Ian McEwan, o premiado autor britânico, já havia se experimentado no cinema antes. São dele os roteiros de “O Anjo Malvado” (1993), estrelado por um então hypado Macaulay Culkin, e “O Inocente” (1993), este adaptado da própria obra. “Um Ato de Esperança” marca seu retorno à função de roteirista, novamente adaptando o próprio material.
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Dirigido por Richard Eyre, dos contundentes dramas britânicos “Notas Sobre um Escândalo” (2006) e “Íris” (2002), “ Um Ato de Esperança ” mostra uma juíza inglesa às voltas com um difícil e complexo caso que envolve religião, saúde, família e a vida de um adolescente.
Quando vemos Fiona Maye ( Emma Thompson ) pela primeira vez em ação ela está decidindo um caso bastante ruidoso. Ela determina que uma equipe médica pode performar uma cirurgia arriscadíssima em pequenos bebês siameses em que seguramente um deles, o de saúde mais frágil, morrerá. Os pais das crianças eram contra a intervenção.
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Não era uma decisão fácil e como ela brilhantemente sublinha aquele é um “tribunal da lei e não da moral”. O que Ian McEwan objetiva, no entanto, é relativizar essa certeza e oferecer ao público, com os préstimos da excelente composição de Thompson – que há muito tempo não dispunha de um papel tão desafiador-, um vislumbre da complexidade do trabalho de um juiz, bem como um comentário cheio de compaixão sobre suas responsabilidades.
Adam Henry (Fionn Whitehead) é testemunha de Jeová e tem 17 anos e nove meses. Às vésperas de completar 18 anos está internado com um quadro grave de leucemia. A equipe médica precisa realizar uma transfusão de sangue para dar sequência ao tratamento que, só assim, teria chances de recuperação plena ou parcial. Sem a transfusão a morte seria certeira e cruel.
Pais e equipe médica apresentam seus casos e a primeira hora do longa é intrigante e cheia de suspense construído em cima de bons diálogos e ainda melhores argumentos jurídicos. Não havia necessidade nem mesmo de temperar este drama com um conflito pessoal que naturalmente aflige a juíza, mas ele deixa tudo ainda mais à flor da pele.
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Da metade para o fim, no entanto, o filme perde força. É tão compreensível quanto interessante o debate que McEwan visa iluminar, mas seria necessário ser mais pulsante na condução para que o longa não perdesse tração.
De toda forma, por Emma Thompson e pelo recorte inusitado da árdua tarefa de julgar, “ Um Ato de Esperança ” é um filme muito recomendável para quem busca um drama fora do lugar comum.