André Pacheco, ex-gerente de marketing da Sony, relatou que Wilma Petrillo, viúva da cantora Gal Costa, que morreu aos 77 anos em novembro de 2022, boicotou contratos e vetou um clipe por transfobia
no período em que a artista lançou o disco Estratosférica, em 2015, na gravadora.
Pacheco disse, em entrevista à Quem, acreditar que tudo o que foi relatado na reportagem de fôlego de Thallys Braga, da Piauí, é verdade e revela como o clipe da música Quando Você Olha Pra Ela, autoria de Mallu Magalhães, foi vetado por ter um artista agênero como protagonista.
"A Gal pirou, adorou, achou que estava lindo. Mas quem assinava era a Wilma e e ela não autorizou a liberação. Quando viu, não foi bem assim que ela disse, mas disse: 'Se tiver travestis, não entra'. Eu disse: 'Mas Wilma, não tem travestis. É estética agênero'. Ela: 'Travestis' [enfatizando]. Aí eu falei: 'Como é que a gente faz?'. Ela: 'Edita'. E eu: 'Mas tá no roteiro'. O clipe não foi lançado. Foi orçado em R$ 90 mil. Tá arquivado, inédito'", contou.
Na sequência Pacheco conta que gravaram outro clipe, mas que não foi lançado porque Wilme disse que "a Gal não estava bonita".
"O primeiro [clipe] chegamos a comprometer orçamento em folha, etc. O segundo, não, porque ela [Wilma] brecou tudo antes. Brecou no sentido de... Não tinha diálogo", contou. "A gravadora demitiu a Gal por conta da Wilma, porque ela não assinava nenhum contrato, não cumpria nenhuma norma e a Gal era a vítima. A Gal sempre foi a vítima", revelou.
André, que foi empresário responsável pela venda de shows da turnê Estratosférica e também pela estratégia de divulgação do projeto na gravadora, entre 2015 e 2016, lembra que na época, Gal estava sem gravadora e que ninguém queria o projeto da artista por causa de Wilma. Mas conseguiram.
"Quando Gal chegou, começamos a ter vários problemas por causa de contrato, com Wilma, mas a Gal sempre só sabia de metade da história", disse. "Pra preservar minha relação com a Gal, eu preservava a minha relação com a Wilma. E, nesse meio tempo, a gente combinou que a Wilma não iria frequentar as minhas reuniões. No caso, ia sempre a Gal, o Marcus Preto [produtor] e, de vez em quando, a assessora dela. Quando a Wilma ia, eu não fazia a reunião", declarou.
E em resumo, contou: "A Gal estava com uma empresária que não conseguia vender show, porque ninguém mais contratava ela por causa da Wilma", e seguiu. "Tudo que a gente decidia 'agora', daqui três horas, quando ela chegava em casa, Gal me falava: 'Ai, Pacheco, não vai rolar'. E eu: 'Mas por quê?' Era sempre a Wilma por trás. Aí falei: 'Gal, ou a gente não lança mais o CD Estratosférica e a gente não vai fazer a sua turnê, ou a partir de agora vamos fazer reunião só nós. Eu, você, o Marcus Preto e a Ana [assessora]'", sintetizou.
Nos depoimentos dados à matéria da Piauí, Wilma é acusada de assédio moral contra ex-funcionários, ameaças e golpes financeiros , além de ser acusada de ter levado Gal, uma das mais bem-sucedidas artistas da MPB, à falência.
*Texto de Lívia Carvalho
Lívia Carvalho é estudante de Jornalismo e apaixonada por cultura pop. Antes de entrar no time da coluna, foi produtora, apresentadora e repórter no programa Edição Extra, da TV Gazeta. Siga Lívia Carvalho no Instagram: @liviasccarvalho