Comemorando 17 anos de estrada, a edição de 2019 do João Rock mostrou que é possível sim fazer um grande festival totalmente made in Brazil. Dessa vez a programação foi recheada por nomes já tradicionais da música nacional - o que é seu ponto positivo, é também, em paralelo, sua fraqueza para tomar fôlego no futuro.
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Com um line-up consagrado atravessando quase 50 anos de história do nosso País, o João Rock teve como destaques da programação nomes como Alceu Valença, Pitty e Marcelo D2, mas já abrindo também espaço para a nova geração.
Queda de braço de gigantes
Olhando para o mesmo modelo de vender a “experiência” que outros festivais de músicas já renomados por aqui como Lollapalooza e Rock in Rio adotam, o João Rock tem como sacada prestigiar somente produtos nacionais.
A comparação com seus primos nesse cenário é o maior desafio a ser superado. Afinal, é necessário bater de frente com lendas mundiais e atrações internacionalmente quentes para conseguir seu lugar ao sol. Isso requer muita estratégia de curadoria e logística para não fazer feio no fim do dia. Não pela falta de artistas nacionais de qualidade, é claro, mas pelo deslumbramento que bandas de fora causam por aqui. Um spoiler: a fórmula proposta tem dado certo. Mas o caminho ainda é longo.
Sorry, we don’t speak in english...
Em um cenário onde todos estão se rendendo para abrir as portas para convidados de fora, parece ser um ato de resistência valorizar o que é produzido em terras brasilis. Nada daquele português forçado falando um “o-bri-ga-dou brazil” no palco. O que é oferecido é muito mais genuíno do que isso - e a impressão é que os próprios artistas valorizam isso.
Em um dos shows de destaque da noite, o CPM22 elogiou a trajetória do evento e agradeceu por fazer parte dessa história. Remar contra a maré tem dado certo - ponto positivo para quem está por trás do evento.
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O modelo parece ter conquistado o público também. Este ano foram 65 mil pessoas acompanhando o melhor que o bom e velho português tem a oferecer e sem deixar nada a desejar perto dos demais festivais que rolam por aqui que se sustentam na base de artistas internacionais. Não somos e nem deveríamos aceitar que nossa cultura seja coadjuvante no seu berço.
Porém, é preciso ter atenção à viabilidade no longo prazo - quando trabalhamos com artistas já consagrados, o cardápio pode se tornar repetitivo. Houve quem já tenha pontuado isso nos corredores e backstage do evento este ano dizendo que faltava novidade e obras que sejam atuais e relevantes.
Próxima geração
Não que haja qualquer problema em trazer figuras já carimbadas da nossa música . Pelo contrário, são elas que endossam a força de qualquer evento. Mas é preciso ter faro para andar para o lado certo e não cair no comodismo de trazer sempre mais do mesmo.
É uma faca de dois gumes não se render à pressão de internacionalização, porém o que não falta de forma alguma no Brasil são artistas de qualidade para preencher essa necessidade. Este ano já tivemos indícios dessa atenção com o novo: BaianaSystem se apresentou no palco principal no meio de dois nomes de peso - Zeca Baleiro e Alceu Valença.
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É possível manter a identidade e continuar um festival totalmente nacional, mas não sem antes encarar os desafios que esse posicionamento traz. Resta só saber se o público estará aberto a viver a pluralidade da nossa cultura ou se veremos no futuro o João Rock dependendo de nomes estrangeiros.