O lado B dos realities - o que as câmeras não mostram: fakes
Entrar no “Big Brother Brasil” (TV Globo) é um sonho de muitos brasileiros. Seja pelo prêmio de R$ 1,5 milhão ou pela fama conquistada ao aparecer por três meses no horário nobre de TV Globo. Porém, “se querer é poder tem que ir até o final”, não só no programa, mas, antes disso, no árduo processo seletivo realizado pela produção do reality para escolher os moradores da casa mais vigiada do Brasil.
O processo dura em média dez meses. Na maioria das vezes ele é aberto nas últimas semanas da edição vigente e permanece até poucos dias antes de iniciar a próxima. Durante a seletiva, os candidatos são avaliados de diferentes formas. São vídeos, questionários, dinâmicas, entrevistas, e-mails e entrevistas com familiares. Tudo lembra um processo seletivo para um emprego. A grande - e dolorosa - diferença, porém, é que para o “BBB” a produção nunca deixa claro se você está aprovado ou não.
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A morosidade da seleção somada a falta de respostas faz com que os candidatos fiquem com a ansiedade a flor da pele. Não existe retorno por parte da produção se você passou em cada uma das etapas e, em um português claro, você só fica sabendo que não foi escolhido para o reality quando o programa começa e você está na sala de casa. A solução encontrada por alguns candidatos para acalmar os ânimos e ter um bom desempenho durante as fases das seletivas veio da internet: uma rede de colaboração entre fakes.
O lado ‘B’ das seletivas
Amargando da ansiedade de um processo seletivo longo e que, no final, pode mudar a vida do candidato, os inscritos do "BBB" passaram a se organizar nas redes sociais de maneira sigilosa para trocar experiências, informações e dicas sobre as seletivas. Uma das regras da produção é a confidenciabilidade tanto da identidade dos candidatos como das dinâmicas do processo. No entanto, nesses grupos só uma das regras é obedecida: a identidade permanece anônima, mas as fases do processo são compartilhadas.
O iG Gente conversou com dois fakes que fazem parte desses grupos. Um se denominou como Iguinho e o outro preferiu não deixar um apelido. No texto, vamos chamá-lo NJ. Os dois se inscreveram mais de uma vez no BBB e chegaram ao grupo de fakes com o mesmo objetivo: se preparar melhor para as fases da seletiva, além de ficar por dentro do que está acontecendo.
Iguinho participa de dois grupos e afirma que a rede de colaboração anônima reduz a ansiedade, já que traz informações do andamento do processo. “Hoje, me informaram que a região centro-oeste já está recebendo e-mail para as entrevistas virtuais. Sem esses grupos, eu jamais teria essas informações”, explica sobre o processo já para a 23ª edição.
NJ, por sua vez, está em um único grupo. Ele conta que neste também existe dicas mútuas de como se preparar. Uma das integrantes do grupo dele, por exemplo, já deu dicas para outra participante de como melhorar o vídeo de inscrição. O episódio surgiu na contramão das regras, pois a integrante fake revelou a identidade tamanha confiança na "comunidade". “Esse ano uma pessoa contou que tinha feito a inscrição, mas não estava satisfeita com o vídeo e compartilhou com os demais fakes para receber dicas”, conta.
A rede de colaboração entre eles é tamanha que, após um participar de uma entrevista com a produção, ele retorna e conta para os colegas o que está sendo perguntado. Qual foi a dinâmica aplicada pela produção da TV Globo, por exemplo, é uma informação valiosa para que os outros se preparem.
Os fakes ainda se mantêm informados em relação às datas de cada fase do processo. Desta forma, mesmo sem receber uma negativa oficial da produção do BBB, um candidato entende que não foi aprovado para as demais etapas da seletiva, o que “ajuda a reduzir a ansiedade”, seguindo Iguinho.
Qual é o combinado entre os fakes?
Além da preservação da identidade, os fakes combinam um tipo de alerta para avisar aos integrantes do grupo caso um deles entre no reality. Frases ao entrar na casa, roupas específicas, uma determinada música, tudo isso é sinal para avisar ao grupo que ele era o anônimo que estava lá.
“A gente tem um combinado que é usar alguma roupa com a característica ou falar alguma coisa. Eu até brinquei que se eu entrasse esse ano que vem, eu ia falar alguma coisa relacionada ao space [grupos de comunicação do Twitter]”, explica NJ.
O usuário defendeu, entretanto, que o principal acordo entre os anônimos é a colaboração e descartou qualquer concorrência. “Olha, nós temos um espírito de se ajudar. Tipo assim: queremos que pelo menos uma pessoa do nosso grupo entre. Sabe? A gente não se enxerga como concorrente porque sabemos que são perfis diferentes, então, não há disputa”, pontua.
Ex-BBB’s também já foram fakes
A rede de colaboração entre anônimos já ajudou alguns fakes que entraram no "BBB". Os nomes de Vyni e Eslovênia, do "BBB 22", e de Sarah Andrade, do "BBB 21", foram citados pelos entrevistados. Segundo eles, esses ex-BBB’s também já participaram de grupos anônimos antes de entrar na casa.
Outro nome que já deixou claro que aproveitou muito dos grupos anônimos para se preparar para o reality é o de Gil do Vigor. Todos os entrevistados afirmaram que Gil era um fake bastante empenhado nas causas dos grupos.
“O Gil usava um fake com nome de Cláudio. Um dos meus amigos, inclusive, estava no grupo com o 'Cláudio' e contou que ele era um dos mais pilhados. Ele ficava o dia todo mandando mensagens". No twitter, Gil já confessou que usava um fake, mas que vai manter isso em segredo por um tempo. Procurado pelo iG, o ex-BBB preferiu não se pronunciar sobre o processo seletivo do Big Brother, uma vez que ele possui contrato de confidenciabilidade vitalicio com a TV Globo.
No entanto, em conversa com o “PodPah”, há três meses, o economista revelou que durante o processo ele fez amizades verdadeiras com outras pessoas “tudo no sigilo”.
“Eu fiz amigos durante esse processo, amigos de verdade que eu nunca imaginei. Tudo no sigilo, né? Mas fizemos uma amizade. São pessoas que eu sei que dariam a vida, que entrariam com tudo. Eu tenho uma amiga que o nome dela é 'oi', quando eu entrei lá [no BBB] comecei a gritar: ‘Oi, amiga, eu te amo’. Nós ficávamos das 22h até as 6h falando de Big Brother”, revelou.
O fake de Gil também foi citado pela ex-BBB Tereza Souza, participante da 19ª edição. Em conversa com o iG, a psicanalista revela que “Cláudio” conversou com ela durante muitos meses e combinou que, se entrasse no reality, a mãe dele entraria em contato para agradecer. Dois dias depois do começo do “BBB 21”, dona Jacira, mãe de Gil, telefonou para Tereza.
Enquanto fake, Gil também conversou com Larissa Ferreira, youtuber produtora de conteúdos, sobre o BBB. No entanto, isso é tema para a segunda reportagem da série “O lado B dos realities - o que as câmeras não mostram”, que vai ao ar na próxima segunda-feira (11).
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