A 6ª edição do Festival IMuNe, um dos maiores eventos da cena musical negra, indígena, periférica e LGBTQIAPN+ do Brasil, contará com a participação de Sandra de Sá nesta sexta-feira (15). Em entrevista exclusiva ao Portal IG, a cantora compartilha sua visão intensa e autêntica sobre a música como ferramenta de resistência.
Para Sandra, sua missão no palco é clara: “O lance é chegar com muita diversão, reflexão e se liquidificar com o povo. O principal é a diversão e reflexão, e a gente vai estar aí pra isso.” Para ela, a música vai além de uma performance; é um ato de celebração, conscientização e improvisação.
“O que me fortalece com o público é justamente essa parada de não ter carta marcada. É chegar, sentir o povo e nos divertirmos e refletirmos juntos. E, como eu falei, tem coisas que não estão no repertório, que acabamos fazendo, e tem coisas que estão, mas não fazemos, fazemos outras. É essa parada aí.”
Durante o Mês da Consciência Negra, Sandra reflete sobre o papel transformador da arte na valorização da cultura e identidade negras, um compromisso que tem sido fundamental em sua trajetória. Recebendo o Título de Cidadã Benemérita da Câmara Municipal do Rio de Janeiro , ela revela o quanto essa homenagem simboliza suas conquistas e sua luta pela igualdade.
Para os jovens negros, seu conselho é direto: reconhecer suas virtudes, abraçar suas raízes e usar a arte como um poderoso instrumento de expressão.
Com o tema "Solidariedade na Música como Estratégia para Adiar o Fim do Mundo" , a programação do festival inclui apresentações de veteranos e jovens artistas, além de palestras, oficinas e rodadas de negócios focadas no mercado da música e na sustentabilidade.
Confira a entrevista na íntegra:
Neste Mês da Consciência Negra, como você enxerga o papel da música e da arte na valorização da identidade e da cultura negra no Brasil? Como a sua música dialoga com essa causa tão importante?
Para ela, a cultura de um povo e a arte são elementos inseparáveis, que não podem ser desfeitos ou diluídos. "A cultura de um país, a cultura de um povo, e a arte não tem como se desliquidificar. É algo que caminha junto. E graças a Deus, a galera está tomando mais consciência e prestando mais atenção nisso", afirma Sandra.
Ela ainda destaca como sua música dialoga com essa causa tão essencial: "Sinceramente, não precisa nem falar, né? Eu acho que está no sentimento, na realidade das coisas, nas fotos, na emoção de cantar, na emoção de ouvir o canto. Está tudo ali, muito evidente, muito explícito", conclui a cantora.
Com sua trajetória marcada por defender a igualdade e a representatividade, quais você considera os maiores avanços que já vivenciou na luta contra o racismo? E quais são, na sua opinião, os maiores desafios que ainda é enfrentado?
"Eu acredito que o grande avanço e o grande desafio somos nós mesmos", reflete Sandra de Sá. Para ela, a conscientização é tanto a maior conquista quanto o obstáculo a ser superado . "Vejo que estamos cada vez mais conscientes, mais verdadeiros, cada vez mais interessados em entender nossa própria história, em descobrir quem somos e como somos. E é esse processo de descoberta e valorização de nossas raízes que faz toda a diferença."
Ela acrescenta: "Tudo depende de nós mesmos. Quando cada um se propõe a fazer sua parte da melhor maneira possível, atuando com paz e respeito, alcançamos o verdadeiro progresso. A luta contra o racismo passa por essa conscientização, por reconhecer e agir de acordo com nossa própria força e capacidade de transformar."
Título de Cidadã Benemérita da Câmara Municipal do Rio de Janeiro
A cantora Sandra de Sá foi homenageada com o Título de Cidadã Benemérita durante a quarta edição do evento “QUILOMBORA! Somos o sonho dos nossos ancestrais” , que aconteceu no no dia 08 de novembro no plenário da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro . O evento, promovido pela vereadora Thais Ferreira (PSOL/RJ), tem como objetivo celebrar as pessoas negras que atuam na luta contra o racismo e na valorização da cultura negra.
Durante a entrevista, Sandra de Sá compartilhou o que sentiu ao receber a homenagem: “Carica do jeito que eu sou e com essa raiz toda. Caraca, receber esse título é altamente importante.”
A música é uma ferramenta poderosa de resistência e transformação social. Que mensagem você gostaria de passar para os jovens negros e negras que buscam se expressar pela arte?
Sandra incentiva os jovens a ouvirem a própria essência sem se deixar influenciar por opiniões externas. "É preciso ter a coragem lírica de se reconhecer e assumir quem você é, e isso inclui abraçar suas virtudes. Porque, olha, assumir os defeitos é fácil, mas assumir as próprias virtudes... isso é um desafio. Quando você entende e valoriza essa história, que também é a história dos nossos antepassados, isso dá sentido à evolução e ao futuro. É isso que nos fortalece e nos impulsiona."
O Festival IMuNe reúne artistas de diversas gerações e estilos. Como você vê a importância desse diálogo entre diferentes vozes e o impacto de um evento como esse no cenário cultural brasileiro?
"Esse papo de 'junto e misturado' já não funciona mais. Agora, o lance é estar unida, toda essa diversidade 'liquidificada', sem divisões" , afirma Sandra. "É isso que acontece em um evento como o Festival IMuNe: todas as vozes dialogam, cada uma com sua linguagem, e é essa troca que enriquece o cenário cultural. Estou animadíssima para ver tudo isso acontecer."
O Portal iG é parceiro oficial do festival. Confira todos os detalhes sobre esse evento aqui.