Cinco vezes que o Brasil flertou com a censura nas artes nos últimos anos
Cada vez mais a palavra 'censura' tem ganhado o vocabulário das pessoas que acompanham a cena cultural brasileira. Relembre casos emblemáticos
Por iG Gente |
Na última semana, a palavra ‘censura’ foi pautada com maior intensidade na mídia e nas redes sociais, depois que Marcelo Crivella, prefeito do Rio de Janeiro, determinou o recolhimento de exemplares da HQ "Vingadores - A Cruzada das Crianças”, ficção com personagens homossexuais, na Bienal do Rio, afirmando que a obra oferece “conteúdo sexual para menores” e desde então a ação está dando o que falar.
Leia também: "Não podemos nos calar agora", diz autora sobre tentativa de censura na Bienal
Apesar de causar revolta em boa parte da sociedade, o que aconteceu na Bienal do Rio de Janeiro não foi exatamente um fato novo no Brasil recente. Pensando nisso, o iG Gente separou outras cinco vezes que o Brasil flertou com a censura nas artes nos últimos anos; veja:
Leia também: Contra a censura de Crivella na Bienal do Rio, famosos postam beijo gay
Queermuseu
No último semestre de 2017, o Santander Cultural, em Porto Alegre, foi palco da exposição Queermuseu, com cerca de 270 obras de 85 artistas sob temática transversal, abordando assuntos como diversidade sexual e de gênero. A mostra se consagrou como a primeira dedicada ao público LGBT a ocupar um museu de grande porte no País, mas sua exibição não cumpriu o calendário completo e foi fechada um mês antes do previsto.
Em nota, o Santander Cultural justificou a medida tomada, declarando que “algumas das obras da exposição Queermuseu desrespeitavam símbolos, crenças e pessoas, o que não está em linha com a nossa visão de mundo”. Na época, algumas imagens exibidas na mostra foram consideradas ofensivas por grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL).
O assunto ganhou as redes sociais e apesar do apoio de muitos, a mostra ainda foi impedida de ser exibida no Museu de Arte do Rio (MAR), no Rio de Janeiro.
MAM
Em São Paulo, também em setembro de 2017, um episódio semelhante aconteceu no Museu de Arte Moderna (MAM), quando o artista Wagner Schwartz se apresentou nu em uma releitura da obra “Bicho”, de Lygia Clark, e teve seu pé tocado por uma criança que estava com a mãe apreciando a mostra. O contato resultou em ira e protestos em frente ao local, com direito a confusão, além de revolta nas redes e entre os movimentos sociais e políticos de direita, apontando o toque como uma prática de pedofilia e erotização infantil.
Você viu?
O artista e o museu tiveram seus nomes atrelados a insultos e discursos que os apontavam como agressores. Em nota, o MAM declarou que “a sala estava devidamente sinalizada sobre o teor da apresentação, incluindo a nudez artística” e justificou o nudismo de Wagner Schwartz como arte, ressaltando também que a criança estava acompanhada de sua mãe. Vale ressaltar que, segundo a instituição, a apresentação polêmica aconteceu em uma única sessão.
“DNA de Dan”
Em outubro de 2017, o Festival de Dança de Londrina, no Paraná, recebeu a “visita” da Polícia Militar por conta da apresentação “DNA de Dan”, em que o dançarino Maikon Kempinski aparecia nu dentro de uma bolha transparente.
A presença da PM no local foi em razão de uma denúncia por “ato obsceno”. No entanto, embora os membros responsáveis pelo festival tenham sido levados para a delegacia logo após a apresentação, a organização do evento relatou que a ação dos militares foi amistosa e respeitosa, declarando ainda que todos os cuidados para a preservação do público foram tomados. Vale ressaltar que os espectadores prestaram solidariedade ao artista no momento.
Jesus Cristo transexual
Em julho de 2018, a peça “O Evangelho Segundo Jesus Cristo, Rainha do Céu”, em que a figura sagrada era representada pela atriz transexual Renata Carvalho, teve sua exibição censurada pelo prefeito Izaías Régis (PTB) e o Secretário de Cultura do Estado, Marcelino Granja, dois dias após ser anunciada no Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), em Pernambuco.
A ação foi justificada pela Secretaria de Cultura de Pernambuco e pela Fundarpe, responsáveis pelo evento, como um modo de defesa, alegando que “o Festival de Inverno de Garanhuns foi criado para unir e divulgar expressões culturais e não para dividir e estimular a cultura do ódio e do preconceito”. Entretanto, a atriz chegou a declarar que o ato, na verdade, foi transfóbico.
Exposição com charges sobre Bolsonaro
No início deste mês, a mostra "Independência em Risco",com charge crítica à relação entre Bolsonaro e Trump, instalada na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, foi fechada um dia após sua estreia.
Leia também: Organizadores de mostra veem censura em exclusão de filmes anti-Bolsonaro
Para justificar o acontecimento, a vereadora Mônica Leal, responsável pelo recolhimento das obras, declarou que as imagens eram consideradas ofensivas e desrespeitosas ao presidente da República. Em contrapartida, Marcelo Sgarbossa, vereador e promotor do evento, definiu a ação como censura . Vale ressaltar que nesta quinta-feira (12), segundo a Folha , uma liminar determinou que a mostra fosse recolocada prontamente no mesmo local.