Jonathan Pryce comentou seu mais novo papel como o papa Francisco. O ator, de 72 anos, interpreta o chefe da Igreja Católica em "Dois Papas" e revelou o quão interessante foi retratá-lo no filme.
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“A coisa interessante sobre interpretar Francisco é que ele não é a figura mais sagrada, ele é um personagem com defeitos com uma história de ser visto como uma figura controversa na Argentina, possivelmente conspirando com a ditadura. Eu acho que, como ator, isso o tornou muito interessante, porque você mostra os dois lados do homem. Acho que se ele fosse apenas totalmente bom não seria tão interessante. Acredito que é por isso que as pessoas se identificam com ele, porque ele parece, sim, ser um homem do povo”, disse Jonathan Pryce em entrevista ao iG durante a 63ª edição do Festival de Cinema de Londres.
Com direção de Fernando Meirelles, o longa-metragem conta a história do então cardeal argentino Jorge Bergoglio (Jonathan Pryce), que, desiludido com o rumo da Igreja Católica, decide pedir sua aposentadoria ao papa Bento XVI (Anthony Hopkins). Passando alguns dias juntos em um verão em Roma, os dois discutem suas diferentes ideologias - reforma x tradição -, além de peculiaridades sobre suas personalidades, gostos e, até mesmo, confessam alguns de seus pecados um ao outro.
“Já interpretei muitos personagens reais no passado. Felizmente, a maioria deles estava morta, mas é uma enorme responsabilidade interpretar Francisco, porque ele é o chefe de uma organização com 1,2 bilhão de seguidores e todo mundo tem um ponto de vista sobre ele. Mas o que acho que fizemos é apresentar uma imagem completa do homem, que é um homem do povo que representa o povo, e quer fazer mudanças na estrutura da igreja e levar as pessoas de volta às igrejas”, acrescentou Pryce sobre os desafios de viver Francisco.
Direção de peso
Apesar de declarar que não sabia muito sobre o Vaticano, Fernando Meirelles também explicou o motivo pelo qual foi atraído pela oportunidade de dirigir o filme.
“Eu sou um grande fã do papa Francisco. Meu interesse foi mais a oportunidade de ir pra Argentina, conhecer de onde ele veio, falar sobre o papa. Esse papa eu acho que, hoje em dia, ele é uma das vozes mais importantes do mundo, porque primeiro ele está falando sobre a conservação do planeta. Ele fala muito da questão social, que a gente está deixando os pobres do mundo de lado e ele tenta incluir. Ele é um cara que, entre poucos, está tentando construir pontes entre religiões, entre culturas, enquanto todo mundo está querendo fazer muros. Tá essa onda agora muito estúpida nesse mundo de nacionalismo, meu país, minhas fronteiras. Esse é o maior erro. A gente é um planeta só. E é uma estupidez, uma idiotice, pensar em nacionalismo. Então o papa Francisco fala em planeta, e não em nações, o que é genial”, disse Meirelles ao iG .
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Segundo o diretor, “Dois Papas” vai transmitir várias mensagens ao público, tanto no nível espiritual quanto pessoal.
“O filme tem uma mensagem no nível pessoal, que é você ouvir o cara que você discorda. É isso que acontece: são dois caras que discordam de tudo e eles têm que ouvir um o outro, então tolerância é uma mensagem. Ele fala sobre essa inclusão social no mundo, é uma mensagem política. E no nível espiritual, ele fala que mesmo quando você se sente desconectado de alguma coisa maior, é uma questão de tempo. Uma hora você se reconecta. Então tem uma mensagem pra quem tem religião, pra quem tem alguma prática espiritual, que é muito legal. Faz parte. Se perder a conexão faz parte”, explicou.
Burburinho do Oscar 2020
Além de contar com atuações espetaculares dos veteranos Jonathan Pryce e Anthony Hopkins, “Dois Papas” foi escrito pelo roteirista Anthony McCarten, que também já escreveu os roteiros de filmes de sucesso como “A Teoria de Tudo”, “O Destino de Uma Nação” e “Bohemian Rhapsody”, consagrados pela Academia no passado.
Comentando o burburinho que a produção tem causado como um dos fortes candidatos a estatuetas no Oscar 2020, McCarten afirmou: “Tentamos não nos envolver nesse jogo nós mesmos, mas se isso acontecesse, seria formidável. No caso seria meu quarto filme consecutivo que recebe uma indicação na categoria de Melhor Filme. Dedos cruzados”.
Enquanto as expectativas aumentam em relação à temporada de premiações, uma coisa é certa. Anthony adoraria trabalhar com Meirelles mais vezes no futuro.
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“Foi maravilhoso trabalhar com ele. Posso fazer isso novamente, por favor? Ele é brilhante. O que amo sobre [o Meirelles] é a sua humanidade. Você consegue ver a maneira como a câmera ama os rostos. Ele ficaria apenas feliz em deslizar a câmera no rosto de alguém. Ele é um humanista, há algo franciscano sobre ele. Ele é o único diretor de cinema que sei que pode deixar a direção amanhã e ir trabalhar em seu jardim felizmente. E ele também quer salvar o planeta. Ele é muito engajado nesse movimento de mudanças climáticas do meio ambiente. Então sou um grande fã e os atores o amam. Ele dá espaço para eles trabalharem e genuinamente os encoraja”, finalizou o roteirista ao iG .
“Dois Papas” estreia na Netflix em 20 de dezembro.
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