É impossível falar sobre a televisão brasileira em 2017 sem citar “ A Força do Querer ”. Mais difícil ainda se o assunto for especificamente novelas. O ano começou fraco para os folhetins nacionais. Na Record, “A Terra Prometida” não alcançou o resultado esperado após “ Os Dez Mandamentos ” e “Escrava Mãe” não teve sucessora e o canal se viu obrigado a reprisar “Escrava Isaura”. No SBT, as coisas iam um pouco melhor com “ Carinha de Anjo ”, mas na Globo o ano começou amargo: “Sol Nascente” não agradou as 18h e “A lei do Amor” foi praticamente esquecida às 21h.

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Bibi perigosa reinou absoluta em
Divulgação/TV Globo
Bibi perigosa reinou absoluta em "A Força do Querer" que retornou o horário nobre a boa forma

A salvação da crítica no começo de 2017 foi “ Rock Story ”, que levou bons números para o horário das 19h e ainda trouxe de volta Vladimir Brichta , que estava afastado das novelas há 12 anos. Ainda assim, os outros fracassos fizeram com que o próprio formato fosse questionado, gerando uma dúvida se em 2017 veríamos uma nova fase nas novelas , atendendo ao público cada vez mais familiarizado com o streaming.

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Porém, em abril, Glória Perez chegou para provar que o formato ia muito bem, obrigada! Com “A Força do Querer”, ela voltou a subir os números do horário nobre, tornou a novela assunto nas mais variadas rodas de conversa, desenvolveu temas pouco explorados e de importância social, além de criar uma personagem icônica: a Bibi Perigosa .

Começo ruim

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Helô e Pedro não empolgaram como casal em "A Lei do Amor"

“Sol Nascente”, que estreou em 2016, se envolveu em polêmicas por conta do personagem de Luís Melo, que faz um oriental, gerando uma série de comentários negativos, já que ele claramente não é descendente. Além disso, Daniele Suzuki foi substituída mesmo depois de já ter começado a preparação para a personagem, gerando rumores de conflito entre ela e a protagonista Giovanna Antonelli. No geral, a novela não foi bem e acabou sem muito alarde.

Já na Record, “ A Terra Prometida ” foi bem e manteve uma média acima dos 20 pontos. Porém, ela não conseguiu alcançar o sucesso de “Os Dez Mandamentos”, sua antecessora e recorde de audiência da Record. O único ponto fora da curva foi o SBT que, apostando no nicho infantil, manteve boa média com “Carinha de Anjo”.

A Lei do Amor ” foi ainda pior: todos os clichês possíveis foram abusados na novela, as tramas sumiram no meio da história, os protagonistas não agradaram e bons atores, como Claudia Raia foram mal aproveitados. Com uma das piores audiências dos últimos anos no horário nobre, foi um alívio vê-la chegar ao fim.

A estrela do rock

Brichta voltou às novelas depois de 12 anos com o pé direito: ele protagonizou
Globo/Mauricio Fidalgo
Brichta voltou às novelas depois de 12 anos com o pé direito: ele protagonizou "Rock Story", sucesso no horário das 19h

Em meio a tantos fracassos, “Rock Story” se despontou como sucesso. Com audiência acima dos 30 pontos, a novela de Maria Helena Nascimento foi só elogios. Trouxe Brichta de volta as novelas, depois de muitos anos apenas em séries, como “Tapas e Beijos”. A improvável química com Nathalia Dill aconteceu e, mesmo usando o clichê das gêmeas boa e má, a novela não caiu na mesmice.

Recuperação

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Mauricio Fidalgo/TV Globo

"Novo Mundo" abusou da ficção e agradou

O horário das 18h começou a mostrar uma recuperação com “ Novo Mundo ”. A novela foi inovadora ao retratar acontecimentos históricos nacionais, misturada com ficção. Teve teatro, Ingrid Guimarães afiada na comédia como sempre, casal jovem, o bom retorno de Letícia Colin, Gabriel Braga Nunes funcionando melhor como coadjuvante, lutas de espada e, no geral, uma novela boa de assistir.

“Novo Mundo” foi substituída por outra novela de época, “Tempo de Amar”, que também tem agradado, com a leveza que o horário pede. Às 19h a sorte não foi a mesma e “Pega Pega” amarga no horário, um fracasso declarado com história mal desenvolvida e diálogos ruins.

