A empresária Kamilla Fialho já trabalhou com artistas como Anitta, Lexa, Naldo, entre outros
Reprodução/Instagram - 03.08.2022
A empresária Kamilla Fialho já trabalhou com artistas como Anitta, Lexa, Naldo, entre outros

Um artista com boas músicas, um carro para ir aos shows e o Nextel sempre com novos contatos. Kamilla Fialho brinca que estes poucos itens eram suficientes para trabalhar no início da carreira como empresária. O esforço ocorria paralelamente a constante necessidade de se provar em um cenário em que o potencial da música urbana ainda não era reconhecido e o mercado era predominantemente dominado por homens.

Com o objetivo de dar destaque para o funk e o pop nos anos 2000, ela conta que era taxada de “louca” por profissionais do meio e entrega que considerava o rótulo como parte da própria personalidade por muito tempo. Mais de 20 anos depois, Kamilla se estabelece como fundadora da K2L, uma das maiores empresas de entretenimento artístico do Brasil, e é lembrada pelo trabalho com grandes artistas nacionais, como Anitta, Valesca Popozuda, Naldo, Lexa, MC Rebecca, entre outros. Hoje, reconhece que não era a loucura que a orientava: “Me considero uma mulher visionária”.

A vivência de Fialho expõe a relevância do empresário no processo de levar a carreira de um artista ao sucesso, tema que é o foco da primeira matéria da série “Além do que se vê: o que os holofotes não revelam”, do iG Gente. A profissional aprofunda explicações sobre a importância do gerenciamento artístico e identifica aprendizados construídos ao longo da trajetória - do processo judicial com Anitta, passando pelo expertise em construção de imagem consolidada com Vitão, até para a experiência com a própria filha no início da carreira como cantora.

‘A verdade vira absoluta e não cabe mais discussão’

“Sem sombra de dúvidas, a Anitta foi a maior escola que eu tive de como achar saídas inteligentes”, reflete Kamilla Fialho, que iniciou o gerenciamento da cantora em 2012, quando pagou para a Furacão 2000 uma multa de R$ 260 mil pela liberação da artista. Na época, sem o contrato assinado com uma gravadora, a empresária diz que desembolsou R$ 40 mil para a gravação do clipe de "Meiga e Abusada", gravado em Las Vegas, e esteve ao lado da carioca no estouro de “Show das Poderosas”.

O Grupo Rodamoinho foi fundado por Anitta, em 2014, quando a cantora decidiu começar a gerenciar a própria carreira. No entanto, a separação entre elas não ocorreu em bons termos, já que a artista rompeu o contrato acusando má administração e um suposto desvio de R$ 2,5 milhões. Os atritos geraram uma disputa judicial que terminou apenas em 2018, quando Fialho foi lesada em R$ 9 milhões.

“Passei quatro anos precisando provar uma coisa que nunca tinha feito, mas que não sabia nem por onde começar a me explicar. Porque, se eu tentasse explicar para qualquer pessoa como funciona o show business, as pessoas não iam entender. Demorei anos para aprender, como vou ensinar em quinze segundos nos stories? Não vou conseguir”, afirma.

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Kamilla exemplifica a situação que vivenciou com o caso entre Iran Ferreira, o Luva de Pedreiro, e o ex-empresário, Allan de Jesus. A profissional observa que a polêmica que começou em agosto deste ano ocorreu após o influenciador conseguir um melhor contrato, movimento que ela mesma já vivenciou ao longo da carreira, como com Naldo Benny.

“Começo com artistas que não são conhecidos. Quando eles passam a ser conhecidos, conhecem outros artistas e, por sua vez, outros empresários que podem ser maiores do que eu. Eu cheguei a ouvir do Naldo que ele achava que eu não teria condição de levá-lo para o Brasil inteiro quando a gente trabalhou em 2009. Chegou um empresário muito maior que eu, falou pra ele que tinha essa condição, mas eu não. E o Naldo acreditou”, recorda.


Ela também defende que desdobramentos do episódio com o influenciador deveriam ter ocorrido de forma privada, não na esfera pública. “Eles tinham que ter resolvido sentados em uma mesa e, de fato, entendido tudo que deveria ser feito. Mas é nítido que ele [Luva] não gostaria de continuar com o empresário, porque apareceu uma oportunidade melhor para ele. Isso é fato. Se ele foi lesado ou não, que pague na Justiça quem lesou. Assim como eu fui lesada com o que aconteceu comigo, alguém pagou pra mim, problema resolvido. Fui lesada e recebi por isso. Quem for lesado vai receber por isso”, pontua.

