias loucas para lidar com os revezes. Já que o mar não está para peixe, vamos ao menos nos entreter, né, não?
3. E qual o diferencial da comicidade de vocês?
Na série, como aposta, o nosso foco está nas situações. Estamos menos preocupados com a anedota, com o trocadilho, e mais interessados em enxergar jocosidade em como os personagens reagem aos fatos inusitados que poderiam acontecer no dia a dia de qualquer um.
Dentre essas ocorrências, estão: transferir um Pix errado, ser pego numa blitz estando com excesso de passageiros ou mesmo não conseguir dar descarga no banheiro da casa do crush. É o famoso: "Como reagiria se estivesse vivendo isso?".
4. Além do tema da pindaíba, o que mais se pode esperar?
Apesar de ser uma temática central, nem tudo gira em torno dos assuntos monetários. Uma das tramas que mais nos divertem, por exemplo, tem a ver com o dia em que a protagonista precisa apresentar a sua família para a da namorada. Selma tenta controlar tudo para que eles pareçam normais, porém não consegue. O fim do episódio é divertidamente chocante (risos).
5. Como é fazer um seriado independente no país?
Exige paciência (risos)! Ele passou a ser criado em 2017, foi inscrito na Ancine/FSA/BRDE em 2018, contemplado em 2020 e lançado em 2024. No meio desse processo, entramos na justiça para liberar o dinheiro porque, por motivos políticos, queriam cancelar o edital. Vencemos o processo e finalmente filmamos em 2022, em meio à pandemia.
São seis, quase sete anos, entre o momento em que começamos a dar sentido a ele e a data na qual pudemos compartilhá-lo com o público. Para realizar o improvável, tivemos que afirmar para nós mesmos "se avexe não" (risos) e confiar em nossa intuição.
6. Quais são as expectativas? Dá para elencá-las?
Inúmeras. Entretanto, a mais cara e importante de todas é o desejo intenso de que o espectador genuinamente se divirta e se identifique com os papéis. Entendemos que o que provirá disso é apenas resultado desse sonho principal.
De toda maneira, se há um desejo concreto, é que os talentos envolvidos (estejam eles na frente ou atrás das telas) tenham seu valor reconhecido e revertido em oportunidades posteriores em rede nacional.
7. Será que teremos uma próxima temporada?
É tudo que queremos. Estrategicamente pensamos num formato que renda oito, dez, vinte edições. A receptividade do carisma é que vai dar essa resposta. No que depende de nós, podemos afirmar: desejamos de todo o coração criar sempre confusões para a família Nobre e os membros dela que orbitam ao seu redor.