Antes do começo de “Imagem e Palavra”, mais recente filme de Jean-Luc Godard, um letreiro da distribuidora brasileira alerta: “algumas partes deste filme não foram traduzidas por exigência do cineasta”. Logo de partida, o público toma ciência de que o suíço não quer tornar a experiência hermética e dadaísta que se seguirá algo fácil de compreender.
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“ Imagem e Palavra ” dá continuidade a uma fase inflexiva do realizador iniciada com “Filme Socialismo” (2010) e “Adeus à Linguagem” (2014) em que ele relativiza a linguagem e critica o cinema de forma aguda e até mesmo prepotente.
Aqui ele trabalha com imagens disponíveis. Cenas de outros filmes, de reportagens, de vídeos caseiros, desenhos, gravuras, entre outros compõem a matéria-prima do cineasta que revitaliza a percepção de que o montador é o autor definitivo de um filme.
A intervenção de Godard está por toda parte. Ele advoga que a representação constitui um tipo de violência e abraça com alguma esquizofrenia uma obviedade, a de que uma narrativa, pode ser uma imagem, uma cena ou uma pintura, é o olhar de uma pessoa, portanto subjetivo e seletivo. Esse discurso ganha mais musculatura no terceiro ato, quando o cineasta se debruça sobre o mundo árabe, ou melhor, sobre a representação do mundo árabe pelo Ocidente.
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Mais do que um exercício cinéfilo, ou mesmo experimentalismo, o que Godard objetiva aqui é uma crítica. Ao cinema e ao mundo. Há recortes políticos – comentários sobre o comunismo funcionam como um easter egg para quem tem familiaridade com a trajetória do suíço – culturais e sociais, mas a construção filosófica aqui parece importar mais do que qualquer análise pormenorizada das partes.
Todavia, este é um cinema rabugento que parece não ter nenhuma finalidade a não ser a cólera. Sim, pode-se apontar as críticas que Godard enseja, de forma genérica e autoritária, mas não há sensibilidade por parte do autor, ou mesmo disposição em lidar com a complexidade do objeto que resolveu analisar.
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“ Imagem e Palavra ”, portanto, faz com que Jean-Luc Godard pareça mais o esnobe que muitos sempre viram nele do que o realizador arguto e sensitivo que virou sinônimo de arte erudita.