O Lollapalooza se prepara para sua oitava edição em solo nacional, que acontece em abril em São Paulo. Com três dias de duração e 67 atrações confirmadas, o evento já se estabeleceu no Brasil.
Mas, se antes o Lollapalooza oferecia uma oportunidade de grandes artistas se apresentarem ao lado de nomes menores que se não fosse o festival talvez não viessem para o Brasil, hoje ele tem ares de Rock in Rio e preços do Fyre Festival.
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Quando teve sua primeira edição no Brasil em 2012, ele já tinha acontecido um ano antes com sucesso em outra capital da América do Sul – Santiago, no Chile. Aqui, ele aconteceu nos dias 7 e 8 de abril no Jóquei Clube de São Paulo. Na época existiam duas opções de ingresso: inteira e meia, com cada dia custando R$ 300*.
De lá para cá, algumas coisas mudaram no evento, mostrando que Perry Farrell (criador do original) estava mesmo interessado no Brasil. Depois de dois anos organizado pela Geo Eventos, o Lolla passou os cuidados para a Time For Fun, e a partir daí o festival se tornou mais grandioso – e caro.
Em 2014 o evento se muda para o Autódromo de Interlagos e dobra sua capacidade. Em 2013, no Jóquei, foram 55 mil pessoas por dia, enquanto em 2018, no Autódromo, foram 100 mil. Dobrar o número de pessoas, porém, não é nada comparado aos preços dobrados.
Em 2014, primeiro ano no Autódromo, também marcou a primeira edição que vendeu ingressos por lotes – o primeiro custando R$ 290, o segundo R$ 350. Em 2019, seis anos depois, cada dia custa R$ 800 no primeiro lote, um aumento de 176%. Para quem quer ir aos três dias, o Lolla Pass da edição deste ano já está no segundo lote, custando R$ 1800 (equivalente a quase dois salários mínimos) – um aumento de 233% em cinco anos.
O Glastonbury, um dos mais tradicionais festivais de música do mundo, custará em 2019 R$ 1262,32**, mais R$ 25 de taxa. Esse valor inclui, além das entradas para os três dias, o camping no local. O Coachella, outro grande festival que se tornou um dos queridinhos dos famosos, custará R$ 1651, 65 por três dias de evento.
A situação piora se comparada a “mãe” do Lolla brasileiro, a edição de Chicago. Em 2019, quem quiser aproveitar os quatro dias pagará U$ 340, ou seja, R$ 1309. Mas não precisa ir longe para perceber como o Lollapalooza Brasil aumentou, ao longo dos anos, seu preço além da realidade de seus frequentadores (e do País em geral).
Nos últimos seis anos, os ingressos para a edição chilena tiveram um aumento de 42,86% no valor do ingresso por dia, de 78.400 pesos para 112 mil. Em 2019, a versão chilena terá 114 atrações, 47 a mais que a brasileira, com o ingresso mais barato.
Variantes
O ingresso para eventos no Brasil costuma ter uma variante que a maioria dos países (incluindo os citados acima) não tem: a meia-entrada. A soma do alto número de jovens estudantes com a facilidade de burlar o sistema de meia-entrada no Brasil faz com que esse tipo de ingresso seja o mais vendido. Logo, é possível associar esse aumento a adaptação para o alto número de busca de ingressos, o que por si só já seria agir de má fé.
Mas, em 2018 o evento criou uma nova categoria, a meia-entrada social. Em uma ação conjunta ao Criança Esperança, o Lollapalooza permitiu que qualquer um comprasse ingressos pelo valor de meia-entrada, mediante doação à organização da Globo que ajuda crianças carentes pelo Brasil.
Embora seja uma boa ação, conflita com o benefício da meia-entrada para estudantes. A UNE (União Nacional dos Estudantes), chegou a anunciar que moveria uma ação contra o festival, que acredita que “aumentado o preço de todos os ingressos em cerca de 63% em relação ao ano anterior, (...)do valor da meia seria praticamente o custo da entrada inteira de 2017”. A UNE não respondeu à reportagem se continuou com a ação.
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Mas entre 2017 e 2018 a média de aumento dos valores superou os R$ 200. Mas essas variações só aumentam com o esquema de “lotes”, que também são prática comum fora do Brasil.
Em 2017 os ingressos por dia começaram em R$ 650 e terminaram em R$ 850. Em 2018, eles começaram em R$ 800 e subiram para R$ 990 – todos esses valores dentro da característica de “entrada social” que inclui ainda uma doação de, no mínimo, R$ 30. Ou seja, de uma edição para outra, o aumento chegou a R$ 340.
Mudanças
O curioso é que, desde sua estreia no País, o Lolla manteve a mesma média de atrações por dia, cerca de 22. Os nomes sempre foram grandes – Foo Fighters e Arctic Monkeys tocaram na primeira edição – mas muitos nomes que passaram pelo RiR depois chegaram a São Paulo, como foi o caso do Red Hot Chilli Peppers, que veio ao Brasil duas vezes em sete meses para tocar nos dois festivais.
No Autódromo, o som é melhor, as filas são menores e os espaços são mais amplos, mas os altos e baixos no terreno fazem com que a movimentação pelos palcos seja mais longa e cansativa. Uma água custa em média R$ 6 e a praça destinada aos Food Trucks teve, em 2018, refeições que chegavam a R$ 40.
O Lolla Brasil tem tudo para ter muitos anos de vida. Encontrou uma casa espaçosa e tem uma marca internacional por trás que garante seu apelo. E ele continua bom. Tirando algumas escorregadas, o line-up é cuidadoso em apresentar novidades, misturando com artistas mais renomados e nomes nacionais.
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Antigos transtornos como filas para o banheiro foram bem solucionados ao longo dos anos e a estrutura de fato melhorou. Mas ainda assim é difícil justificar os preços abusivos do Lollapalooza .
*todos os valores são referentes ao preço cheio, sem considerar a meia entrada
**cotação feita em 14/03 com Libra a R$ 5,09 e Dólar a R$ 3,85