O amor pelo palco era tanto que Ilo Krugli pediu que, quando morresse, fosse maquiado de palhaço. O dramaturgo teve o pedido atendido, como todos que estiveram em seu velório — na sede da companhia teatral que criou, a Ventoforte, em São Paulo — puderam perceber.
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Argentino naturalizado brasileiro, o dramaturgo, diretor, cenógrafo, figurinista e bonequeiro era filho de imigrantes judeus poloneses que chegaram à Argentina depois da Primeira Guerra Mundial. Ainda durante a infância, conheceu a paixão do poeta espanhol Federico García Lorca (1898-1936) por teatro de bonecos e teve os primeiros contatos teatrais por meio das criações do poeta argentino Javier Villafañe (1909-1996).
Em 1961, Ilo chegou ao Brasil e, a partir dos anos 1970, passou a encantar plateias com espetáculos infantis como “História de um barquinho”, “História de lenços e ventos” e “As quatro chaves”.
Em uma viagem ao Chile, para ministrar um curso, foi preso durante o golpe militar que derrubou Salvador Allende. Quando voltou ao Brasil, fundou a Ventoforte ( 1974).
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Os espetáculos de Ilo eram conhecidos por tratar o pequeno espectador com muito respeito. As peças apresentavam um caminho bem distante de fórmulas fáceis e conceitos prontos. Por meio deles, as crianças podiam deixar a imaginação fluir.
Considerada um marco no segmento teatral infantil no país, “História de lenços e ventos” (que recebeu o prêmio da Associação de Críticos do Rio de Janeiro), por exemplo, contava a singela história de Azulzinha, um lenço, e seu amigo Papel, um pedaço de jornal.
Em 50 anos de carreira, Ilo formou artistas de dança, música, teatro de bonecos e animação. O dramaturgo morreu ontem aos 88 anos, de infarte, em São Paulo, onde seu corpo foi velado e cremado com a ajuda financeira de amigos.
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"O Brasil perde um dos maiores mestres do imaginário infantil, divisor de águas, transbordou o teatro para as crianças em poesia e formas animadas", diz a diretora Karen Acioly.