A premiada escritora americana Toni Morrison morreu aos 88 anos na última segunda-feira (5), segundo anunciou seu editor, Alfred A. Knopf, numa rede social. A causa da morte ainda não foi informada. Morrison foi a primeira mulher negra a receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1993.

Leia também: Dez livros que vão te ajudar a entender a sociedade em 2019

Toni Morrison
Divulgação
Toni Morrison

Sua obra ficou conhecida pelos relatos contundentes sobre a condição da mulher negra na sociedade americana. Nascida em 1931, em Ohio,  Toni Morrison estreou como romancista em 1970 com "O Olho Mais Azul". Seu romance mais recente, "Deus Ajude Essa Crianç a", foi publicado no Brasil em 2018.

Leia também: Mulheres negras urgem empoderamento feminino e lutam contra racismo pela música

Entre suas obras mais conhecidas estão "Sula" (1973), indicado ao National Book Award, um dos principais prêmios literários dos Estados Unidos; e "Amada" (1987), com o qual ganhou o Prêmio Pulitzer de ficção. A Academia Sueca premiou Morrison por seus romances "caracterizados por força visionária e e teor poético" que são "vida a um aspecto essencial da realidade americana".

No Brasil, a obra de Morrison é publicada pela Companhia das Letras. A editora divulgou uma nota lamentando a perda da autora e lembrou de seu discurso ao receber o Nobel : "Nós morremos. Esse pode ser o significado da vida. Mas nós fazemos linguagem. Essa pode ser a medida de nossas vidas".

Morrison costumava dizer que escreveu "O olho mais azul" porque o livro que ela queria ler ainda não existia. Em 1965, divorciada e com dois meninos para criar, ela começou a esboçar o romance enquanto editava autores negros, como a filósofa Angela Davis. Morrison se levantava de madrugada, antes que seus filhos acordassem para escrever. Ela não contou para ninguém que estava trabalhando em um romance.

"O olho mais azul" conta a história de uma menina negra chamada Pecola que, assim como Morrison, cresceu em Lorain, uma cidadezinha industrial no Meio-Oeste americano, durante a Grande Depressão. Pecola sonhava ter olhos azuis, como os da atriz Shirley Temple.

Segundo John Leonard, crítico literário do jornal The New York Times , "O olho mais azul", antecipou muitas das preocupações literárias de Morrison, como a relação das dores individuais de seus personagens como os contextos históricos em que viviam, o poder rendentor das comunidades e o papel das mulheres na sobreviência dessas comunidades. A prosa melódica e sinuosa de Morrison, às vezes comparada a do colombiano Gabriel García Márquez, descreve a experiência história dos negros americanos. Aliando lirismo e burtalidade, seus livros falam sobre as feridas das escravidão, alcoolismo, estupro, incesto, assassinato e cidadezinhas industrais habitadas por personagens que passam longe do estereótipo do afroamericano.

Ao longo de sua carreira, Morrison conseguiu conciliar elogios da crítica com boas vendas. A apresentadora de TV Oprah Winfrey ajudou os livros de Morrison a frequentar a lista de mais vendidos do New York Times .

Quando estreou seu clube do livro, em 1996, Oprah sugeriu a leitura de "Song of Solomon", romance que Morrison publicara em 1977. Quando indicou "O olho mais azul", em 2000, o livro vendeu 800 mil cópias. Entre 1996 e 2002, Oprah leu quatro romances de Morrison em seu clube o livro e ajudou a apresentar a escritora , que compareceu três vezes a seu programa vespertino, a um público mais amplo. As indicações de Oprah alavancaram mais as vendas dos livros de Morrison do que o Nobel.

Leia também: Mulheres negras: corpo e cor de uma fetichização que reflete no entretenimento

Em 1998, Oprah coproduziu e estrelou uma adaptação cinematográfica de "Amada". O cineasta Jonathan Demme, de "O silêncio dos inocentes", assinou a direção do filme. "Amada" é assombrado pelo fantasma de uma criança morta pela própria mãe que queria salvá-la da escravidão.

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!