Pesquisar “Melhor do que nos filmes” no TikTok é sinônimo de encontrar uma série de vídeos dedicados à primeira comédia romântica publicada por Lynn Painter. O livro é mencionado entre diversas recomendações de produtores de conteúdo literário e em publicações de fãs exaltando a história. A obra da norte-americana é exemplo de como o “BookTok”, comunidade literária na rede social, pode impactar e transformar a carreira de um autor.
Publicado originalmente em 2021 nos Estados Unidos, o livro chegou ao Brasil neste ano já como um best-seller do “The New York Times” e queridinho entre leitores de romances adolescentes. Ao iG Gente, Lynn diz que não esperava o aumento da repercussão da obra em um curto período. “O livro se saiu muito bem quando foi lançado. Não foi como um sucesso de bilheterias nos cinemas, mas não foi como se ninguém tivesse comprado. Foi apenas um bom lançamento”, relembra.
No entanto, bastou uma menção de uma influenciadora literária para o cenário mudar. “Então Haley Pham disse que esse era o livro favorito dela. De repente, comecei a receber muito mais menções e tags nas redes sociais”, conta, sobre o impacto da indicação da americana, que apresenta quase 5 milhões de seguidores totalizando os admiradores do Instagram, YouTube e TikTok.
Painter descreve como a “tempestade perfeita” a citação da influenciadora ocorrer naquele momento, em que a escassez de papel causou uma crise no mercado editorial. “Nessa época, os livros ficaram indisponíveis. Mas quando o livro de bolso foi lançado em julho do ano passado, havia uma demanda criada nas redes sociais”, esclarece.
A autora expõe a gratidão pelas pessoas que criam conteúdos sobre “Melhor do que nos filmes”, de “vídeos de ‘aesthetic’ ao som de Taylor Swift e Gracie Abrams”" às postagens em que vê o público convencido a conhecer o trabalho dela. “Vejo os comentários e as pessoas falam: ‘Ah, vou ter que ler agora’. E eu penso: ‘Deus te abençoe. Nós não merecemos isso’”, pontua.
“Não sei ao certo como utilizar isso como marketing, porque tive sorte e aconteceu comigo, mas não fiz necessariamente nada para impulsioná-lo [o livro]. Não sou uma TikToker, então é incrível. O ‘BookTok’ está fazendo muito pelos livros, mas ainda não tenho certeza se os autores realmente sabem como aproveitá-lo. É apenas sorte as pessoas usarem dessa forma [a comunidade]”, analisa.
Lynn Painter reconhece que viralizar com os livros nas redes sociais não é “necessariamente algo que vai dar dinheiro”, mas afeta a relação prática com as editoras em futuras publicações. “Isso não é um palpite, sei que os editores absolutamente olham não só para as informações de vendas de livros anteriores, mas para o que está acontecendo nas redes sociais”, destaca.
“Se você tem essa grande presença ou suporte no ‘BookTok’, ou ‘Bookstagram’, isso diz às editoras que este livro tem potencial. Assim, é provável que eles se arrisquem com o que você está oferecendo”, completa. A autora defende que o quanto um livro vende “não significa que é bom ou ruim”, mas identifica que a união de altas vendas com a repercussão nas redes “pode fazer a diferença para um autor”.
E a diferença é visível na própria vida da norte-americana. Desde que “Melhor do que nos filmes” foi lançado, a obra já teve cinco capítulos extras divulgados em uma nova publicação, “Wes e Liz na estrada”. A autora também teve a presença confirmada na Bienal do Livro do Rio de Janeiro de 2023, além de estar trabalhando em uma sequência oficial para a trama.
“Por anos, disse que nunca escreveria uma continuação. Porque para escrever um livro, tem que haver conflito. E gosto de onde Wes e Liz [protagonista] chegaram. À medida que as pessoas me diziam se eu tinha certeza de que deveria [escrever uma sequência], isso veio à tona”, compartilha sobre o novo livro, que já está em fase de finalização.
Painter explica que teve uma ideia de adicionar conflito sem polemizar a trama de romance com uma traição, por exemplo. Continuar trabalhando com clichês também foi algo mencionado no processo de escrita da novidade, que contará com as várias referências de cultura pop e comédias românticas, assim como a trama original.
“Acho que todos os clichês são relacionáveis e fáceis de gostar porque é o que todos esperamos. Amo clichês do tipo de inimigos a amantes, quando tem apenas uma cama, ou namoro falso. Mas, na realidade, quantas vezes no mundo real alguém namorou de mentira? É tão raro. Mas nós adoramos isso. Ou pelo menos amo”, comenta.
Lynn Painter também vê o uso dos clichês como uma ótima estratégia técnica de “forçar os personagens a interagir”. “Clichês são divertidos e gostaríamos de viver isso. No mundo real, quando você está apaixonada por um cara, não seria ótimo na vida real ter que fingir ser namorado e namorada? Ter que praticar muito o beijo. O quão maravilhoso isso seria? Cortar toda a realidade”, diz, entre risadas.
“Mas também no mundo real, se há um cara que você não gosta, é porque você não gosta dele e é isso. Não há vezes em que você fica tipo, 'Eu o odeio, mas uau, ele é gostoso?'. Então [os clichês] são nossas fantasias. É divertido, são as coisas que sonhamos acordados. Comédias românticas são como um escapismo, porque você consegue ver isso realmente acontecer”, complementa.
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