Cerca de 70 mil pessoas foram recebidas na vigésima edição do João Rock, no sábado (3), em Ribeirão Preto. Entre o calor surreal, o pôr do sol "instagramável" e o frio que dominou a noite, mais de 30 atrações se apresentaram nos quatro palcos montados na cidade do interior de São Paulo.
Com um público repleto de casais apaixonados, o festival foi marcado por espectadores com diferentes estratégias para enfrentar o dia de shows, poucas homenagens para Rita Lee e perrengues durante as apresentações.
Estratégias e casais
As irmãs Muriel e Morine Silva, de Itapecerica da Serra, participaram da edição de 2022 e aplicaram os aprendizados para curtir o João Rock até o fim neste ano. Após saírem “sem voz nenhuma de tanto gritar” no show do CPM 22, as duas queriam repetir a vivência com mais tranquilidade e, por isso, trouxeram um sofá inflável para descansar entre as apresentações aguardadas, como do grupo citado, Ira! e Pitty.
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“Ano passado foram 12 horas de shows, pulando direto. No penúltimo show, a gente já não aguentava mais ficar de pé, foi muito desgastante e ficamos muito cansadas. Esse ano queremos aproveitar tudo até o final, então o 'sofazinho' está aqui para ajudar”, contou Morine, enquanto Muriel celebrou a oportunidade de reviver a “nostalgia” e assistir ao vivo bandas que ouvia com a irmã desde a adolescência.
Já um grupo de amigas de Poços de Caldas, Minas Gerais, chegou cedo no evento e repetiu uma estratégia recorrente entre o público, colocando cangas entre as poucas sombras do local. Tati Naila fez um cronograma para acompanhar os artistas de destaque da MPB o que motivou a ida delas ao festival. “São clássicos da música brasileira, como Tom Zé e Gilberto Gil, e não temos muita oportunidade de assistir na nossa região”, pontuou.
“A música tem um poder transformador que renova e reseta a alma. Ver a música ao vivo não é a mesma coisa que ouvir no Spotify. Ver o que o cantor tem a dizer e a energia da banda é demais. Estando com as amigas é melhor ainda”, comentou a musicista Letícia Ferreira.
Além de empolgar amigos com clássicos da MPB, o show de Gilberto Gil escancarou uma recorrência no festival: os casais estavam entre a maioria do público. Apenas durante a apresentação de “Esperando na Janela”, por exemplo, era visível sete casais dançando agarradinhos e trocando carinhos ao redor de uma árvore com visão ao palco Brasil.
Os pombinhos circulavam em grande quantidade tirando selfies à frente de lambe-lambes e fazendo declarações com trilhas sonoras ao vivo. Gabriel Santos, de Mauá, e Leonardo Zeferino, de Rio Grande da Serra, escolheram o palco principal como fundo de fotos dos anéis de namoro, para registrar o primeiro festival que curtiram juntos como casal.
“Costumo ir em mais shows, mas agora estou trazendo este rapaz para o mundo dos festivais. Está sendo algo novo para a gente, mas está valendo super a experiência, porque gostamos de MPB. Acho muito importante o João Rock continuar acontecendo, em um mundo em que temos Lollapalooza e Rock in Rio, que valorizam muito a cultura do exterior. Aqui temos o oposto, valorizam nossa cultura”, avaliou Gabriel.
Perrengues
Os carinhos de casais também permearam a apresentação de Ana Carolina, principalmente ao som de “Quem de Nós Dois”. No entanto, o show em homenagem para Cássia Eller não teve apenas o clima de romance no ar, já que a cantora enfrentou problemas técnicos com o som e fez diversas reclamações ao longo da performance.
"Levanta essa p*rra” e "está uma m*rda" foram frases que a cantora disse ao expor o incômodo com os erros, que impediram a artista de receber o retorno musical no aparelho do ouvido. Apesar dos perrengues, Ana Carolina realizou o show completo e empolgou o público ao cantar sucessos de Cássia como "Malandragem" e "O Segundo Sol".
Um dos maiores perrengues relatados pelos espectadores foi a locomoção dentro do Parque Permanente de Exposições, que recebeu o João Rock. Em um clima de estação de metrô da Sé às 17h, tentar circular entre os vários shows não era uma tarefa fácil e exigia paciência para atravessar multidões que se aglomeravam entre os palcos.
Pessoas reclamaram que a estrutura do local não tinha se adequado ao aumento do público, expressando dificuldade de encontrar banheiros disponíveis e se deparando com longas filas na circulação entre os ambientes dedicados à alimentação. Enfrentar as aglomerações também exigia agilidade para não tropeçar em muitas garrafas e latas espalhadas pelo chão. Além de frequentadores que jogaram resíduos no chão, as latas de lixo não deram conta e estavam transbordando ao fim do dia.
Rita Lee
Entre as reclamações ao longo dos shows, a plateia questionou a ausência de homenagens para Rita Lee, que morreu em 8 de maio. Poucos artistas abriram mão do tempo de palco para prestigiar a rainha do rock brasileiro, em um evento dedicado ao gênero musical.
Pitty emocionou o público ao mudar a setlist da turnê dos 20 anos do álbum “Admirável Chip Novo”, deixando o palco após ser ovacionada em um cover de “Ovelha Negra”. A cantora pediu “um minuto de barulho” para a multidão, esperando que Rita “ouvisse lá de cima” a comoção dos fãs.
Manu Gavassi estava com a homenagem programada para o evento, já que realizou o show da turnê que já fazia antes da morte de Lee. Durante o show em homenagem ao álbum “Fruto Proibido”, a cantora se emocionou ao falar do legado de Rita.
"Essa homenagem do fruto proibido já era muito especial, já nasceu muito especial. Ele foi composto por uma mulher nos anos 70, o que já é inédito. E não qualquer mulher, Rita Lee. Esse show é para celebrar Rita Lee, as musicistas brasileiras, afirmou, segurando as lágrimas antes de se apresentar com uma banda feminina.
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