As 23h, a situação não era tão diferente. “ Os Dias Eram Assim ” chegou com status de “supersérie”, mas na prática era como qualquer novela das 23h, com um porém: depois de começo interessante, a novela se perdeu e acabou patinando no horário, às vezes entrando mais cedo e às vezes mais tarde no ar. O resultado foi uma trama instável, que só conseguiu se acertar próxima ao fim.

“O Rico e Lázaro” sofreu de problemas similares. Encerrada em novembro, a novela da Record não trouxe o resultado esperado, deixando para “Apocalipse” a chance de subir no horário.

Reinado

Não teve para ninguém!
Divulgação/TV Globo
Não teve para ninguém! "A Força do Querer" reinou absoluta entre as novelas de 2017

Não teve jeito, esse ano foi de “A Força do Querer”. Alguns artifícios foram usados por Glória Perez tornando esse folhetim diferente, inclusive, de seus antecessores. De volta à paisagem brasileira, ela até criou um “mundo” dentro de Parazinho, mas a maior parte da trama se desenvolveu no Rio de Janeiro, o que evitou o conflito de culturas, viagens desproporcionadas e figurino típico, deixando a novela mais realista.

Outra novidade que deu muito certo foi o revezamento de protagonistas. Em tese eram três: Ritinha (Isis Valverde), Jeiza (Paolla Oliveira) e Bibi (Juliana Paes). Na prática, as personagens femininas foram tão bem desenvolvidas, que sobraram boas atuações e bons arcos, todos de alguma forma conectados. Da coadjuvante Dita, vivida pela talentosa Karla Karenina, até a Elis Miranda de Silvero Pereira e o transexual Ivan da atriz revelação do ano Carol Duarte. O único ponto negativo ficou por conta de Fiuk que mostrou, de vez, que não tem talento para atuação.

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Emoção

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Reprodução

Fiuk virou piada com péssima atuação em meio a bom elenco

Os momentos marcantes foram vários, do parto de Ritinha a confissão de Ivana (Carol Duarte), passando pelo vício de Silvana (Lilia Cabral) e a dificuldade de Joyce (Maria Fernanda Cândido) em aceitar o filho. Mas, durante os seis meses que ficou no ar, não teve quem superasse Juliana Paes. A atriz, que é uma das personalidades do ano do iG Gente , conquistou o público com a Bibi Perigosa, uma mulher apaixonada, inconsequente e capaz de qualquer coisa para manter sua família unida. Ela roubou a cena em todos os momentos: quando tacou fogo no restaurante para salvar a pele do marido, quando atacou sua amante no meio de uma festa, quando apontou uma arma para Jeiza e quando, finalmente, enfrentou o marido na cadeia e confessou que já o havia traído.

Superando por diversas vezes os 50 pontos, “ A Força do Querer ” salvou as novelas, o horário nobre e deixou os noveleiros de plantão aliviados com o futuro do formato.

Reviravolta

Porém, o ano não acabou e “A Força do Querer” já está fora do ar desde outubro. A novela foi substituída por “ O Outro Lado do Paraíso ”, de Walcyr Carrasco. O novo folhetim ainda não deu certo e já encarou uma série de problemas. O maior deles foi a diminuição de capítulos na primeira fase, acelerando a chegada da segunda. A ideia é emplacar o plano de vingança da protagonista, mas até agora, ainda não deu resultado. A Globo segue líder no horário, mas nem perto de alcançar os bons números de “A Força do Querer”.

Apocalipse leva novo viés as histórias bíblicas da Record, com trama que se passa no presente
Divulgação/Record
Apocalipse leva novo viés as histórias bíblicas da Record, com trama que se passa no presente

Claro, de vez em quando aparecem fenômenos que se superam. Foi assim com outras novelas de Glória Perez, como “O Clone”, ou sucessos recentes, como “Avenida Brasil” e “Os Dez Mandamentos”. O problema é que “Força” subiu o patamar para as outras tramas, e a novela de Carrasco, por enquanto, não soube manter. Diálogos fracos e polêmicas soltas e sem objetivo ainda seguram o folhetim.

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Mas, um novo ano vem aí. “ Apocalipse ” promete uma reforma nos contos bíblicos da Record, com trama focada no presente. Na Globo , a próxima novela das 18h vai se enveredar de vez no romance, com uma trama inspirada em Jane Austin. As 19h, Marina Ruy Barbosa e Bruna Marquezine vão atuar lado a lado em “Deus Salve o Rei”. Outra “Bibi Perigosa” não vai aparecer tão cedo. Mas, enquanto ela durou, deu gosto de ver.

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