Escrito e dirigido por Barbara Albert , prestigiada escritora e cineasta austríaca, “Mademoiselle Paradis” conta a história da pianista cega Maria Theresia Paradis em um momento muito específico de sua trajetória. Então com 18 anos na Viena do século XVIII, ela é submetida a um tratamento extravagante para voltar a enxergar.

Cena de Mademoiselle Paradis, que estreia nesta quinta-feira (9) nos cinemas brasileiros
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Cena de Mademoiselle Paradis, que estreia nesta quinta-feira (9) nos cinemas brasileiros

A grande beleza do filme de Albert é que ele não é exatamente um filme sobre Paradis, ainda que seja essencialmente sobre a dolorosa jornada daquela mulher e as consequências de uma escolha que lhe foi furtada. “Mademoiselle Paradis” é, na soma de suas partes, um filme sobre os labirintos da arte e sobre os mistérios e ceticismos que envolvem a evolução da medicina.

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Tudo costurado com muita sensibilidade e ritmo pela cineasta que tem em Maria Dragus (“A Fita Branca”) uma atriz em estado de graça e que busca total sinergia com as angústias experimentadas pela personagem.

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Angústias extremas

O médico e Maria em uma demonstração de sua capacidade de enxergar
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O médico e Maria em uma demonstração de sua capacidade de enxergar

E que angústias são essas? Tutelada de muito perto pelos pais, em parte por ser cega, mas também por receber uma pensão em virtude de seu talento para a música, Maria Paradis é conduzida à clínica do controverso médico Franz Anton Mesmer, que busca no magnetismo a cura para males que a ciência tradicional não resolve.

Rapidamente o embate de vaidades entre o médico e seus rivais na comunidade científica e entre o médico e o pai de Maria vitimam Maria que apresenta alguma evolução (ela começa a enxergar), mas não o suficiente para legitimar o trabalho de Franz. O termo “suficiente” é crucial porque carrega todo um preconceito embutido. A maneira como Albert desalinha sua história é francamente salutar na exposição do comportamento social em relação ao diferente.

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No caso de Paradis, a angústia é ainda mais exponencial porque à medida que recobra a visão, que vem com sua cota de desorientação, ela passa a tocar de maneira menos insinuante. Estaria seu dom para a música perdidamente vinculado à sua cegueira? Não é essa e nem poderia ser a questão que a cineasta busca responder com seu filme. “Mademoiselle Paradis” trabalha muito bem suas camadas para ofertar um panorama desconcertante sobre nossas imperfeições – aquelas que não podem ser tocadas pelos olhos.

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