“É a primeira vez que faço um personagem que não é objeto de desejo”, comenta Luana Piovani sobre Diana, seu papel em “ O Homem Perfeito ”. O longa que estreia na próxima quinta-feira (27) a traz como uma mulher que tem sucesso como ghost writer, e vive um casamento acomodado com Rodrigo (Marco Luque).
As coisas saem do rumo quando, pressionado, Rodrigo termina a relação e confessa que conheceu outra pessoa, a jovem dançarina Mel (Juliana Paiva). Perdida com a repentina falta de controle da situação, a personagem de Luana Piovani decide inventar o homem perfeito para seduzir a nova namorada do ex na internet.
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Enquanto isso, ela trabalha em um novo livro – uma biografia do roqueiro Caíque Costa ( Sergio Guizé ), que tem péssima fama na mídia e precisa de uma “repaginada” em sua imagem. Caíque só quer saber de beber e ficar com o maior número possível de mulheres, mas acaba ajudando Diana na criação desse homem perfeito enquanto tenta, ele mesmo, se tornar um de certa forma.
O filme faz uma série de analogias com estereótipos atuais, como a menina descoladinha que só usa produtos naturais, o namorado que nunca cresce e passa os dias jogando videogame e o roqueiro com bom coração. Mas, esses estereótipos acabam se tornando o todo dos personagens, que perdem profundidade.
O Homem Perfeito
Para inventar o homem ideal, Diana cria um perfil e começa a interagir com Mel na internet. Através dos gostos dela, vai dando “vida” a este homem chamado Carlos, que a ganha virtualmente, enquanto na realidade ela vai se frustrando com o namorado real. “Esse filme mostra como a nossa vida tem duas realidades: a que a gente está conectado e a gente vive aqui”, comenta Luana.
Não há, no entanto, nenhuma mensagem sobre a importância de viver no presente, ou evitar o uso excessivo de tecnologia. Mas existe a proposta de tratar do feminismo como bandeira já fincada na sociedade atual, algo no qual o filme falha miseravelmente.
Ao mostrar uma mulher fragilizada pelo fim de uma relação de mais de uma década, o filme cai em todos os estereótipos possíveis da mulher traída em busca de vingança, chegando a conclusão que todas as características que Diana admira em si mesma, seu controle, planejamento e determinação, são na verdade os problemas por trás de sua vida pessoal fracassada.
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O filme se perde no debate entre machismo e feminismo e acaba, como comumente acontece nas comédias, colocando uma mulher dita feminista como controladora e chata, enquanto os homens não precisam fazer nada para se tornar bons partidos.
Uma cena dos dois em uma conhecida avenida de São Paulo, enquanto ele dirige de maneira irresponsável e ela se irrita, deixa evidente a falta de propósito no debate como um todo: se ela dirige, tem controle da situação e, portanto se sente confortável, mas com o carro nas mãos de outra pessoa, ela se assusta e se intimida enquanto Caíque só exibe seu comportamento de macho alfa sem sentido.
Desencontros
“Tem uma coisa que eu gosto no filme: todos os personagens estão desencontrados”, comenta o diretor Marcos Baldini sobre as relações que parecem não se encaixar. Diana gosta de Rodrigo, que gosta da Mel, que gosta de Carlos que nem existe, foi criado por Diana. Caíque gosta dele mesmo, mas acaba se aproximando de Diana.
Ao longo do filme, todos parecem deslocados, mas com exceção de Diana que tem um objetivo claro, todos parecem orbitar ao redor de suas ações. Guizé comenta que essa característica foi presente em Luana durante a gravação: “Ela dá o tom do filme e estava liderando mesmo”, comenta o ator.
Para compor Caíque, ele se inspirou em roqueiros clássicos como os Stones, mais especificamente o guitarrista Keith Richards, cuja biografia serviu como referência. Na época da gravação do filme ele tinha acabado de completar as gravações de “Êta Mundo Bom”, onde fez o caipira Cadinho. O sotaque do interior acabou reverberando em Caíque e enfraquecendo sua imagem de “bad boy”.
Luana Piovani adoravelmente chata
Baldini usou como referência para a personagem de Luana, a quem chamou de “adoravelmente chata”, Julianne, papel de Julia Roberts em “O Casamento do Meu Melhor Amigo”. Porém, para o resto do filme, o diretor confessou não ter uma referência específica, o que fica evidente no produto final. O filme aparenta ser chapado e não têm camadas nem grandes orientações estéticas.
“Tentamos fazer algo que a câmera e os movimentos estivessem muito colados na Diana”, comentou Baldini, que contou ainda ter dificuldade em construir uma cena para ser engraçada. O cineasta estreia sua segunda comédia do ano - a primeira foi “ Uma Quase Dupla ”, com Tatá Werneck e Cauã Reymond. Mas, se no primeiro ele tinha referência do terror e o bom timing cômico de Tatá, agora, essas características fizeram falta e contribuíram para um filme genérico.
O tom estabelecido para “O Homem Perfeito”, de acordo com ele, foi o de comédia mais contida. Mas, no fim, o filme fica perdido em algum lugar entre a comédia e o romance, sem ser de fato uma comédia romântica. E é justamente quando deixa a contenção de lado e usa, por exemplo, uma boneca inflável hiper-realista, que o filme ganha personalidade própria.
“O Homem Perfeito” flerta com diálogos afiados, sem realmente torna-los um elemento central na narrativa. A química entre Sergio Guizé e Luana Piovani é boa e, num roteiro melhor construído, talvez rendesse uma boa história. Mas o longa acaba ficando na média e não imprime identidade própria.