A atriz Salma Hayek veio à público na última terça-feira (12) para expor a sua relação com o produtor Harvey Weinstein, acusado de abuso sexual e estupro de mais de trinta mulheres em Hollywood . Em um artigo publicado no The New York Times , a atriz chegou a afirmar que não quis falar antes sobre o caso porque não considerava sua voz importante e que não faria a diferença.

Salma Hayek escreveu um relato sobre sua relação com Harvey Weinstein, que produziu o longa
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Salma Hayek escreveu um relato sobre sua relação com Harvey Weinstein, que produziu o longa "Frida"

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“Talvez isso tenha sido um efeito das muitas vezes que me disseram, especialmente Harvey Weinstein, que eu não era ninguém” afirmou a atriz, que foi indicada ao Oscar 2002 por sua atuação como Frida Kahlo, no filme “Frida”.  Segundo a atriz, desde que iniciou a sua carreira no mundo das artes e conseguisse papel em filmes como “A Balada Do Pistoleiro” e “E Agora, Meu Amor?” o produtor tornou-se “o mago de uma nova onda de cinema que levou conteúdo original para o maisntream” e, para ela que era uma atriz mexicana, ainda era inimaginável aspirar estar em Hollywood.

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Quando começou com o trabalho “Frida”, um projeto pessoal seu, a atriz conta que conseguiu que Weinstein dissesse sim para trabalho, o que para ela era uma grande alegria diante do contexto que se encontrava. “Mal eu sabia que seria minha vez de dizer não. Não para abrir a porta para ele em todas as horas da noite, hotel após hotel, localização após localização, onde ele apareceria inesperadamente, incluindo um local onde eu estava fazendo um filme que ele nem estava envolvido”, escreve a atriz. Hayek ainda afirma que ele insinuou para que os dois tomassem banho juntos, que ela fizesse massagem nele, recebesse sexo oral e ficar nua com outra mulher. “Eu não acho que ele odiasse nada mais do que a palavra ‘não’. O absurdo das suas demandas passou de um chamado furioso no meio da noite pedindo para que eu despedisse do meu agente por uma briga que ele estava tendo com ele sobre um diferente cliente para me fisicamente me arrastar para fora da abertura de gala do Festival de Cinema de Veneza, que era em homenagem a ‘Frida’, para que eu pudesse ir a sua festa particular com ele e algumas mulheres que eu pensava serem modelos, mas me contaram mais tarde que eram prostitutas de luxo”, comenta.

Hayek ainda conta que Weinstein passou de persuasão para um ataque de fúria, em que inclusive ameaçava-a de morte “Eu vou te matar, não pense que eu não posso”, dizia o produtor à atriz. Outro fato que Hayek expõe é que o produtor constantemente afirmava que ela não era ninguém em Hollywood e tentava obriga-la a fazer uma série de tarefas difíceis em um prazo pequeno, como por reescrever o script sem pagamento adicional ou conseguir U$ 10 milhões para financiar o filme. Harvey ainda ficou irritado com a forma como Hayek interpretava Frida no filme, com a deficiência na perna e com as sobrancelhas unidas. “Ele me disse que a única coisa que queria de mim era o meu apelo sexual e que não havia nada disso neste filme. Então ele me disse que ia fechar o filme porque ninguém gostaria de me ver nesse papel”, conta.

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Cedendo às pressões

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Salma Hayek em "Frida"

Durante a execução do filme, Hayek conta que ele ainda tentava satisfazer os seus fetiches sexuais com duas mulheres, demandando que deixaria ela continuar o filme se fizesse uma cena de sexo com outra mulher com nu frontal. “Eu tive que dizer sim. Até então tantos anos da minha vida tinham entrado nesse filme. Nós estávamos cerca de cinco semanas gravando e eu convenci tantas pessoas talentosas de participar. Como eu poderia deixar seus trabalhos magníficos se perderem?”, explica Hayek, que ainda conta que pediu por muitos favores e a cena “sem sentido” seria a forma de demonstrar agradecimento a todos que acreditaram nela.

No dia da gravação, Hayek conta que chegou a ter que tomar um tranquilizante de tão nervosa que estava. “Não era porque eu tinha que ficar nua com outra mulher. Era porque eu tinha que ficar nua com outra mulher para Harvey Weinstein. Mas eu não podia contar isso para eles naquela época”, escreve.

Mais tarde, quando Harvey Weinstein chegou a ver o filme, ele afirmou que não era bom para os cinemas, o que foi contestado pela equipe e, mais tarde, desmentido pela audiência. “E novamente, eu ouvi Harvey irar. No lobby de um cinema após a exibição, ele gritou para Julie [Taymor]. Ele empurrou um dos cartões de pontuação e jogou-o para ela. Isso saltou para seu nariz. Seu parceiro, o compositor do filme Elliot Goldenthal, entrou, e Harvey o ameaçou fisicamente”, conta. O filme conseguiu emplacar nos cinemas dos Estados Unidos e ser indicado a premiações ao redor do mundo. Hayek termina o seu texto comparando a diferença de gênero no cinema e ainda afirma: “Eu tenho que dizer que às vezes ele foi gentil, divertido e espirituoso - e isso foi parte do problema: você nunca sabe quais os Harvey que você irá encontrar”.

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