Lexa foi moleca? Traição de famosos vira discussão de gênero nas redes
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Lexa foi moleca? Traição de famosos vira discussão de gênero nas redes

No dia 21 de setembro, a cantora Lexa anunciou que estava se separando do funkeiro MC Guimê. Não demorou muito para que surgissem rumores  apontando que a artista havia o traído. Nas redes sociais, comentários como 'Lexa foi menina' viralizaram.

Mas por que Lexa teria sido 'menina' ou 'moleca'? A suposta traição da cantora foi comparada com o histórico de infidelidade do jogador de futebol Neymar, que é dono do "meme" "errei, fui Neymar", derivado da frase "errei, fui moleque". 

Em junho, Neymar assumiu publicamente a traição a noiva grávida Bruna Biancardi. O caso só tomou grandes proporções após a amante Fernanda Campos divulgar detalhes do caso extraconjugal com o atleta da Seleção Brasileira.

Na época, Neymar publicou um texto no Instagram onde assumiu ter "errado" com Bruna e o bebê. Não o suficiente, o episódio ganhou maior destaque após Neymar Jr. receber diversos comentários... o elogiando.

"Que atitude linda! É isso, meu menino, passamos pela vida errando, mas o importante é esse reconhecimento dos nossos erros", comentou um seguidor. "É isso filho… a vida continua sempre nos ensinando. Parabéns", declarou o pai do atleta.

Os elogios recebidos por Neymar escancararam a diferença social com que homens e mulheres são tratados quando o tema é traição.

O drama de Luísa Sonza

Aos 20 anos, Luísa Sonza subiu ao altar para trocar alianças e votos de matrimônio com o humorista Whindersson Nunes. Na época, a cantora estava trilhando o início da carreira musical, que posteriormente a projetaria para o auge da cena pop no Brasil.

Com o romance exposto em todas as frestas da internet, o divórcio do casal enfrentou um drama público imenso após os fãs não aceitarem um término sem razão catastrófica. A necessidade de achar um culpado colocou Luísa Sonza como a esposa que teria traído Whindersson.

A traição nunca foi confirmada por Whindersson e Luísa, pelo contrário, o humorista já negou diversas vezes que o romance teria sido afetado por um caso de infidelidade.

Apesar disso, Luísa Sonza colheu os frutos sociais que apenas uma mulher taxada de traidora poderia colher. Desde então, a cantora é alvo frequente de ataques misóginos.

Em setembro, ela voltou aos holofotes após expor a traição do então namorado, o influenciador Chico ‘Moedas’.  O término foi divulgado publicamente durante a participação no programa “Mais Você”, de Ana Maria Braga.

Ao contrário de Neymar, Luísa Sonza não recebeu empatia do público. Nas redes sociais, teve até quem apontou que a cantora teria ultrapassado os limites ao expor o namorado Chico Moedas em rede nacional.

No X, antigo Twitter, Chico foi exaltado, virou meme, deboches e até ganhou uma música para registrar a infidelidade. “Foi moleque”, alguns internautas zombaram.

Lexa ser chamada de ‘menina’ ou ‘moleca’ virou reivindicação de internautas já exaustos com o desequilíbrio do tratamento entre famosos e famosas envolvidos em escândalo de traição.

A psicologa terapeuta de casais Vanessa Abdo traz a teoria da vitrine de valores. Segundo a especialista, famosos e personagem midiáticos funcionam como modelos julgados pelo público. 

“Existe uma fascinação da vida dessas celebridades como se eles fossem um exemplo, um modelo, algo a ser imitado. Quando tem uma traição, é como se tivesse uma quebra de confiança. Tem uma ruptura que o público fala, ‘poxa, mas até os perfeitos se traem, cometem deslizes, como que a gente faz para continuar admirando eles?’”, analisa.

Vanessa também reflete o protesto nas redes sociais ao chamar a cantora Lexa de ‘menina’ ou ‘moleca’. “A gente está sempre suavizando para os homens. Ainda hoje, quando interessa, a gente usa a biologia para justificar como se os homens pudessem e precisassem de mais relações sexuais. A gente sempre terceiriza para a biologia”, declara.

A comparação entre Lexa e Neymar também aponta a desqualificação do homem enquanto responsável pela tomada das próprias atitudes. “As mulheres sempre têm que mostrar maturidade. Quando uma menina aparece grávida, ela sabia muito bem o que estava fazendo. Quando é um homem que engravida [alguém], ele é um menino, como se ele não fosse capaz de tomar decisões conscientes por conta desse ímpeto característico da biologia”.

É rotineiro no mundo dos famosos casos de traição em que o infiel é o homem. Na maioria das vezes, os holofotes os deixam em paz após alguns dias do escândalo e a carreira artística não é afetada.

“O famoso homem se sente publicamente desinibido por conta da autorização social. Culturalmente, estão autorizados a expressar a sexualidade. A gente ainda vê a Anitta, vanguardista desse movimento de lidar com a própria sexualidade, como ela continua assustando”. 

A questão da traição também pode encaminhar para a prática de violência e de transgressão de leis já estabelecidas, como feminicídio, ataques virtuais, ameaças, destruição de patrimônio e chantagem.

Nas redes sociais, é possível encontrar vídeos de mulheres apanhando, brigando umas com as outras e mulheres tendo o cabelo cortado a força devido aos casos de infidelidade.

Essas situações ficam mais agravantes quando analisadas sob a perspectiva de gênero, explica o advogado Leonardo Marcondes, especialista em direito de família.

Atualmente, é possível um cidadão pedir indenização caso sofra algum ato que lhe cause humilhação por exposição. A medida é válida para todos os gêneros e independe se a pessoa traiu ou foi traída.

“No contexto das relações afetivas, a traição por si só não é motivo para indenização por dano moral. No entanto, se como a traição foi exposta causou constrangimento excessivo ou exposição pública vexatória, pode haver fundamento para uma ação de indenização no prazo de até 3 anos após a ocorrência da situação que gerou o constrangimento”.

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