Ao dizer na última sexta-feira (02) que pode não extinguir a Ancine , como havia ameaçado outras vezes, o presidente Jair Bolsonaro justificou que o cinema brasileiro “não é apenas Bruna Surfistinha” e que o setor gera muitos empregos.
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Mas qual é a cara do cinema brasileiro , afinal? Que histórias estão sendo contadas com dinheiro do Fundo Setorial do Audiovisual ou com recursos de renúncia fiscal captados com a Lei do Audiovisual? É o que mostra, a seguir, um levantamento realizado pelo GLOBO a partir dos 185 lançamentos do cinema nacional em 2018.
No ano passado, falou-se de tudo um pouco, com interesse particular por histórias sobre famílias (10,8%), relacionamentos (16,2%), violência urbana (5%), biografias de personalidades históricas (10,2%) e música (6%).
Temáticas LGBT estão em apenas 3,2% dos casos, mesmo percentual de filmes dedicados ao esporte. Também houve produções sobre religião (2,1%) e meio ambiente (2,7%).
A prostituição, temática que incomodou o presidente, surge com destaque em apenas dois filmes: “Berenice procura”, sobre uma mulher trans assassinada em Copacabana, e “Canastra suja”, suspense centrado em um pai de família alcoólatra.
Há mais filmes sobre temas religiosos , entre eles a cinebiografia do líder evangélico Edir Macedo, “Nada a perder”, que se tornou a maior bilheteria do país, com 12 milhões de ingressos vendidos; além dos documentários “Híbridos, os espíritos do Brasil” (sobre sincretismo religioso), “A imagem da tolerância” (sobre Nossa Senhora Aparecida) e “O silêncio é uma prece” (sobre o médium João de Deus, celebrado por suas curas, antes do escândalo sobre seus crimes sexuais vir à tona).
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Gêneros e classificação indicativa
Dos 185 filmes lançados em 2018 foram 2 animações, 85 documentários e 98 de ficção. Confira abaixo os gêneros prevalecentes nos filmes de ficção:
Drama - 63%
Comédia- 25%
Thriller/Suspense - 13%
Romance - 10%
Aventura/Ação - 7%
Sci-fi/Fantasia - 7%
Infantil - 5%
**As estatísticas não fecham 100% porque há filmes que se enquadram em mais de um gênero ou temáticas na avaliação do ministério.
Para o levantamento, o jornal GLOBO analisou relatórios do Ministério da Justiça, órgão que determina para qual faixa etária o filme é indicado e aponta os assuntos principais de cada um. Isso se aplica a todo tipo de produção, de campeões de bilheteria a documentários de baixo orçamento.
Entre os filmes nacionais do ano passado, a maioria (47, ou 25%) recebeu classificação indicativa de 12 anos, enquanto 35 (19%) foram liberados para todas as idades. Apenas três filmes, ou 1,6% do total, foram recomendados para maiores de 18 anos: “Tinta bruta” , por conter “sexo explícito”; “O animal sonhado”, por “situação sexual complexa”; e “O animal cordial”, por “apologia e glamourização da violência”, segundo o Ministério.
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Os 185 lançamentos do cinema brasileiro 2018 são recorde desde a Retomada do cinema, há 25 anos.