A libertação de Maria Bruaca (Isabel Teixeira), em "Pantanal", é um dos assuntos mais comentados pelos espectadores da novela da TV Globo. Após ser destratada por anos pelo marido Tenório (Murilo Benício), a personagem, que descobriu que era traída, decidiu não aceitar mais o papel de submissa. Ela, agora, se coloca em primeiro lugar e não aceita mais o desrepeito do cônjuge. Mas, além dela, outras mulheres também ficaram à sombra de homens na novela.
Maria Bruaca
Maria, chamada de Bruaca pelo próprio marido Tenório, era tratada como empregada. Ela estava ali para cozinhar, lavar, passar e servir. “A relação é muito marcada pelo patriarcado, ele [Tenório] era o dono dos interesses e das vontades dela e ela [Maria Bruaca] deveria ser subserviente a ele", diz Maria Cristina Mungioli, professora da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo.
A especialista continua: “Maria aceitava isso porque pensava que era algo normal, reforçando a ideia da família patriarcal. A personagem mal fala com ele, em várias cenas, aparece de costas para falar. Uma situação que mostra que a mulher não tem direito de se expressar, só tem direito de seguir a ordem do marido”, completa a professora.
Porém, após anos de repressão, Maria se libertou. Após descobrir que Tenório tinha outra família em São Paulo e a traia, a dona de casa decidiu deixar o papel de “esposa perfeita”. Parou de servir o empresário e passou a fazer o que tinha vontade: saiu para conhecer o Pantanal e até deu um beijo e se aproximou de Alcides (Juliano Cazarré), com quem terá um romance. Maria Bruaca também se envolve com Levi (Leandro Lima). No entanto, outras personagens, também submissas a homens, não tiveram a mesma atitude.
Além de Maria, outras personagens estão na sombra dos homens em “Pantanal”
Filó
A grande companheira de José Leôncio (Marcos Palmeira) é Filó (Dira Paes). A personagem, que já se relacionou com o peão e até teve um filho com ele, é colocada no enredo como a empregada. No posto, ela não perde o respeito e a consideração do patrão e age muitas vezes como conselheira. Mas o papel de esposa e mãe do filho dele não lhe é concedido oficialmente.
“Filó aparece algumas vezes como uma empregada que toma conta da casa e da fazenda e outras vezes como companheira dele [José Leôncio]. Há uma relação meio ambígua e complicada entre eles”, explica Mungioli, que completa:
"E ela aceita isso, não pensa que é dever dele reconhecer o filho, por exemplo. Não guarda mágoas. Filó reproduz muito desse valor do homem estar num plano superior ao da mulher na sociedade”.
Madeleine, Irma e Mariana
Além dela, Madeleine (Karina Teles) também era subordinada a José Leôncio na trama. Apaixonada pelo peão, a mocinha se casa e passa a ser sustentada por ele. Ela também é obrigada a se mudar para o Pantanal, e se adaptar à realidade do marido, para que ele siga com os negócios. Ou seja, a vida da personagem começa a girar em torno da do cônjuge.
E a decisão de mudar drasticamente de vida não parte de Madeleine e sim do pai Antero (Leopoldo Pacheco). “O pai aceita o casamento com José Leôncio, embora ele não o conheça, por saber que o peão é rico, até porque Antero está em uma situação de falência no Rio de Janeiro”, pondera Mungioli.
A professora, então, diz que Madeleine foi utilizada como uma moeda de troca pelo pai: “Então, ele troca a filha como se fosse um objeto pelo qual ele vai obter lucro, como se fosse uma moeda de troca. Lembra muito aquelas situações em que a menina é trocada por um dote”.
E assim como Madeleine, que já se despediu da trama, a irmã, Irma (Camila Morgado), e a mãe, Mariana (Selma Egrei), também são dependentes de uma figura masculina em toda a trama. “Essas mulheres, apesar de terem estudado e terem um refinamento social, não se tornaram autônomas, sempre são protegidas por outros homens”, pontua a especialista.
“Madeleine tinha uma instabilidade muito grande, não conseguia se manter de uma maneira autônoma, não tinha uma profissão que a deixasse menos vulnerável. A mesma coisa acontece com a irmã, elas são mulheres dependentes de um homem que seja um provedor da família. E essa cobrança em relação ao Jove também existe, mas é minimizada pela ausência da figura paterna”, analisa Mungioli.
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Ela também comenta sobre Mariana, com uma postura diferente, mas, mesmo assim, sempre acata a vontade dos personagens masculinos: “A mãe da Madeleine demonstra mais força, mas quem dá a palavra final na família sempre é um homem”.
Vale lembrar que Mariana seguirá os passos de Irma e também vai morar com José Leôncio depois da morte de Madeleine. Ou seja, irá atrás do suporte de uma figura masculina. Também é importante ressaltar que a novela tem uma trama que gira em torno de três homens: Joventino, José Leôncio e Jove. “'Pantanal' traz uma saga familiar centrada nos personagens masculinos, traz um recorte através do protagonismo desses homens”, finaliza Mungioli.