Para Roberto Rios, da HBO, a prática de maratonar uma ou mais séries, já muito difundida atualmente, não vai limitar a popularização de novas ideias
Falta pouco para o fim definitivo de Game of Thrones — e para aquilo que muitos consideram ser o último fenômeno da cultura pop capaz de mobilizar diante da TV, ao mesmo tempo, milhões de espectadores ansiosos pelas reviravoltas que vão dominar as conversas do resto da semana.
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Para os defensores dessa tese, depois deste 19 de maio, quando for ao ar o derradeiro episódio, voltaremos à era do streaming , em que vale mais a prática do binge watching (maratonar, em bom português) na hora em que o consumidor quiser. Será que o cenário preocupa executivos de TV? Ou quem sabe eles andam empolgados com novas ideias?
"Todas as alternativas anteriores", responde Roberto Rios, vice-presidente de produções originais da HBO na América Latina, em entrevista durante o Rio2C, onde participou de uma mesa. "Mas uma experiência não deveria limitar outra. O fenômeno Game of Thrones não teria acontecido se tivéssemos colocado a temporada inteira de uma vez numa plataforma. Há espaço para todos os formatos".
A estratégia a partir de agora, ao menos para as produções latino-americanas, diz o executivo, é seguir apostando em episódios semanais — e em histórias muito específicas. Em abril, por exemplo, o canal anunciou a produção brasileira “Todxs”, sobre um jovem pansexual e de gênero não binário que decide largar a família no interior e se mudar para São Paulo.
Criada por Vera Egito (“Amores urbanos”, de 2016), Heitor Dhalia (“O cheiro do ralo”, 2006) e Daniel Ribeiro (“Hoje eu quero voltar sozinho”, 2014), a série dividida em oito partes vai se juntar a um line-up nacional que inclui “Santos Dumont — Mais leve que o ar”, biografia do inventor brasileiro; e “Pico da neblina”, sobre uma São Paulo alternativa em que a maconha foi legalizada. Nenhuma tem data de estreia.
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"Não dá pra contar a história de um contador que acorda, trabalha, volta pra casa, janta e dorme", defende Rios. "Por isso a busca é por ângulos e personagens diferentes, o que viemos fazendo desde 'Mandrake' e 'Filhos do carnval' (2005 e 2006) até, recentemente, com 'Magnífica 70' e 'Psi', esta sobre casos clínicos e comportamento humano a partir do olhar de um psicanalista".
Mas há fracassos, reconhece ele — que se recusa a dar exemplos ou revelar números de audiência. "De forma geral, concordamos que uma obra poderia ter sido mais bem sucedida se houvesse mais recursos e tempo de produção. O risco faz parte do processo, mas minimizamos resultados abaixo do esperado com a consciência de que investimos em qualidade. O que não quero é que você não goste de uma série por ela ter sido feita de qualquer jeito", diz.
Entre os casos de sucesso está a mexicana “Sr. Ávila”, que deu a Rios um Emmy Internacional de melhor programa em língua não inglesa, em 2017 (ele produz todas as séries feitas no continente). Mas qual, afinal, a importância das atrações latino-americanas para a HBO como um todo?
"Simone Spoladore (protagonista da brasileira 'Magnífica 70') já foi reconhecida em Londres. Uma vez Matt Groening (um dos criadores de 'Os Simpsons') falou que amava 'Epitáfios' (série argentina de 2004). E um cara da imigração americana disse que adorava 'Sr. Ávila' quando eu disse que trabalhava na HBO. Esses exemplos de satisfação dão uma dimensão da importância", comenta Rios, novamente sem falar em audiência.
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Em tempos em que o audiovisual brasileiro se vê ameaçado por paralisações na Ancine , o órgão que regula e fomenta o setor, o executivo e produtor encara a televisão como área segura para os profissionais. "Nunca utilizamos recursos públicos. As séries são financiadas com dinheiro próprio", garante.