Kamilla Fialho critica como “a verdade vira absoluta e não cabe mais discussão” em casos como esse, em que os empresários se tornam alvos de ataques dos fãs dos artistas. A empresária cita a própria experiência com o a propagação de ódio vinda dos fãs de Anitta para analisar o cenário.

“Acaba ficando desleal. É uma legião de fãs contra uma pessoa e essa legião não sabe do que se trata, de fato. Quando o artista coloca a cara na internet, quando vai de alguma forma apontar o dedo para uma outra pessoa, ele precisa ter responsabilidade. Porque isso é muito sério. Já vi vários casos que me entristecem", reforça. 

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Fialho aponta que passou por um “trauma” com a situação e, por isso, busca compreender os fatos antes de fazer qualquer julgamento. “Porque existe essa máxima, de que o empresário engana o artista de alguma forma. Só que já tem bastante tempo que não funciona dessa maneira. Os artistas já são donos das suas próprias empresas, os empresários entram muito mais como um CEO daquela empresa ou como gestor daquilo tudo”, complementa.

Kamilla ainda relembra como o processo judicial com Anitta e os ataques da época modificaram a visão da própria carreira: “Isso trouxe uma exposição grande, que me trouxe um sofrimento por quatro anos. Mas quando você passa por tudo isso e prova que você não fez nada, você ainda se torna uma pessoa mais forte. Hoje me chamam de fênix e lenda, porque é difícil para caramba aguentar o que eu aguentei durante quatro anos. Para só depois desse tempo todo conseguir provar para todo mundo que eu, obviamente, não tinha feito nada e que, ao contrário disso, me deviam e eu não devia a alguém”.

“Hoje tenho até um certo medo do que pode acontecer, mas eu não fiz nada. O tempo é o melhor remédio. O tempo passou, as pessoas enxergaram, me conheceram e hoje profissionalmente eu tento a mesma coisa que eu faço com os meus artistas, tento tirar proveito disso. Onde eu posso falar, mostro para todo mundo o meu grau de conhecimento [...] Tinha muito medo de dar entrevistas, fazia ‘media training’ para que não me perdesse nas respostas. Mas desde que fiz podcast, fui desarmada e fui 100% eu, vi que as pessoas se agradaram muito mais com a Kamilla que realmente sou do que com a Kamilla empresária tensa em dar uma entrevista”, completa.

‘O pop dá a cara a tapa’

Ao avaliar a exposição como algo potencialmente prejudicial para os empresários, Kamilla Fialho enxerga uma dinâmica diferente para os artistas. “Quem se predispõe na profissão a ser ou não um artista acaba ficando refém de alguma forma. Então, o que acontece com os artistas, de algum jeito, faz parte do ‘business’ deles, vão ter que aprender a lidar com isso. Agora quando acontece com alguém que é de backstage, como eu, um empresário, ou alguém que não precisa, não quer e não tem espaço midiático para favorecer no seu trabalho, aí realmente é muito difícil”, pondera.

Vitão é um exemplo recente do trabalho da profissional na K2L. O artista chegou à empresa em julho deste ano com um histórico de exposição marcado por críticas, algo que Kamilla opina com bom humor: “Confesso que acabei me especializando nessa área”.

A empresária conta como Vitão iniciou os trabalhos na K2L “traumatizado” com as próprias vivências, mas explicou ao cliente que se destacar em meio às críticas é uma tarefa "inerente ao pop”. “Hoje existe uma atmosfera, uma bolha pop que vai além da música, que está ligada muito mais ao lifestyle daquele artista, de como ele se comunica pelas redes sociais, como ele quer ser visto pelo mundo, qual legado e bandeira que ele defende”, compreende.

“Isso é uma cultura pop. O pop não se limita a só pensar na música ou se é necessário se resguardar. O pop quer dar a cara a tapa. Quer, de fato, mudar uma cena, romper barreiras. E não é atoa que a gente tem visto essa mudança. Mesmo porque existem artistas dispostos a iniciar e continuar fazendo esse tipo de coisa. Hoje acredito que seja maioria”, opina.

