A Globo correu um risco quando apostou em “Verdades Secretas” no horário das 23h, apostando em uma trama original. Incialmente dedicado a remakes, o horário ganhou sua primeira produção original, que foi sucesso absoluto.
Depois disso seguiu outra adaptação, dessa vez da literatura, com “Liberdade, Liberdade”. Mas foi em 2017 que a Globo escorreu, ao adaptar uma novela inicialmente das 18h para a faixa com “Os Dias Eram Assim”. A trama original não se sustentou e, mesmo com uma redenção dos capítulos finais, foi cercada de críticas.
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Para tirar o gosto amargo que a produção deixou, a emissora retorna com “ Onde Nascem os Fortes ”, que estreou na última segunda-feira (23). O texto é de George Moura e Sérgio Goldenberg, que além de “O Rebu”, também assinaram minisséries de sucesso como “O Canto da Sereia” e “Amores Roubados”.
A escolha parece acertada. O texto não enjoa nem cansa, e tirando alguns diálogos mais explicativos de Cássia (Patrícia Pillar), não se excede em nada. O primeiro capítulo apresenta os personagens de maneira sutil, com exceção de Pedro Gouveia ( Alexandre Nero ).
No episódio, o vemos como chefe competente, amante, pai amoroso, marido em crise no casamento, e um homem ciumento e violento. Ainda assim, nada disso parece forçado e, mesmo com a violência, ele não se torna um vilão logo de cara.
A força de Maria
Outro destaque desse início foi a Maria de Alice Wegmann. Com um bom sotaque (que nem todos conseguem empregar – Nero se esforça, mas Débora Bloch não acerta), ela faz uma jovem que gosta de aventura, mas também mantém os pés no chão, principalmente quando se trata do irmão gêmeo Nonato (Marco Pigossi).
Os dois mostram uma relação muito forte, quase dependente, cumplice. Com o sumiço de Nonato, que será explorado nos próximos episódios, essa relação deve se intensificar na jovem em busca do irmão e da verdade.
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A tensão em “Onde Nascem os Fortes”
Cada personagem apresentado no primeiro capítulo tem um propósito único. Hermano (Gabriel Leone) faz despontar o amor em Maria, mas também será seu elo com Pedro, suspeito no sumiço de seu irmão.
Rosinete (Déborah Bloch) é o retrato realista da vida de Pedro, longe do sucesso no trabalho ou do romance com a amante Joana (Maeve Jenkins). “Não posso lhe esperar a noite toda Pedro” é a primeira coisa que ela diz ao marido quando se encontram. A frase é simples, mas tem muitas implicações relacionadas à vida conjugal dos dois e aos cuidados com a filha doente.
A Shakira do Sertão (Jesuíta Barbosa) faz uma breve, porém marcante aparição, como um contraponto para a dureza e aspereza do sertão. Colorida, sensual e destemida, ela surge “como uma deusa”, um prenuncio de que a personagem de Jesuíta deve roubar muito a cena.
Mas um destaque do episódio é a tensão, que surge como outro personagem, presente em quase todos os momentos. Está no diálogo citado acima, mas está também na apresentação de Nonato, bêbado em um bar. Surge mais tarde quando o jovem conhece Pedro, e até entre Maria e Hermano quando eles são apresentados.
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E é justamente essa tensão que paira que servirá como base para o suspense que estabelecerá. Com o desaparecimento de Nonato depois de apanhar de Pedro e seus capangas, a história deve girar em torno do que realmente aconteceu nessa noite,
Não dá pra saber, pelo primeiro capítulo, se a trama conseguirá sustentar sua profundidade ao longo dos meses. O trabalho de escultor dos autores e da direção da Globo resultou em um primeiro episódio ótimo em todos os aspectos: fotografia, roteiro, direção. Mas esse cuidado precisa se manter ao longo do tempo que ficar no ar.