Em fevereiro, Iza e o cantor americano Maejor se encontraram em São Paulo para gravar o clipe de “ Let me be the one ” (“Deixe-me ser o único”, numa tradução livre) — tema da campanha mundial em prol dos refugiados, da fundação Humanity Lab com a Organização das Nações Unidas (ONU). Dias depois, todo o planejamento de divulgação foi repensado. Culpa da pandemia do novo coronavírus .
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Depois de mais três meses, enfim, o clipe ganha vida a partir desta quinta-feira nas plataformas digitais (veja abaixo), mostrando uma Iza que sabe usar a sua imagem em prol do coletivo e de temas importantes.
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Nesta entrevista , ela não foge de assunto “pesadão”: explica como mergulhou de cabeça na campanha humanitária, fala sobre racimo e da importância do posicionamento da classe artística em meio à crise política que o país enfrenta.
Como funciona na prática a campanha que tem como pano de fundo essa parceria musical sua com Maejor?
Nós fomos convidados para ser embaixadores dessa iniciativa. Vamos falar não só do respeito e da empatia, mas também do consumo consciente e do meio ambiente. E tentaremos arrecadar recursos para ajudar ONGs que lidam diretamente com a questão dos refugiados.
O Maejor parece gostar muito do Brasil (o americano participou do clipe “Vai, malandra”, com Anitta). Vocês mantiveram contato depois?
Ele parece até brasileiro. Tem uma energia muito tranquilona. É um artista que admiro e acompanho. É um cara muito fiel ao que acredita. Foi uma grata surpresa saber que o artista que sigo é tão gente boa.
O que a surpreendeu nos seus estudos sobre o tema dos refugiados?
Eu estou aprendendo muito. No Brasil, o maior número de refugiados é formado por negros. Essas pessoas enfrentam questões adversas diariamente, como a pobreza, a falta de assistência pública e de proteção do estado. A gente não tem que ser receptivo só com as pessoas que vêm a passeio para o Brasil. Temos que ter essa empatia também com as que nos pedem asilo.
Você viu?
Sobre essa questão racial, você é uma artista muito admirada pelo movimento preto. Como encara isso?
Recebo essa responsabilidade como um presente. O que eu já passei, acho que a maioria dos negros do nosso país também já passou. E olha que me considero uma pessoa privilegiada, por causa da minha educação, por ter estudado em escolas que me capacitaram. Sou uma exceção, infelizmente. Então entendo que, quando falo das minhas dores e vitórias, estou falando para muitos de nós que precisam criar coragem para enfrentar tantas barreiras que a sociedade nos impõe.
E você ainda sente o racismo?
Acho que as pessoas se calam e pensam 15 vezes antes de falarem algo na minha frente. O que é podre. Hoje, quando entro numa loja extremamente cara, sei que muitos vendedores querem me atender porque sou famosa. Eles sabem quem eu sou. Se fosse anônima, estaria enfrentando as mesmas condições que já vivi antes da fama: os olhares tortos. Então, sinto que tenho a obrigação de falar e lutar por essas coisas.
Recentemente, o youtuber Felipe Neto cobrou de artistas uma postura mais ativa com relação a temas políticos. O que você pensa sobre isso?
A forma que você se comunica ou que deixa de falar sobre certas coisas fazem parte das suas escolhas. Eu, como artista, acredito que temos obrigação de nos posicionar e refletir sobre a época em que vivemos. Nossas escolhas podem influenciar toda a nossa vida.
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Como você tem vivido esse isolamento social?
No fim do ano passado, eu decidi que daria uma parada entre os meses de abril, maio e junho. Queria um tempo para planejar o próximo álbum e ficar com a família, mas não imaginei que ficaria trancada em casa. Só que não está fácil para ninguém. No primeiro mês, foi surto puro, ninguém sabia o que estávamos enfrentando. Acho que agora estou um pouco mais produtiva. Agradeço muito a Deus, porque sei que muitas pessoas estão penando com tudo isso. Agora, eu estou vivendo uma vida de casada com o meu marido que não tínhamos antes. Estamos há dois meses em casa e isso tem sido muito bom para a gente. Estamos em lua de mel.
Confira o novo clipe de Iza :