“Advogado do Diabo” estreou nos cinemas em 1997 como um filme que se tornaria o início de uma grande carreira para Charlize Theron. Com uma experiência pequena como atriz na época, a sul-africana decidiu trabalhar com Ivana Chubbuck para se preparar para o teste do papel que transformaria a trajetória dela. Mais de 20 anos depois, a professora de grandes atores de Hollywood conta como o esforço da profissional para o longa é um fator essencial para atores que desejam se tornar memoráveis.
“Eles são grandes atores por uma razão. Eles são especiais, correm riscos, todos têm uma ética de trabalho muito forte e sempre continuam aprendendo”, afirmou Ivana, que tem experiências profissionais com nomes como Halle Berry, Beyoncé, Brad Pitt, Anne Hathaway, Jake Gyllenhaal, Jim Carrey, Pamela Anderson, Sylvester Stallone, Jared Leto, entre outros.
A preparadora de elenco chega ao Rio de Janeiro em 1º e 2 de junho, no Teatro Cesgranrio, para oferecer uma Masterclass da "Técnica Chubbuck" a atores, diretores e roteiristas. Em entrevista exclusiva ao iG Gente, a professora relembra o trabalho com Theron e as origens do método que dominou o universo da atuação.
De Charlize Theron a Agatha Moreira
“Charlize Theron costumava vir até mim, fosse para uma audição ou um papel que estava interpretando, e trabalhava por horas usando minha técnica [...] Ela era uma artista constante, que estava sempre querendo mudar os detalhes e trabalhar em cima deles. Era tão inspirador”, relata Chubbuck, que segue compartilhando como os bastidores do teste para “Advogado do Diabo” foi um desafio para as duas.
“Quando fizemos a audição, ela havia feito apenas um personagem em um filme muito pequeno antes, então, era uma grande oportunidade. [...] Nós realmente ‘quebramos’ esse personagem, tivemos que se afeiçoar com ele, até com a parte física. Em uma cena em que ela volta para casa e vê o marido, nós duas tivemos a ideia de que ela ia tirar o suéter - ela estava com um sutiã, não estava nua -, e meio que brincar com isso, como se fosse stripper, para o fazer rir. Isso não estava no roteiro, mas dissemos que é isso que os casais fazem, eles fazem o outro rir”, conta.
Enquanto participava das audições, Ivana pontuou que os executivos questionaram se Charlize seria a escolha certa para o papel, já que ela era “muito jovem, muito bonita, não tinha crédito suficiente”. No entanto, a dedicação de Theron ao papel fez com que os diretores “não conseguissem tirar os testes de suas cabeças”, resultando na escalação para o projeto.
“Charlize era o tipo de pessoa que estava começando um filme e me ligava três semanas depois dizendo: 'Me dê uma cena para eu trabalhar entre meus projetos'. Ela estava sempre trabalhando em dobro. Esse é o tipo de pessoa que faz sucesso e é realmente famosa”, completa a professora, que recentemente trabalhou com a brasileira Agatha Moreira.
“Me sinto sortuda e honrada por pessoas de todo o mundo me deixarem entrar em seus corações. Falei com a Agatha recentemente e disse: 'Como você se sente com a sua experiência?'. E ela olhou para mim e disse: 'Oh meu Deus, eu cresci tanto e aprendi tanto'. Ela não aprendeu apenas sobre ser uma atriz, mas sobre ser quem ela é, e como ela se encaixa no mundo de uma forma que vai ajudar o mundo a crescer e ser um lugar melhor para se viver. Seja através da TV, teatro ou filmes”, aponta.
A Técnica Chubbuck
Mas como Theron, Moreira e tantos outros foram impactados pelos ensinamentos de Ivana Chubbuck? A professora nascida em Detroit explica que criou a técnica enquanto tentava começar uma carreira como atriz em Los Angeles, local que “todos querem tirar vantagem” de jovens atores. “Estava determinada a dizer que não iria deixar esta cidade me bater. Eu não seria uma daquelas pessoas que corriam de volta para casa”, diz.
“Queria ser atriz e trabalhava com técnicas de outras pessoas, que eram sempre sobre pegar a dor e sentar nela. E então eu disse: ‘Vamos fazer alguma coisa com essa dor e ser proativos em uma jornada de crescimento’”, relata a profissional, afirmando que começou a se destacar nas classes por trazer os sentimentos de uma maneira diferente, mais “real e honesta”.
“Eu comecei a ajudar outros atores quando estavam trabalhando usando apenas meu processo de pensamento, não pensei em uma técnica nessa época. Eles melhoraram e eu comecei a cobrar”, explica Chubbuck, que atualmente é dona do best-seller internacional “O poder do ator”, já traduzido em mais de 20 idiomas.
“A técnica é baseada em encontrar sua dor, drama, inseguranças e medos, e dizer: ‘Eu não vou vencer apesar de todas essas coisas, mas por causa de todas essas coisas’. A dor é um combustível muito poderoso para superar, mas é uma escolha. Você faz uma escolha para superar sua dor ou você pode fazer uma escolha para se autodestruir e sabotar com sua dor”, expõe.
“Acho que as pessoas têm praticamente as mesmas necessidades em todo o mundo, todos nós temos os mesmos problemas, medos, paranoia e inseguranças [...] O que eu faço é me aprofundar em quem você é como ser humano e usar as bases da psicologia, da ciência comportamental e da antropologia cultural que me ajudaram a entender como as pessoas operam”, complementa.
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Ivana também conta como a técnica se aplica não só para atores, já que incentiva as pessoas a lidarem com emoções de uma maneira importante para a sociedade. “No trabalho da técnica Chubbuck é o de fazer uma escolha com um movimento positivo, de modo que permita acessar o personagem e consequentemente sua própria vida pessoal [...] Em muitos países, meu livro está sendo usado como um livro de autoajuda, porque é uma maneira muito boa de ver a vida. Coisas ruins acontecem, mas o que eu aprendo com isso? Como posso crescer com isso? Como posso encontrar uma solução através disso?”, diz.
Para a Masterclass no Brasil, a professora ainda explica que preparou materiais para os alunos explorarem sentimentos “não só como atores, mas como seres humanos”. “Forneço cenas que vamos trabalhar utilizando a técnica Chubbuck e promovo, através da análise de roteiro e do crescimento como ator, o crescimento como ser humano”, analisa.
“É realmente emocionante, porque não é apenas o crescimento deles, é o crescimento de todo o estúdio. Todo mundo que vai estar naquela sala vai encontrar explorações, catarse, revelações. Vão crescer, ter mais sucesso e ter uma vida mais feliz [...] É muito gratificante que depois que eu falecer, como todos nós iremos em algum momento, eu sei que vou deixar para trás um jeito de ser, de trabalhar como ator, escritor e diretor, mas também um jeito de ser como pessoa”, completa.
A Masterclass é uma idealização e realização da atriz e produtora Mel Rócha, via I Want Produções e Gamma Filmes, em parceria com a mentora oficial da Ivana Chubbuck no Brasil, Marina Rigueira.
“Já trabalhei com muitos brasileiros e penso que há muita paixão neles. É muito bom ter uma paixão regular pelas artes, não importa o que as artes são, se você é dançarino ou cantor, seja o que for. Para ter esse tipo de paixão, é mais fácil brincar. E eu acho que vai ser uma montanha-russa divertida”, conclui ao falar da aula.
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