Aconteceu da noite para o dia e 2019 vai deixar isso bem claro. Jordan Peele, um nova-iorquino que completou 40 anos no último mês de fevereiro é hoje a grande referência em matéria de criatividade na cultura pop contemporânea.
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Depois de encantar plateias no mundo todo com “Corra!” (2017), Jordan Peele acaba de se consagrar nas bilheterias com “ Nós ”, que com mais de US$ 70 milhões em caixa se tornou a produção de horror original mais lucrativa em seu primeiro fim de semana, superando a já incrível marca conquistada por “Um Lugar Silencioso” (US$ 50 milhões) em 2018.
A alcunha de novo Hitchcock pegou e Peele parece ter gostado. Ele estreia em 1º de abril a nova versão de “Além da Imaginação” que foi inspirada no programa “Alfred Hichcock Presents (1955-1965). Serão dez episódios que estarão disponíveis nos EUA na plataforma de streaming CBS All Acess. Ainda não há informações sobre a exibição no Brasil.
Peele rapidamente virou uma referência não apenas por fazer tão bem e distintamente terror, mas por ofertar ao público um tipo de entretenimento que não parece mais possível em meio a tanta pasteurização com blockbusters acéfalos e universos compartilhados.
Assim como Christopher Nolan, Peele tornou-se uma grife por fazer produções originais marcadas pela criatividade e por um senso estético peculiar. O fato de ser um realizador negro torna tudo ainda mais extasiante.
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Comediante
Antes de debutar como diretor e ser indicado ao Oscar da categoria por “Corra!”, Peele era conhecido como ator e um que frequentemente aparecia em comédias como “Keanu: Cadê meu Gato?” (2016), “Entrando numa Fria Maior Ainda” (2010) e em séries como “Key and Peele” (2015), um hit entre geeks.
A ideia de virar uma referência tão grande dentro da cultura pop parecia um delírio mesmo quando “Corra!” causou frisson no festival de Sundance em 2017. A Blumhouse, afinal, era conhecida pelos filmes de terror e pelo forte apelo junto ao público jovem. Mas o filme rompeu essa fronteira com sua sátira racial bem urdida e a mescla eficiente de horror e humor.
“Nós” é um filme conceitualmente mais sofisticado, com uma crônica social ainda mais pungente pela abertura que dá a elementos freudianos e yungianos. Peele sabe que colocar uma família negra como protagonista também traz leituras a sua obra cujo título original (US brinca com as iniciais dos Estados Unidos (United States).
Assim como em “Corra!”, o humor surge pontual e precisamente para temperar o horror em “Nós”. É difícil não se render a engenhosa trama do filme e às reverberações que enseja.
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Com “Nós” sob os holofotes no cinema, Jordan Peele chega à TV para mostrar que é o grande nome entre autores originais na contemporaneidade e o é não por dominar tão candidamente os códigos do gênero, mas por ofertar a Hollywood aquilo de que ela mais precisa: originalidade. E com uma baita categoria!