Da menina Ágatha a Moïse, Vigário Geral relembra mortos pela violência
"A alegria do pobre é só na Sapucaí, porque na vida real é isso que estamos vendo", criticou a atriz Neusa Borges, que acompanhou a passagem da escola
Sexta escola a desfilar no segundo dia dedicado à Série Ouro, espécie de segunda divisão do carnaval carioca, a Acadêmicos de Vigário Geral passou pela Avenida relembrando vários casos de mortos pela violência, sobretudo no Rio. Com um enredo sobre a Pequena África, localizada na região central da capital fluminense e porta de entrada para escravizados trazidos da África, a escola enumerou vítimas negras de operações policiais ou outros episódios de brutalidade.
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No momento final da apresentação, os dançarinos da comissão de frente revelavam placas com referências a esses episódios, em meio à expressão "vidas negras importam", popularizada por conta do movimento "Black lives matter". Entre esses casos, estavam, por exemplo, o do congolês Moïse Kabagambe, de 21 anos, espancado até a morte em um quiosque da Barra da Tijuca, e o da menina Ágatha Felix, atingida por um tiro de fuzil aos 8 anos durante uma operação policial no Complexo do Alemão.
Também foram lembrados Cauã da Silva, baleado fatalmente em Cordovil há apenas duas semanas, e Cláudia Ferreira, arrastada por cerca de 300 metros por uma viatura da PM em 2014. Um dos episódio fora do Rio citados pela escola foi o de Moa do Katendê, mestre de capoeira morto em Salvador em 2018, após uma discussão sobre política.
"Queremos mostrar a valorização do negros. Mas também questionar: será que mudou tanta coisa? Apesar das conquistas, será que não é preciso evoluir ainda mais? No último carro, colocamos policias militares para mostrar que as operações policiais só acontecem na favela. Você não vê a polícia metendo o pé na porta de morador da Zona Sul", criticou Marcus do Val, um dos carnavalescos da agremiação.
O carro citado por Marcus representava uma favela e também trazia várias referências à violência policial nas comunidades. Além de integrantes representando policiais, havia até mesmo um componente soltando pipa sobre a alegoria, que acabou emperrando em frente ao setor três, abrindo um buraco em frente a uma das cabines dos jurados.
"Voltar para a Sapucaí e ver esse desfile é como se eu estivesse vendo no grupo especial. A alegria do pobre é só na Sapucaí, porque na vida real é isso que estamos vendo no desfile da Vigário. Nós, negros, somos massacrados", comentou a atriz Neuza Borges, que de uma frisa acompanhou a passagem da escola.