A Band começou 2018 com uma nova estratégia para sua programação. Focando na competição com as concorrentes, apostou em novos nomes, criou atrações e fez, inclusive, algo que a Record não faz: reestruturou sua grade e se comprometeu com isso, criando o hábito que estamos tão acostumados a ver na Rede Globo, por exemplo.
A ideia não era ruim: Amaury Jr. para as madrugadas, Cátia Fonseca para as tardes de semana, Datena aos domingos, mulheres no comando de um matinal. Tudo isso baseado na própria programação dos concorrentes, e partindo do princípio que, se eles conseguiam, a Band conseguiria também.
O problema é que, para superar o Faustão, tem que ser melhor que o Faustão. Para superar o “Fofocalizando” e a Sonia Abrão, tem que ser melhor que ambos e em nenhuma de suas tentativas, a emissora conseguiu ser melhor que seus concorrentes. Sendo assim, a ideia de se reestruturar foi por água abaixo, a audiência não subiu, alguns nomes cotados já se debandaram do canal e a “prata da casa” Datena se tornou um problema.
Todos os sonhos da Band em 2018 foram desfeitos em 2019 e a emissora tem a difícil missão de se manter relevante. Hoje, o máximo que o canal atinge de audiência é 3,5 de média com o “Jornal da Band”. A pior média da Record , por exemplo, é de sete pontos durante o final da tarde. Já a principal concorrente direta da Band, a Rede TV! , chega a 3,9 com o “Encrenca” aos domingos, atingindo picos regionais que superam os cinco pontos.
Um ano de azar
De todas as novidades anunciadas pela Band em 2018, apenas o “Melhor da Tarde” da Cátia Fonseca segue no ar. Ainda assim, a atração dificilmente supera os dois pontos. Outras tantas atrações anunciadas como “SuperPoderosas”, “Cozinha do Bork” e “Show do Esporte” ficaram pouco tempo no ar antes de serem descartadas, e duas das maiores apostas para “chacoalhar” a programação se tornaram problemas, como Amaury Jr. que, depois de um ano, rescindiu o contrato com o canal para se dedicar a uma emissora em Orlando, Flórida (EUA).
Além dele, Roberto Justus entregaria uma nova temporada de “O Aprendiz” que ele mesmo vendia como diferente e feita do seu jeito. Adiada pela Band, a atração terá nova chance em 2019, agora com digital influencers como participantes. Um ano depois, a atração ainda é a grande aposta da emissora. As gravações começaram no início de fevereiro e vai ao ar a partir de março.
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O problema Datena
Um dos maiores nomes da emissora, Datena está diariamente à frente do policialesco “Brasil Urgente”, mas ganhou uma nova atração, mais despojada, aos domingos. Denominada “Agora É Com Datena”, a novidade já começou cansativa com seis horas de duração e mostrou que Datena não tem o mesmo faro para o entretenimento como para o jornalístico.
O apresentador, porém, decidiu se afastar da atração para se candidatar ao Senado, só para desistir da política e voltar para a TV. Quando isso aconteceu, o dominical já chamada “Agora é Domingo” e dividida o horário com o “Brasil da Gente” de Netinho de Paula.
O programa foi perdendo sua identidade de entretenimento e o apresentador começou a fazer algo similar com sua performance do “Brasil Urgente”, culminando no cancelamento da atração.
O “trunfo” de MasterChef em jogo
Um dos maiores sucessos da programação da emissora, mesmo que com pouca audiência, é o “MasterChef”, que tem versões amadores, profissionais e infantil. Mas, com a mesma fórmula desde sua estreia em 2014, o programa pode estar com os dias contados. Isso por que em 2019 ele terá dois concorrentes culinários: o “TopChef” que Felipe Bronze vai apresentar na Record e um recém-anunciado reality da Globo comandado por Claude Troisgros. Se não souber se reinventar, o sucesso da Band também pode perder terreno.
O canal do esporte e a reinvenção no jornalismo
A Band sempre foi considerada a emissora do esporte, com transmissões de campeonatos internacionais, como a Champions League. Mas eles perderam os direitos de transmissão e foram, aos poucos, deixando o futebol de lado.
Agora, há o interesse em retomar essa área, que ainda se destaca em atrações da tarde como “Jogo Aberto” e “Os Donos da Bola”. Em acordo com a Globo , detentora dos direitos de transmissão, a Band já confirmou a transmissão, em 2019, da Copa do Mundo Sub-20, A Copa do Mundo Feminina e a Copa do Mundo de futebol de areia.
Já nos jornalístico, a emissora sofreu uma grande perda com a morte de Ricardo Boechat , âncora do “Jornal da Band” morto na última segunda-feira (11). O jornalístico é o principal programa da emissora, muito por conta de Boechat, e agora será preciso se reestruturar internamente para conseguir alguém que tem a mesma força do jornalista.
Os esforços feitos pela emissora da Família Saad são louváveis, considerando o momento atual. Em crise, os Saad acumulam uma dívida bilionária, de acordo com Geraldo Samor, do Brazil Journal. Disputas familiares impulsionadas pelos débitos tem gerado incertezas no canal.
O Grupo Bandeirantes é um grande conglomerado de mídia, mas seu carro-chefe, sem dúvida, é a televisão. Para conseguir olhar para frente e repensar sua programação, a emissora precisa primeiro entender quem é que a assiste. Copiar os concorrentes sem critérios definidos resulta em programas genéricos que não atendem nem quem assiste a emissora, nem quem poderia abandonar as concorrentes.
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Daqui para frente, a Band terá que apostar em planejamento e, principalmente, ideias novas se quiser seguir no radar da TV aberta.