Sempre que Eduardo Moscovis surge em “ Bom dia, Verônica ” dá um frio na espinha. Na série da Netflix, ele é Brandão, policial que espanca a mulher (Janete, vivida por Camila Morgado) e assassina garotas. O ator está irreconhecível. Não só pela atmosfera sinistra da interpretação, mas pela aparência. No lugar daquele gato sarado das novelas entra uma figura com papo no pescoço, barriga saliente e zero de sex appeal. Mas ele acha injusto tanta surpresa.
"As pessoas falam: ‘ah, você faz mocinho’. Não têm conhecimento dos anti-heróis que já interpretei. Dizer que só faço galã é fechar demais num escaninho, sabe?", desabafa.
Você viu?
O incômodo com o estereótipo vem de um tempo. Em 2006, Du (para os íntimos) decidiu não renovar contrato na TV. Preferiu a liberdade de escolher projetos no teatro e no cinema — e arcar com as consequências disso (“não tenho salário, estou há oito meses sem receber nada por causa da pandemia”).
Ele segue seu caminho. Está em três longas inéditos: “Pai em dobro” (nome provisório), dirigido por Chris D’Amato e com roteiro de Thalita Rebouças; “Eu e ela”, de Gustavo Rosa, e em outro longa de Chris, inspirado na peça “Intimidade indecente”, que foi rodado em 18 dias, durante a quarentena.
Nesta conversa, o ator conta que o fato de ter três filhas mulheres (Gabriela de 21, Sofia, de 20, e Manuela, de 13, além de Rodrigo, de 8) mexeu com ele na hora de encarnar um assassino de garotas em "Bom dia, Verônica" ("me senti fragilizado"). Na série, ele também deixou a vaidade de lado ("me preocupei em me largar, em não encolher barriga"). Du também fala da perda do único irmão ("foi no Natal passado, um dia depois do aniversário da minha mãe"), do que sente quando recebe elogio aos fihos ("fico com olho cheio d'água'"), da descontrução interna do machismo ("tento quebrar isso em mim") e de como se sente aos 52 anos ("felizão, vários flagrantes... Mas é isso, não tem fingimento").