James Cameron não é lá um sujeito muito aprazível, mas é inegável sua importância para o cinema. Durante duas décadas ele reinou absoluto no topo das bilheterias. "Titanic" (1997), vencedor de 11 Oscars e primeiro filme a romper a barreira do bilhão de dólares, ficou até 2009 no topo do ranking das maiores bilheterias de todos os tempos. O posto foi perdido para "Avatar", também de Cameron, primeiro filme a superar a barreira dos US$ 2 bilhões.
Agora, "Vingadores: Ultimato" é mais do que uma ameaça real. É a inevitabilidade de que esse ranking vai mudar de figura. O 22º filme da Marvel Studios atingiu a marca de US$ 2,1 bilhões em 11 dias . É tão impressionante quanto insano se pensarmos que "Avatar", há dez anos, levou 47 dias para chegar à mesma marca.
O filme dos irmãos Russo, o fecho de uma narrativa épica e ambiciosa iniciada em 2008 e costurada desde então com engenho e assertividade por um produtor visionário como Kevin Feige, deve superar "Avatar" até o próximo fim de semana. Será este o primeiro filme a chegar aos US$ 3 bilhões? Nenhuma hipótese pode ser rotulada como ensadecida neste momento.
Cameron, que já desenvolveu um roteiro (não filmado) para o Homem-Aranha, já criticou reiteradamente filmes de super-heróis e a relação de dependência de Hollywood atualmente com eles. Chegou a rolar até climão com Patty Jenkins à época do lançamento de "Mulher-Maravilha" (2017) e os próprios Vingadores já foram alvo das substanciais críticas do cineasta.
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A despeito dessa posição não outorgada de ombudsman do cinemão, James Cameron tem certa razão. "Titanic" é um épico romântico, maravilhosamente filmado e um fenômeno feito e nascido no cinema. "Avatar" recicla ideias ("Pocahontas "e "Aliens" para ficar nas óbvias), mas é um produto original, visionário e que elevou o patamar dos efeitos especiais e da experiência cinematográfica dentro da sala escura.
"Vingadores: Ultimato" é um animal de outra natureza. É, também, um fenômeno, mas construído ao longo de anos. É a culminação de um projeto criativo e pioneiro, mas não é um grande filme, um que tenha se imposto no esteio cultural por si próprio.
Nesse sentido, ainda que Marvel e Disney tenham muito a comemorar, enverga um dos últimos pilares da criatividade em Hollywood. "Vingadores: Guerra Infinita" (2017) e "Star Wars: O Despertar da Força" (2015) já estavam ali a gorar a originalidade no ranking das maiores bilheterias de todos os tempos com a força das franquias, essa certeza absoluta e indesviável do cinemão moderno.
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"Avatar" não é um grande filme, mas era um filme que engrandecia o negócio cinema, que vale lembrar também é arte, salvaguardando o topo do ranking das maiores bilheterias de todos os tempos. "Vingadores: Ultimato" chega para iniciar uma nova era.