O cinema do norte-americano Wes Anderson é tão peculiar quanto simétrico. Nos temas e na forma. “Ilha dos Cachorros”, seu mais recente longa-metragem, é um exercício de extensão e sensorialidade nesse sentido. Não é a primeira vez que o cineasta trabalha com o stop-motion, mas ele surge mais fluído do que em “O Fantástico Sr. Raposo” (2009).
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“Ilha dos Cachorros” traz a encenação característica de Anderson com o adendo do futurismo japonês, há também uma sociedade distópica e comentários sobre a cultura do medo e cibertecnologia. Há flashbacks em animação 2D e os personagens humanos falam apenas em japonês – em muitos momentos sem qualquer tradução. O hipsterismo de Anderson atinge seu grau máximo em um filme que tenta acomodar sua fascinação pela cultura japonesa, seu senso estético aguçado e uma vontade salutar de soar tão contemporâneo quanto milenar.
Essa convulsão estética esfria um pouco o longa-metragem que conta com um time e tanto de dubladores. Bryan Cranston, Bill Murray, Greta Gerwig, Frances McDormand, Edward Norton, Bob Balaban, Scarlett Johansson, Harvey Keitel e até Yoko Ono são alguns dos vultosos nomes a emprestar suas vozes para os personagens, humanos e caninos, do longa.
Na cidade de Megasaki, o prefeito toma a decisão de banir todos os cães que contraíram a gripe canina e um derivado perigoso do vírus, a febre do focinho. O menino Atari, afilhado do prefeito, se joga na missão de encontrar seu cão na tal ilha do lixão que vira morada dos outrora melhores amigos do homem.
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Humanos robotizados e cães essencialmente humanos marcam a dramaturgia de Anderson aqui. A beleza dos sentimentos e conflitos dos cães, especialmente Chief (Cranston) e Spots (Liev Schreiber), norteia o longa-metragem, ainda que este se resolva de maneira mais cerebral do que emocional.
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“Ilha dos Cachorros” é a estranheza de Anderson no modo fofura , mas sem prescindir do verniz estético que lhe é característico. A se registrar, ainda, sua disposição em viabilizar seu filme como um delicado e impactante haiku.