A advogada Miriane Ferreira começou a investir nas redes sociais para conquistar mais clientes para o escritório dela, em Londrina (PR), e descomplicar as áreas em que ela trabalha. Mas a advogada não esperava que cresceria tanto na web em menos de um ano.
Os vídeos da advogada, hoje com mais de 700 mil seguidores no Instagram, viralizaram nas redes sociais pelas respostas sem rodeios e pela sinceridade com as perguntas feitas por milhares de pessoas.
Na web, ela recebeu diversos apelidos, como 'rainha do direito' e 'rainha feminista'. Apesar de se sentir grata pelos apelidos, ela diz que não é feminista e que luta apenas pela "equidade entre homens e mulheres", com a promoção do tratamento justo entre homens e mulheres, segundo as necessidades em cada caso.
"Para mim, cada um tem um papel. O homem pode ser provedor, a mulher tem que trabalhar também, mas o maior papel é do homem. Sinto que quando se toma muito as responsabilidades, você dá muita folga para eles", analisa, em entrevista ao iG Gente.
Além dos apelidos com conotação positiva, Miriane também recebe ataques nas redes sociais justamente por ensinar direito da família e descomplicar termos jurídicos. "Tem quem me chame de 'a tia que ensina a dar golpe'. Eu ensino a não cair em golpe", brinca.
Miriane até cita que já recebeu ameaças e comentários de grupos de incels, homens que se consideram 'celibatários involuntários' e que justificam a falta de relacionamentos românticos por mulheres feministas ou empoderadas, como a advogada.
"Tive muitas denúncias nas minhas páginas, grupos de incels, red pill, que eu nunca vi na minha vida, que estavam fazendo uma comoção geral para derrubar minha página, mas estou crescendo mesmo assim, graças a Deus", afirma.
Miriane também entrega mensagens de homens que revelam que bloquearam a página dela para esposas e namoradas. "Vi até uns homens comentarem no TikTok que, se a menina for minha fã ou me seguir, é para 'pular fora'", comenta.
Entre críticas apontando um "desserviço" e pessoas agradecendo Miriane pelos vídeos, a advogada avalia que ensina mulheres a "não serem lesadas" pelos maridos. "Eu ensino elas a não deixarem os homens com os direitos das mulheres, dizer que só eles trabalharam. Ensino a reivindicar os direitos delas, elas precisam fazer isso porque eles tomam tudo", defende.
Como a presença dos críticos é alta, mas não chega ao nível das mulheres agradecendo Miriane, ela criou um apelido para eles. "Eu chamo eles de 'princesos', aqueles homens que só querem abusar das mulheres, da mãe, da esposa, sugam a mulher e pensam que ela é interesseira", aponta.
"Meus clientes triplicaram"
A advogada conta que precisou aumentar o valor das consultas com possíveis clientes. Hoje, ela cobra R$ 600 por 40 minutos de avaliação de um caso por vídeo. A advogada atualmente está cuidando de 300 processos referentes a direito da família e questões de herança.
"Estou contratando advogados no meu escritório e tudo graças ao Instagram. Era só eu e mais um advogado, hoje tenho mais três, mas preciso de mais", celebra.
Miriane cita que vários casos chegaram devido aos vídeos e que em decisões consensuais, em que as partes concordam com a decisão do juiz, ela tem bons resultados. "Tudo demora, é raro sair em um ano e ter acordos rápidos, mas estou tendo sucesso nos resultados consensuais", analisa.
Dos resultados involuntários, Miriane afirma que seguidoras já a procuraram para falar que foram atrás de um advogado graças aos vídeos. "Tem que me procura tendo um advogado e eu digo que não posso atender porque é contra nossa ética, mas volta e faz o advogado perceber que há outro caminho no processo", afirma.
"Já passei por tudo isso e vou te ajudar!"
Na descrição do perfil no Instagram, Miriane tem uma definição simples para aproximar clientes: 'Já passei por tudo isso e vou te ajudar'. A advogada explica que, tirando questões com herança, vivenciou casos bem semelhantes aos que chegam nas caixinhas de perguntas do perfil.
"Eu vim de uma família com um pai completamente ausente, sei o que é uma mãe criar um filho sozinha, tive relacionamentos altamente tóxicos, passei por um divórcio, fui mãe solo também, tive que me virar porque o pai do meu filho não pagava pensão. Dificilmente tem algo que eu não tenha passado quando vejo os casos que chegam para mim", comenta.
Mas Miriane não queria ser advogada no direito de família. Ela diz que mudou de ideia durante a faculdade. "Eu entrei em direito porque queria ser juíza. Mas quando fizemos o núcleo de práticas jurídicas, só chegavam divórcios e eu ficava indignada com o que via. Então, vi que aquilo me motivou mais do que ser juíza", relembra.
Pode informar, mas não pode ostentar
Na web, muitos já disseram que o que Miriane faz não é permitido pelo código de ética da Ordem dos Advogados do Brasil. A advogada se defende e explica que advogados só não podem "ostentar para vender cursos nas redes sociais".
"Tinha muito advogado vendendo curso, mostrando o que conquistou após o curso, então a OAB barrou isso depois de muitas pessoas caírem até em farsas. Eu posso vender um curso e até pretendo, mas não posso mostrar resultados a partir de advogar", conta.
Ela pretende criar um curso de direito familiar informativo e simples, e garante que será tudo conforme a OAB autoriza. "Eu só posso fazer o conteúdo como faço, se quiser vender, devo colocar o link, mas não posso mostrar resultados de processos, falar de casos e afins", conclui.