O escritor Paulo Coelho usou sua conta no Twitter, nesta quinta-feira, 24, para criticar Jotabê Medeiros, autor da nova biografia de Raul Seixas, que sai dia 1 de novembro. “Raul Seixas — Não diga que a canção está perdida” está provocando polêmica por ter resgatado um documento produzido pelo 1º Exército em 1974, que daria a entender que o cantor conversou com os militares apenas um mês antes da prisão do escritor. Muitos interpretaram como uma prova de que Raul teria entregado o amigo aos militares.
Leai também: Caso de Paulo Coelho agita web e ex-BBB sai em defesa do escritor
Diante da repercussão levantada pelas supostas revelações em torno do episódio, Paulo Coelho escreveu: "Começo a ter sérias dúvidas dos documentos que o Jotabê Medeiros me enviou, dizendo e insistindo que Raul tinha me denunciado (emails arquivados) O que se passou entre Raul e eu fica entre nós. Vou deletar o tweet da FSP Acho que o cara quer apenas vender a porra do livro ".
Leia também: “As pessoas não gostam de ouvir as coisas ruins sobre Raul”, diz autor de livro
O autor já havia comentado o caso na quarta-feira, 23. Primeiro escreveu: “Achei que levava segredo para o túmulo”. Depois, afirmou se tratar de uma suspeita que ele mesmo nunca comprovou. Também respondeu a internautas que queriam “cancelar” Raul, e chegou a compartilhar um poema sobre perdão.
O documento citado por Coelho é um relatório do 1º Exército, datado de abril de 1974, cerca de um mês antes da prisão do escritor. Encontrado no Arquivo Público do Rio de Janeiro, o documento dá a entender que Raul teria conversado com os militares e que estes viam o cantor como um caminho para chegar ao escritor.
Em maio daquele ano, Raul pediu a Coelho para acompanhá-lo (“despreocupadamente”, segundo Medeiros) em um depoimento no Dops. A ideia é que ele o ajudasse a esclarecer as circunstâncias das músicas que haviam composto juntos. O escritor também foi chamado para um interrogatório. Os militares o questionaram durante três horas sobre o gibi que havia feito para acompanhar o álbum “Krig-ha, Bandolo!”, de Raul. Depois, foram ao seu apartamento e prenderam sua namorada, Adalgisa Rios, autora das ilustrações da publicação.
Coelho foi liberado no dia seguinte. Mas, antes que pegasse um táxi para casa, foi preso pelas autoridades. Em 2018, em um artigo no “Washington Post”, o escritor relatou ter sido torturado nesse período. Em seu livro, Medeiros lembra que a amizade entre Coelho e Raul, que rendeu canções como “Eu nasci há dez mil anos atrás”, começou a estremecer no ano da prisão. O escritor procurou parcerias com outros cantores.Em seu twitter, Coelho disse que só descobriu o documento por intermédio de Medeiros.
"Acho que o documento trouxe ao Paulo um fato novo que vai ao encontro a uma dúvida que ele sempre teve", diz Jotabê Medeiros, por telefone. "Mas é leviano tirar qualquer conclusão".
O biógrafo vê o documento como inconclusivo, mas acredita que seu livro ficaria “manco” se não o abordasse. "Na época, houve um momento de profundo estremecimento entre os dois artistas", lembra Medeiros. "Se não fosse atrás dessa história não estaria sendo fiel ao público".
Autor de uma biografia de Paulo Coelho (“O mago”, de 2008), Fernando Morais diz que o escritor nunca expôs a ele nenhuma suspeita sobre Raul Seixas
, “nem com o gravador ligado nem sob sigilo”. Morais chama a atenção de que o documento publicado em “Não diga que a canção está perdida” não prova que Raul teria dado um depoimento aos militares em abril de 1974.
Leia também: Paulo Coelho fala sobre suposta delação de Raul Seixas na ditadura
"Não é possível saber, sequer, se ele estava presente quando esse documento foi produzido. Observe que em nenhum momento aparece declarou, revelou, informou. Não se tratava de um interrogatório ou uma tomada de depoimento. Até que surja alguma nova informação, o que esse documento prova é que no dia 22 de abril o trio Raul-Paulo-Gisa entrou no radar do CIEx/DOI-Codi", finalizou o autor sobre o imbróglio com Paulo Coelho .