No agenciamento de Vitão, Fialho não considera que necessitou de uma reformulação de imagem, mas de uma “comunicação correta da imagem, que acredita que não tenha sido feita todo esse tempo”. Ela ainda cita a importância de usar estrategicamente as redes sociais neste processo. “Vamos usar as ferramentas que as plataformas oferecem, bloquear as palavras chaves que te incomodam. Mas, de resto, é como vou lidar, como vou fazer desse limão uma limonada [...] Deixamos disponíveis as qualidades, o que ele tem de bom para mostrar como artista, quais são os feitos. Para quando acontecer esse tipo de coisa [críticas], a gente reverter ao nosso favor”.

“Vitão é um artista pop, mesmo que cantasse axé e baião, o lifestyle dele é pop. É um artista que defende causas, tem muita personalidade, gosta de deixar claro a personalidade e está em constante transformação e evolução. E isso causa estranheza para as pessoas que estão de fora. Toda vez que causar esse estranhamento, uma vez que você gera clique e tem audiência, as pessoas vão falar a respeito disso”, complementa.

O trabalho da empresária com Vitão faz parte da vertente que atua com mais força na K2L - empresa que, atualmente, conta com outros quatro sócios além de Kamilla: Víctor Oliveira, Dani Faria, Vanessa Moreira e Camila Simonato. “Essa é a minha parte estratégica aqui dentro, o meu foco é manter o storytelling, a linha de raciocínio e persona do artista, de acordo com o que ele é e com o que o mercado vai consumir. Tem que fazer a junção dessas duas coisas e comunicar para o mundo”, propõe.

‘Para que tanto sofrimento?’

Entre as tarefas na KL2, Kamilla Fialho assume que passou por um período tenso ao tentar gerenciar a carreira da filha, Tília. Fruto do relacionamento com Dennis DJ, ela estreou como cantora há dois anos e lançou o primeiro álbum neste ano, intitulado “2003”. A empresária explica que precisou “dividir as caixinhas” entre mãe e profissional para não prejudicar ambas as vertentes.

“Antes estava tudo misturado, era uma bagunça. A gente brigava e só falava de trabalho em casa. Botei ela para morar com o pai dela e lá ele também só fala de trabalho. É uma loucura, porque a família toda vive em torno disso, então, fica difícil de separar. Mas de uns tempos pra cá a gente se organizou internamente. Temos cinco sócios, todas as pessoas são tão aptas quanto eu. E ficou para mim a função de mãe mesmo. Uma mãe que tem o conhecimento de causa”, conta.

Diante da experiência na área, Fialho entrega que tem se dedicado a cuidar mais do aspecto emocional da filha e “sempre puxar muito o pé para o chão”, preocupada como o ego pode impactar a jornada de Tília. “Ninguém é 100% bom ou 100% ruim. Depende de quem está em volta, de como o ego é alimentado. E tenho muita preocupação de como isso pode influenciar nos 19 anos de criação, em que tomei todo o cuidado do mundo para que ela fosse uma menina humilde, amável, empática, que se preocupasse com o próximo e usasse todos os privilégios dela a favor das minorias”, analisa.

Kamilla também compartilha qual conselho gostaria de ter ouvido na época em que tinha a mesma idade da filha e ingressava no mercado. “Gostaria de ter encontrado alguém que dissesse: ‘Kamilla, é assim mesmo. Pessoas que pensam muito à frente do seu tempo acabam sendo taxadas como loucas. Mas, tenha paciência, passe por tudo isso, continue trabalhando, que uma hora o resultado vem’. O resultado veio, mas foi tão sofrido. Eu gostaria de te ter tido o carinho, o acalento de alguém”, expõe.

A empresária conclui defendendo a importância de apoiar e compartilhar informações na área: “As pessoas acreditavam antigamente que quanto mais a informação ficar para mim, melhor eu vou performar, mais vou me destacar e não vou abrir brecha para concorrência. Isso não existe. Acho que isso está acima da concorrência", avalia.

"Vejo muita gente cometendo vários erros por falta de informação e conhecimento. Não é por culpa, porque quer chatear ou sacanear alguém. É porque realmente nosso país fornece pouquíssimo de informação que a gente precisa para estar apto a trabalhar, para estar de acordo com o mercado que a gente está. Temos que ir batendo cabeça e descobrindo ao longo do tempo. Para que tanto sofrimento?”, analisa. 

+ O "AUÊ" é o programa de entretenimento do iG Gente. Com apresentação de Kadu Brandão e comentários da equipe de redação, o programa vai ao ar toda sexta-feira, às 12h, no YouTube, com retransmissão nas redes sociais do portal.


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