Tatá Werneck e Cauã Reymond vêm de carreiras bem distintas, na TV e no cinema. Enquanto o ator tem investido nos dramas cada vez mais densos, Tatá se estabeleceu, principalmente depois do “Lady Night”, como um dos maiores nomes da comédia nacional. Assim, a união do par em “Uma Quase Dupla” parecia intrigante e podia dar muito certo ou muito errado.
O resultado é a primeira opção e os dois se valem da máxima de que os opostos se atraem e se complementam no filme de Marcus Baldini que estreia na quinta-feira (19). “ Uma Quase Dupla ” se passa em Joinlândia, uma cidade fictícia do Rio de Janeiro onde a gentileza e a política da boa vizinhança imperam.
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Nesse cenário, Cauã é Cláudio, o subdelegado claramente despreparado para o cargo, e ainda convivendo à sombra de seu falecido pai. Quando um assassinato acontece na cidade, ele precisa conviver com Keyla (Tatá Werneck), experiente policial que veio do Rio de Janeiro para conduzir a investigação.
O típico filhinho da mamãe (Marlize, numa ótima ponta de Louise Cardoso), Cláudio é incapaz de se impor, seja com Keyla, seja com o delegado Moacir (Ary França) ou até mesmo com conhecidos que o param na rua no meio do trabalho para bater papo.
Cauã mostra certo engessamento na comédia, e funciona melhor quando responde aos impulsos de Tatá do que quando está por conta em cena, mas ainda assim conseguiu achar a leveza necessária para o personagem se contrapor a Keyla.
Já Tatá cresce muito além de seus 1,52 m. Sua presença preenche a tela em cada cena, e é dela que vem a força do filme. Além do timing cômico perfeito e de frases de improviso que arrancam risadas, ela se mostra à vontade até demais como a policial durona e teimosa, que não consegue se conectar de verdade com ninguém.
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Thriller de comédia
Para além da ótima química entre os dois, “Uma Quase Dupla” não usa a comédia como muleta para uma história vazia. Pelo contrário, a trama gira em torno de um assassinato que tem ares de “nonsense”, ao mesmo tempo em que gera momentos de suspense.
Se a dinâmica da dupla lembra “Starsky e Hutch”, o thriller remete a “Seven”, desde a iluminação até a câmera em primeiro plano que desvenda a cena ao mesmo tempo em as personagens. Os dois gêneros são muito bem dosados, criando um conflito entre o riso e o terror.
Os opostos em "Uma Quase Dupla"
Essa dualidade, inclusive, se faz presente em todo o filme. Nos personagens principais, claro, mas também da mistura de gêneros, na trilha sonora que hora emula o suspense, hora expõe Tiago Iorc como o poeta da vizinhança, e até mesmo nos coadjuvantes e possíveis suspeitos, que deixam a constante dúvida sobre sua inocência.
Talvez o filme não funcionasse tão bem sem Tatá, mas ela é generosa o suficiente para compartilhar seu timing com os colegas, e garante que todos tenham seu destaque.
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Mesmo gastando algumas boas piadas no trailer, e com cenas um pouco mais longas do que o necessário, “Uma Quase Dupla” acerta em oferecer uma comédia popular, gênero que agrada as bilheterias brasileiras, enquanto cria algo autoral e substancial, fazendo rir sem cair nas piadas bobas que tanto saturam a comédia na atualidade.