O ex-jogador de futebol Marcelinho Carioca detalhou os momentos de pânico vividos por ele e uma amiga durante um sequestro no dia 16 de dezembro, na Grande São Paulo. Ao todo, o ídolo do Corinthians ficou 36 horas preso dentro de um quarto recebendo ameaças. "Passaram quatro pessoas, cinco pessoas. Quando voltei para ver, fui encapuzado, e o cara já veio apontando [a arma]. E eu, desesperado", relatou o ex-atleta ao Fantástico. "Eu disse: 'Não, por favor, eu sou o Marcelinho Carioca'", lembrou.
No sábado, dia 16 de dezembro, Marcelinho foi ao show do cantor Thiaguinho no estádio do Corinthians, em Itaquera, na Zona Leste de São Paulo. Durante a volta para casa parou em Itaquaquecetuba para deixar ingressos para a amiga Taís Alcântara ir ao mesmo show, no domingo. Os dois se conheceram quando ele era secretário de Esportes da cidade. Era madrugada, e o carro importado chamou a atenção.
De acordo com o ex-jogador, a amiga, Taís, estava no banco de trás do carro. "Me deram uma coronhada", citou Carioca, lembrando que os criminosos estavam "nervosos".
Segundo Marcelinho, a quadrilha pediu cartões e senhas, além do desbloqueio do telefone e do acesso ao PIX. Foi então que levaram o ex-jogador e a amiga para um cativeiro. "A todo momento aquele apavoro", relata Marcelinho, lembrando as ameaças dos sequestradores: "'A gente quer dinheiro. Impossível não ter dinheiro nessa conta. Jogador tem grana'".
O ex-atleta também relembra as intimidações com arma. "'Já brincou de roleta-russa?' E girava. Você ouvia girando, não via nada. Aí colocaram uma arma por baixo da toalha", conta. "Ninguém se falava. Não trocava ideia, com medo", relata Marcelinho.
Perguntado pelo repórter Maurício Ferraz se achou que iria morrer, o ex-jogador respirou fundo: "Maurício, sufoco...". Os bandidos conseguiram fazer alguns saques nas contas de Marcelinho.
Resgate
O carro importado que motivou o sequestro também foi chamariz para a polícia. Pouco antes das 9h da manhã de segunda-feira (18), após mais de 24 horas em cativeiro, o cabo Charles, da Polícia Militar, encontrou o carro e mandou uma mensagem para o telefone que constava na documentação. Do outro lado, o advogado de Marcelinho, Eduardo Pinheiro Rodriguez.
"No primeiro momento, eu mandei uma mensagem para o Marcelo. Ele não respondeu. Eu liguei na sequência para o Marcelo, e esperei alguns minutos. Ele acabou retornando por mensagem. O Marcelo sempre me trata como 'doutor', e ele falou: 'Irmão, estou em uma reunião'. Ali eu já tinha desconfiado 100% que não era ele", declarou o advogado do ex-jogador.
"A gente começou a escutar o helicóptero [da polícia]. Aí alguém já chegou e falou: 'A casa caiu'. Veio um policial sozinho. Ele chegou no portão e falou: 'Eu vou entrar. Abre'". Eu não sabia o que estava vindo. O que ia vir. Eu falei: vão atirar na gente, vão matar a gente. Eu abaixei a cabeça: Senhor, não deixa, não deixa", disse Marcelinho.
"Ele [o cabo Ribeiro, da PM] falou: 'Vem. Vem que você está livre'", continuou. "Eu abracei ele como meu pai, meu irmão, meu amigo. Porque ele arriscou a vida dele", emocionou-se.
A amiga, Taís, também relembra a cena. "Quando o policial chegou, eu estava em choque de ver que aquilo estava realmente acontecendo, porque não são todos que conseguem sair vivos de uma situação dessa", disse.
Quatro pessoas foram presas. Segundo a polícia, Thauanatta dos Santos tomava conta das vítimas no cativeiro. Eliane de Amorim, Wadson Fernandes Santos e Jones Ferreira teriam usado contas bancárias para receber o dinheiro da extorsão. Os quatro estão presos, e a polícia ainda busca outros seis integrantes da quadrilha.
O advogado de Jones Ferreira reconheceu que ele conseguia as contas bancárias para a movimentação do dinheiro. "Ele, de fato, entende ali que havia uma origem ilícita, mas que era um estelionato", declarou o advogado Anderson Caio. Ele também representa Eliane. "A Eliane é amiga de Jones. Ela simplesmente emprestou a conta para ele sacar os valores. Eles não participaram do sequestro", continua.
Em depoimento, Wadson admite que emprestou a conta, mas diz que não sabia que era dinheiro de sequestro. Já Thauannata disse que não estava no cativeiro e que não teve participação no crime. O grupo é investigado por sequestro, associação criminosa e receptação.
* Texto de Lívia Carvalho
Lívia Carvalho é estudante de Jornalismo e apaixonada por cultura pop. Antes de entrar no time da coluna, foi produtora, apresentadora e repórter no programa Edição Extra, da TV Gazeta. Siga Lívia Carvalho no Instagram: @liviasccarvalho