Comemorando 17 anos de estrada, a edição de 2019 do João Rock mostrou que é possível sim fazer um grande festival totalmente made in Brazil. Dessa vez a programação foi recheada por nomes já tradicionais da música nacional - o que é seu ponto positivo, é também, em paralelo, sua fraqueza para tomar fôlego no futuro.

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Com um line-up consagrado atravessando quase 50 anos de história do nosso País, o João Rock teve como destaques da programação nomes como Alceu Valença, Pitty e Marcelo D2, mas já abrindo também espaço para a nova geração.

Tomada aérea do João Rock 2019
Rafael Cautella
Tomada aérea do João Rock 2019

Queda de braço de gigantes

Olhando para o mesmo modelo de vender a “experiência” que outros festivais de músicas já renomados por aqui como Lollapalooza e Rock in Rio adotam, o João Rock tem como sacada prestigiar somente produtos nacionais.

A comparação com seus primos nesse cenário é o maior desafio a ser superado. Afinal, é necessário bater de frente com lendas mundiais e atrações internacionalmente quentes para conseguir seu lugar ao sol. Isso requer muita estratégia de curadoria e logística para não fazer feio no fim do dia. Não pela falta de artistas nacionais de qualidade, é claro, mas pelo deslumbramento que bandas de fora causam por aqui. Um spoiler: a fórmula proposta tem dado certo. Mas o caminho ainda é longo.

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Rael e Emicida se apresentam no palco principal do João Rock 2019
Divulgação
Rael e Emicida se apresentam no palco principal do João Rock 2019

Em um cenário onde todos estão se rendendo para abrir as portas para convidados de fora, parece ser um ato de resistência valorizar o que é produzido em terras brasilis. Nada daquele português forçado falando um “o-bri-ga-dou brazil” no palco. O que é oferecido é muito mais genuíno do que isso - e a impressão é que os próprios artistas valorizam isso.

Em um dos shows de destaque da noite, o CPM22 elogiou a trajetória do evento e agradeceu por fazer parte dessa história. Remar contra a maré tem dado certo - ponto positivo para quem está por trás do evento.

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O modelo parece ter conquistado o público também. Este ano foram 65 mil pessoas acompanhando o melhor que o bom e velho português tem a oferecer e sem deixar nada a desejar perto dos demais festivais que rolam por aqui que se sustentam na base de artistas internacionais. Não somos e nem deveríamos aceitar que nossa cultura seja coadjuvante no seu berço.

Porém, é preciso ter atenção à viabilidade no longo prazo - quando trabalhamos com artistas já consagrados, o cardápio pode se tornar repetitivo. Houve quem já tenha pontuado isso nos corredores e backstage do evento este ano dizendo que faltava novidade e obras que sejam atuais e relevantes.

Próxima geração

Pitty durante sua apresentação no João Rock 2019
Divulgação
Pitty durante sua apresentação no João Rock 2019

Não que haja qualquer problema em trazer figuras já carimbadas da nossa música . Pelo contrário, são elas que endossam a força de qualquer evento. Mas é preciso ter faro para andar para o lado certo e não cair no comodismo de trazer sempre mais do mesmo.

É uma faca de dois gumes não se render à pressão de internacionalização, porém o que não falta de forma alguma no Brasil são artistas de qualidade para preencher essa necessidade. Este ano já tivemos indícios dessa atenção com o novo: BaianaSystem se apresentou no palco principal no meio de dois nomes de peso - Zeca Baleiro e Alceu Valença.

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É possível manter a identidade e continuar um festival totalmente nacional, mas não sem antes encarar os desafios que esse posicionamento traz. Resta só saber se o público estará aberto a viver a pluralidade da nossa cultura ou se veremos no futuro o João Rock dependendo de nomes estrangeiros.

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