“Eu sou uma mulher realizada. O que vier é lucro!”, gaba-se Anitta, a artista brasileira que fez História há poucos dias como o primeiro nome do país a liderar tanto o Top 50 mundial do Spotify quanto o do Billboard Global 200. A música com a qual conseguiu o feito — “Envolver” — é uma das que fazem parte de “Versions of me”, seu quinto álbum de estúdio, que chega esta terça-feira ao streaming cercado de expectativas.
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Atração do festival Coachella, na Califórnia, esta sexta-feira e na sexta seguinte, a cantora carioca de 29 anos, fã de Mariah Carey, admite enfim ter conseguido fazer o seu “Butterfly” (de 1997, “o álbum em que a Mariah sentiu ter conseguido exercer todo o seu poder criativo”).
"É assim que me sinto com “Versions of me”, me derramei inteira nesse projeto", diz ela, por WhatsApp, sobre esse disco de pop contemporâneo, no qual une funk carioca, trap, reggaeton e bossa nova, com participações de astros internacionais como Khalid, Cardi B, Ty Dolla $ign, Afro B, Saweetie e Myke Towers. "Esse álbum é muito um resultado da artista madura que sou hoje, após mais de uma década de carreira, um mergulho nas minhas várias facetas pessoais e artísticas. Ao longo do tempo, muitas vezes quiseram me dar uma característica única: a funkeira, a que rebola, a desbocada… E eu sempre quis mostrar que, sim, sou tudo isso, mas também empresária, líder, filha, cantora e artista. E que serei também outras várias coisas".
Ela não desmente a imagem da Anitta estrategista, que pensou minuciosamente cada letra, cada melodia, cada post, cada polêmica em relação a esse lançamento:
"Quem faz arte sabe que não tem como o processo ser assim, 100% calculado e planejado. Tem muita estratégia por trás do que faço, mas tem também muita inspiração. Já deixei a minha equipe doida algumas vezes. Como confio muito nos meus impulsos criativos, acabo mudando coisas no último segundo e eles têm que acompanhar. No fim, o resultado é sempre motivo de orgulho para todos".
Sexualidade com leveza
O sexo, com todas as suas delícias e implicações, é tema básico em “Versions of me” — o que, para Anitta, não chega a ser nada de mais.
" O sexo faz parte da vida, então é normal que esteja presente na arte também", argumenta ela, que traz no disco balanços buliçosos como “I’d rather have sex”, “Gata”, “Que rabão” e “Me gusta”, movendo-se freneticamente entre as línguas (no caso, inglês, espanhol e português). "Ninguém é obrigado a falar sobre sexo, independente do gênero, mas acredito na sexualidade tratada com naturalidade e leveza. Como mulher, me sinto muito feliz de falar sobre sexo, de inspirar outras mulheres a se sentirem sexualmente livres também. Socialmente, nós somos criadas para sentirmos vergonha da nossa sexualidade e existe toda uma estrutura socioeconômica reforçando essa lógica. Eu coloco minha arte a serviço da libertação feminina", diz.
Uma faixa de “Versions of me” da qual Anitta particularmente se orgulha é “Que rabão”, um funk carioca de fato e de direito, feito com o produtor Papatinho, o MC Kevin O Chris (estrela do funk 150 bpm) e o rapper americano YG. A gravação traz trechos de vocais de Mr. Catra (1968-2018), o mais influente artista do batidão carioca, estilo no qual a cantora iniciou sua carreira:
"O funk é um tesouro da cultura brasileira, um ritmo nosso, que fala da nossa realidade social e que tem tudo para ser gigante lá fora também. Como brasileira, é natural para mim trazer o funk, que é tão nosso, em um disco pensado para ser apreciado mundialmente".
Para uma artista que conquistou o mundo com uma música em espanhol, “Envolver”, “Versions of me” traz mais munição latina, com reggaetons e cúmbias, além de “Gimme your number” — faixa de Anitta com Ty Dolla $ign em que ela faz uma citação de “La Bamba”, sucesso do roqueiro latino Richie Valens (1941-1959), revivido nos anos 1980, pelo grupo Los Lobos, em filme sobre a sua vida.
"A ideia veio do meu desejo de me conectar com pessoas do mundo todo. 'La Bamba' é um clássico mundial, que faz parte da memória afetiva de muita gente. Então acredito que qualquer pessoa consegue ouvir e se identificar imediatamente", diz ela, também com seus olhos voltados para o Brasil, que em outubro tem eleições. "Espero que nós, enquanto cidadãos, tenhamos as ferramentas necessárias para nos mantermos informados para votarmos com consciência. E que não nos falte memória".