Nelson Freitas passou 18 de seus 58 anos como ator contratado da TV Globo, mas a parceria entre os dois se encerrou em outubro de 2020, quando a emissora dispensou várias de seus astros para manter apenas em trabalho por obra. Em sua carreira no Projac, ele participou de novelas, seriados e ganhou muito destaque do programa humorístico Zorra .
“Apesar do sentimento de perda gigante, afinal durante toda a minha carreira, a TV Globo fez parte da minha vida e foi a primeira a assinar a minha carteira de trabalho como ator. O fim do contrato não foi surpresa, pois já estava a par das novas regras da empresa e que não íamos renovar, mas como um otimista assumido que sou, penso sempre que tudo é para o melhor”, declara o ator em entrevista exclusiva ao iG Gente. "Sair da TV Globo me fez deixar a zona de conforto e me virar nos 60", completa.
O ator é casado com a procuradora Maria Cristina Manella Cordeiro e conta que os dois pretendem passar uma temporada na Austrália, onde mora a filha, Gabriela, e o neto, Felipe, há 15 anos.
“Já aplicamos residência e estamos de malas prontas. Assim que acalmar a pandemia, eu e minha amada tomamos o rumo. Aos 58 anos, uma aventura dessas vai fazer a gente se mexer e isso é um privilégio. Quero aprimorar o inglês, fazer uns cursos de teatro por lá, procurar um agente e quem sabe, tentar alguns castings. Quando aparecer algum trabalho que seja relevante, eu volto e bola pra frente”, detalha.
Enquanto isso, o artista tem se dedicado aos seus trabalhos no cinema. Um dos filmes que está em produção é o "Tração", em que ele é o vilão da trama. O elenco também conta com a participação de Fiuk, Marcos Pasquim, Bruna Altieri e Duda Nagle.
O ator considera que o filme seja um grande desafio, além do fato de estar sendo gravado durante a pandemia, é um longa de ação que envolve o universo das competições de motos de várias categorias.
“Faço o empresário Fernando DiMello, muito rico, bem sucedido, mas com uma personalidade sombria. O diretor André Luiz Camargo também é atleta de motociclismo e trouxe para esse trabalho toda a sua experiência nesse meio para contar uma história eletrizante com muitas cenas de ação, com dublês, perseguições e tudo mais.”
iG Gente: Nos seus 30 anos de carreira, qual o gênero que você fez que você mais gostou?
Nelson Freitas: Nesses anos todos, tenho orgulho de ter corrido riscos, fiz um pouco de tudo, uma dezena de musicais, que é um gênero que me atrai barbaramente, pois, no início, eu queria mesmo ser cantor. Tive banda, cantei em corais, participava de festivais etc..., mas depois que saí da Marinha e fiz meu primeiro curso de teatro. Nunca mais parei de trabalhar como ator. Fiz várias novelas e filmes, mas o humor me puxou com uma força avassaladora, e foi o que me fez conhecido. A vontade de contar histórias e de viver personagens mais densos retomou seu lugar e tem sido muito bom.
Depois que saí do Zorra, fiz a novela "Tempo de Amar", de época, e encantadora, que teve a pena delicada e sensível do Alcides Nogueira, e direção primorosa do Jayme Monjardim. Assim também foi em "O Tempo Não Para", que fiz logo na sequência. Foi uma delícia.
Você viu?
Adoro fazer novelas, mas acho que o mais marcante na TV mesmo foi o quadro “Marcia e Leozinho”, do “Zorra Total”, que fazia ao lado da Maria Clara Gueiros. Era maravilhoso! A gente improvisou o tempo inteiro, era um jogo inteligente e divertido entre nós que acabou refletindo no sucesso do quadro que sempre foi campeão de audiência.
iG Gente: Por ter a imagem muito ligada ao humor, as pessoas cobram que você sempre seja alegre?
Nelson Freitas: Sempre. Às vezes, encontro gente pela rua que já vem rindo e eu fico sem saber se está rindo para mim ou de mim (Risos). Mas, para o meu encantamento e deleite, o carinho que recebo é sempre tão positivo que chega a me emocionar volta e meia. Isso não tem preço.
iG Gente: Quais os projetos que você está fazendo agora? E como foi o período da pandemia?
Nelson Freitas: Além de "Tração", tem também o filme "Nina", do Samuel Machado, que está sendo finalizado e interpreto Valdir, um policial acusado de assassinar a própria esposa. Além disso, estamos na pré-produção do filme "A Parada", uma comédia road movie, de autoria do Marcelo Vindicatto, com direção do José Lavigne e supervisão do Cacá Diegues.
Neste trabalho, serei o detetive particular Soares, mestre dos disfarces e que vai dar pano para manga com muitas caracterizações bizarras e engraçadas. Estou gravando também a série educativa "Télos", idealizada pela startup de educação, que leva o mesmo nome.
O objetivo é que os vídeos ajudem os alunos do Ensino Médio, universitários e recém-formados por meio dos conteúdos de temas abordados como empreendedorismo, marketing digital, investimentos e tecnologia. Eu estarei na temporada de empreendedorismo e serei o executivo Glauco. Tem ainda o meu projeto multimídia, o “Humanidade, Embaralha e dá de Novo”, que conta com um espetáculo teatral, podcast e documentário. Estamos no processo de criação e aprimorando o projeto, que precisou ser adiado devido à pandemia, mas vamos fazer um podcast primeiro. E a última novidade é o musical “A Noite de Meu Bem”, adaptação do romance de Ruy Castro que idealizei e estamos levantando a produção para o final desse ano, ufa!
iG Gente: Você acredita que o machismo tem sido cada vez mais eliminado do humor?
Nelson Freitas: Olha, o mundo está passando por grandes transformações, não apenas tecnológicas que são tão surpreendentes, mas, sobretudo, comportamentais. Muitas coisas que eram consideradas normais há anos, hoje já não são e fim de papo. Como uma roupa que não te cabe mais, não adianta insistir... não cabe mais.
Eduardo Galeano tem uma frase mágica que diz: “somos aquilo que fazemos, mas, sobretudo, o que fazemos para transformar aquilo que somos”. Tenho fé na Era de Aquário. Como diz o poeta, “ainda vai levar um tempo para curar o que feriu por dentro, é natural que seja assim, tanto pra você quanto pra mim”.
iG Gente: Você está acompanhando o BBB 21? Se sim, o que está achando da Carla Diaz com quem você atuou em Chiquititas?
Nelson Freitas:
A Carla Diaz é uma pessoa extraordinária. Desde que a conhecemos, ainda menina, em Chiquititas, ela já se mostrava com uma personalidade e um caráter surpreendentes para a pouca idade. Foi um processo muito doloroso o fim da novela, que durou quatro anos, para todas as crianças que tiveram que se reinventar depois de tanto sucesso. A Carla foi uma das que se manteve sempre ativa e determinada e isso ela está mostrando no programa. Como todos estão acompanhando, é um ser encantador e certamente vai se sair muito bem no grande desafio. Estou torcendo muito!