Muita gente tem medo de envelhecer, mas esse não parece ser o caso de Luiz Fernando Guimarães, de 72 anos. A partir de hoje, ele e Bruno Gissoni serão avó e neto no teatro. Os dois estreiam, respectivamente, como Vera, uma senhora nonagenária, e Léo, um jovem na faixa dos 20 e poucos na peça “Ponto a ponto — 4000 milhas”.
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— Minha personagem tem ausências. As palavras e os pensamentos dela somem. Ela para no meio para buscá-los e fica irritadíssima com isso. Vera não se conforma muito com essa forma de envelhecer e perder um pouco a noção das coisas. Já eu acho maravilhoso. Gostaria de ser um velhinho assim, que esquecesse das coisas. Com alguém falando: “Não, Luiz Fernando, agora é por aqui”... Acho que a vida fica mais leve — imagina o veterano.
Para o neto da ficção, a montagem traz lembranças familiares.
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— Minha avó paterna se chamava Vera. E minha outra “Vera” se chamava dona Elza. Já perdi as duas e acho que por isso a peça é tão importante para mim. O espetáculo também tem essa missão de, no momento em que a pessoa sair do teatro, ter a sensação imediata de querer falar com seus avós se eles estiverem vivos. Temos que valorizar o momento em que estamos aqui com quem amamos — destaca Gissoni, aos 35 anos.
Luiz Fernando entrega que também bebeu em fontes próximas para compor a senhorinha:
— A gente busca na memória afetiva. Tem coisa da minha mãe (Yara, já falecida), das avós dos amigos... Vera significa uma terceira idade com todas as suas características. Tento sempre fazer o mais verossímil e o mais divertido possível.
A caracterização do ator, por sinal, é um show a parte.
— As pessoas dizem que eu pareço minha mãe. Claro! Ponho uma peruca e vou parecer com ela — brinca o ator que, além do figurino, se atentou a outros detalhes para o papel: — Pego palavras que não fazem parte da minha época para ficar mais crível. Vou buscando no álbum de família termos, expressões... “Chocho”, por exemplo, eu jamais falaria — exemplifica.
A peça, em cartaz no Teatro Copacabana Palace, traz ainda Renata Ricci interpretando dois papéis.
Transformação
“Eu me sinto realmente dentro da personagem. Minha caracterização é uma loucura! Tenho troca de roupas femininas, o cabelo com peruca... Estou um carro alegórico. Minha maquiagem dura em torno de uma hora. Sombra, rímel, etc e tal. Mas ainda estamos pegando a mão. No decorrer da temporada, acho que faremos em menos tempo”, prevê Guimarães.
Desespero
“Estou desesperado! Já estava longe do teatro há muito tempo, principalmente por conta da pandemia. Agora, quando estamos debatendo tanto a falta de investimento em cultura, voltar e ter esse contato com o público é fundamental”, valoriza Gissoni.
Visita da filha
Madalena, de 5 anos, filha mais velha de Bruno com Yanna Lavigne (eles também são pais de Amélia, de 4 meses) foi a um ensaio e amou ficar no palco: “Ela queria cantar, dançar, provou a peruca da Renatinha (Ricci)... Estava no céu!”, empolga-se Gissoni.
Conflito
“Enquanto Vera é uma senhora que vive sozinha na cidade grande, o neto dela é um hippie e isso configura um confronto. A namorada dele é totalmente politizada. A peça vai ser muito bem aceita porque fala sobre a emoção das pessoas”, aposta Guimarães.
Temporada
O Teatro Copacabana Palace fica na Av. Nossa Sra. de Copacabana 291. A peça segue até 10 de julho com sessões às quintas, sextas e sábados, às 20h30, e aos domingos, às 19h. Ingressos a partir de R$ 70, via sympla.com.br. Classificação 14 anos
Brasil é primeiro país onde Vera é feita por um ator
A peça teve sua primeira montagem na Broadway, em 2011, e depois passou por Austrália e Reino Unido. O espetáculo, vencedor do prêmio Obie Award 2012, chega ao Brasil com adaptação de roteiro e direção de Gustavo Barchilon.
— Temos uma responsabilidade enorme. Mas o Gustavo nos dá muita segurança e isso é ótimo — frisa Gissoni.
Essa, no entanto, é a primeira vez que a personagem Vera será interpretada por um homem. Luiz Fernando, que admite estar nervoso para a grande estreia, fala do significado disso:
— Fiquei lisonjeado (de ter sido chamado para o papel) porque não tenho nenhuma característica feminina, meu rosto é masculino. Já fiz mulheres antes na carreira, mas era mais para um lado caricato, não uma peça de teatro. Quando li pela primeira vez o texto, gostei muito da Vera e não tive dúvidas.