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Arestas conceituais e frustração do público pelo esvaziamento emocional da grande resposta da série estão no topo das incongruências do arremate final

O trono de ferro foi derretido por Drogon, em profunda dor pela morte de Daenerys (Emilia Clarke) em uma das cenas mais simbólicas da história de “Game of Thrones” sobre os efeitos que o poder tem sobre as pessoas, mas simbolicamente o trono resiste e tem Bran da casa Stark (Isaac Hempstead-Wright) sentado nele.

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Divulgação
"Game of Thrones"

Se a solução aventada é um elogio da política, e especialmente uma deferência ao personagem (Tryion) que melhor fez uso dessa arte na série , é também a legitimação do arco de Bran, tão problemático e pouco sedutor do ponto de vista da audiência. O Corvo de Três Olhos tinha um plano e talvez ele não fosse tão altruísta assim. “ Game of Thrones ” terminou subvertendo expectativas, algo que fez tão bem em todo o seu curso, mas então porque o sentimento tão incômodo de insatisfação?

Primeiro porque não há nenhuma conexão emocional do público com o personagem e quando você constrói toda uma narrativa em cima de uma pergunta, no caso quem vai ficar no trono de ferro, você colocar lá no final alguém que não gera qualquer engajamento é um problema do ponto de vista da apreciação.

É, também, um problema dramático já que a criação de George R.R. Martin se capitaliza dramaticamente sobre escolhas de vida e morte que os personagens precisam fazer. Como bem disse Cersei (Lena Headey) na longínqua primeira temporada, “quando você joga o jogo dos tronos, ou você vence ou morre”.

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Bran Stark
Reprodução/HBO
Bran Stark

Esse descaracterizado Bran que virou o Corvo de Três Olhos sabia que seria o Rei dos Seis Reinos. “Por que você acha que eu cheguei até aqui?”, bradou para um Tyrion (Peter Dinklage) que se pegou na dúvida de quem estava manipulando quem. Se esse desfecho legitima Bran, que interferiu apenas o necessário para ajustar as peças que o favoreciam da maneira que o favoreceriam, vai contra a essência da série sobre o arbítrio desses personagens e o próprio escrutínio político que Tyrion tão bem representa.

Fosse Sansa (Sophie Turner) a escolha, essa conceituação do elogio da política talvez ficasse mais clara, mas a filha de Ned Stark não seria tão facilmente controlável por Tyrion como o irmão, aparentemente desapegado do Poder.

Além do mais, há outras arestas conceituais nessa resolução. Sete temporadas de guerras e dor, para um pequeno conselho de Lordes e Ladies de Westeros, cuja legitimidade é no mínimo contestável, eleger um rei (!), sem ouvir aquele que tem legitimidade ao trono e criou as circunstâncias para que aquela reunião fosse possível.

Essa cena como um todo é muito ruim. Não ajuda o fato de emendar uma das mais desajeitadas elipses de toda a série. Atrapalha, ainda, a atenção dispensada a Tyrion nas circunstâncias que ele se encontrava, por aqueles Lordes e Ladies.

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Reprodução/HBO
"Game of Thrones"

É inegável que esse desfecho poderia ser melhor engendrado se David Benioff e D.B Weiss dispusessem de mais tempo para maturar a resolução da série, cuja oitava temporada correu mais que Usain Bolt, mas também é inegável que não se pode julgar como ruim um desfecho premeditadamente frustrante.

Bran no trono não é um elogio da política por mero caso. É a expressão de que a roda continua girando, a despeito dos esforços genuínos de muitos em quebrá-la e de como esses esforços são suplantados pelo gênio político de figuras como Tyrion, Sansa e Bronn (Jerome Flynn), o mercenário que ascendeu a Mestre da Casa das Moedas em “ Game of Thrones ”.

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