O autor deixou sua filha encarregada de preservar seu legado
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O autor deixou sua filha encarregada de preservar seu legado

No dia 14 de março, Manoel Carlos comemorou seu aniversário de 91 anos e segue afastado dos holofotes desde 2014. O autor foi diagnosticado com Parkinson e deixou uma missão para Júlia Almeida, sua filha com Elisabety, preservar seu legado. A herdeira do escritor assumiu a produtora Boa Palavra e tem organizado mais de sete mil caixas com sinopses inéditas e livros: "Ele quer que o trabalho dele continue para as outras gerações".

"É uma doença tratável. Ele está muito bem assessorado por médicos e tem acompanhantes. Está sendo cuidado direitinho, tem minha mãe ao lado dele. Ela se aposentou junto com ele (...) A partir daí, me deram essa missão, que estou assumindo com muita responsabilidade e amor. O que ele quer mesmo é que o trabalho dele continue para as outras gerações. Eu entendi o que foi passado para mim", explicou à colunista Anna Luiza Santiago, do jornal O Globo.

"No começo do ano passado, meu pai sentou comigo e explicou que estava aposentado, minha mãe também. Ele quis as coisas dele organizadas. Estava uma bagunça. Fui criada vendo meu pai e minha mãe trabalhando juntos, como parceiros, criando e construindo esse legado (...) Minha missão é reunir esses arquivos todos, não só os que já viram, porque tem muita coisa nova, e fazer com que a nova geração tenha acesso à marca do Manoel Carlos. Ele está deixando um legado muito importante para o nosso país, não só para a história da televisão brasileira, mas para todos nós", acrescentou.


"Essa coisa que ele criou de colocar a Bossa Nova junto com o Leblon. Ele mudou a estrutura do bairro. Até hoje é tão misterioso o porquê das Helenas... Tem as histórias das famílias, as causas sociais em todas as novelas. Minha missão é trazer isso para o universo de hoje", concluiu. Entre eles, estão Felicidade (1991), Por Amor (1997), Laços de Família (2000), Mulheres Apaixonadas (2003), Páginas da Vida (2006), Viver a Vida (2009) e Em Família (2014).

A filha de Manoel Carlos ainda contou que está preparando uma biografia sobre o pai, que deve ser lançada somente em 2025: "Cada projeto vai ser pensado de uma forma, com calma. Pode ser um filme, pode ser uma série. Pode ser que alguém desenvolva ali em cima uma história. A ideia é pensar em cada sinopse e obra inédita de uma forma singular. Sempre mantendo a raiz dele, mas, claro, tem que ter a linguagem dos dias de hoje".

"Meu pai ficou muito conhecido pelas novelas, mas tem muito mais por trás disso. Ele foi ator, diretor do Fantástico, produtor. Fez livros de poema. Ele transitou por tudo até chegar a escritor de novelas. E aí tem, claro, o Manoel Carlos como pai, como amigo. O porquê de ser tão querido neste meio (...) Ele é querido não só por ser o Manoel Carlos que abriu tanto espaço para os diálogos dentro das famílias. Acho que o público tem uma gratidão muito grande. Ele entrava na casa das pessoas e abria diálogos que a mãe não conseguia ter com o filho", apontou.

"Ele entendeu o poder da TV, falou sobre câncer, síndrome de Down, sexualidade, prostituição, racismo... Foi a primeira pessoa a colocar uma protagonista preta [ na novela das nove]. Fez beijo gay. Isso tem uma importância para o nosso país, é fundamental. A Helena morava no Leblon, mas ele falava com o Brasil inteiro", completou.

Júlia Almeida ainda relembrou a reação do escritor ao tomar conhecimento que seria tema de um dos episódios da série Tributo, do Globoplay: "Ele não sabia que ia acontecer, não foi convidado. Foi uma surpresa porque foi no dia do aniversário. A gente ficou sabendo por terceiros. E aí fomos sabendo em pedaços. Ele sentiu muita falta da Regina [Duarte] e do Zé [José Mayer] no documentário. Ele agradeceu a todos os amigos que ficou sabendo que participaram, mas ele não assistiu, foi decisão dele. Eu achei lindo, fiquei emocionada. Agradeço muito a todos (...) Eu não sei há quanto tempo estava sendo gravado. Acho que ele teria topado [gravar um depoimento]. Teria pelo menos colocado o dedinho dele de alguma forma ali. Mas foi muito bem-feito".

*Texto de Júlia Wasko

Júlia Wasko é estudante de Jornalismo e encantada por notícias, entretenimento e comunicação. Siga Júlia Wasko no Instagram: @juwasko

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